Tempestades poderosas como os recentes Kiko , Lorena e Erin , que ganharam força rapidamente, podem gerar dúvidas sobre suas naturezas distintas. Ciclones, furacões e tornados, embora relacionados, são fenômenos diferentes, cada um com seu próprio poder de destruição. Conhecer essas diferenças é importante para interpretar alertas meteorológicos e entender os riscos reais que cada uma apresenta.
Tudo começa com o ciclone, termo genérico para designar qualquer sistema de ventos que gira em torno de um centro de baixa pressão, como um redemoinho atmosférico de grande escala. A direção da rotação varia conforme o hemisfério: horária no Sul e anti-horária no Norte.
Há dois tipos principais, os extratropicais, que se formam longe dos trópicos e estão associados a frentes frias, e os tropicais, que surgem sobre oceanos aquecidos.
Furacões
Furacões são ciclones tropicais com ventos sustentados superiores a 119 km/h. Sua intensidade é categorizada pela Escala Saffir-Simpson, que vai de 1 a 5, baseada na velocidade do vento, embora não considere outros impactos, como marés de tempestade ou inundações
- Categoria 1 (119–153 km/h): danos leves, como destruição de estruturas móveis antigas e ferimentos causados por detritos.
- Categoria 2 (154–177 km/h): danos moderados, com possíveis interrupções no fornecimento de água e energia.
- Categoria 3 (178–208 km/h): danos severos, com casas móveis destruídas e serviços essenciais interrompidos por dias ou semanas.
- Categoria 4 (209–251 km/h): danos catastróficos, afetando até mesmo construções sólidas e tornando áreas inabitáveis por semanas.
- Categoria 5 (≥252 km/h): destruição quase total, com danos prolongados que podem deixar regiões inabitáveis por meses.
No centro do furacão encontra-se o " olho ", uma região de calmaria e céu claro, cercada por paredes de nuvens carregadas e ventos intensos.
Esses sistemas dependem de condições específicas para se formar, com temperaturas oceânicas acima de 26°C, baixa variação de vento em altitude e influência da rotação terrestre. O calor e a umidade evaporada do oceano alimentam um ciclo contínuo de intensificação.
Furacões ocorrem principalmente nas bacias tropicais do Atlântico Norte, Pacífico Norte e Oriental, e Oceano Índico. No Pacífico Ocidental, são chamados de tufões, enquanto no Índico, apenas de ciclones.
Um caso excepcional foi o Furacão Catarina, em março de 2004, o primeiro registrado no Atlântico Sul em mais de um século. Originou-se de um ciclone extratropical sobre águas entre 24°C e 26°C e causou impactos significativos no litoral sul e sudeste do Brasil .
Segundo Carlos Nobre, pesquisador do INPE, o evento “ mudou o paradigma sobre furacões no Atlântico Sul ”. Embora ainda seja incerta a recorrência desse tipo de fenômeno na região, o aquecimento dos oceanos pode favorecer a formação de novos sistemas.
Entre os furacões históricos destacam-se Mitch (1998, categoria 5), Gilbert (1988, categoria 5) o mais intenso já registrado no Atlântico; e os furacões de Galveston (1900, categoria 4), Opal (1995, categoria 4) e Roxanne (1995, categoria 3), entre outros.
Tornados
Tornados são vórtices de vento extremamente violentos, formados em tempestades severas, que tocam o solo e causam destruição localizada em minutos. Podem superar 400 km/h, têm diâmetro que varia de dezenas a centenas de metros e percorrem trajetos curtos, geralmente até 1,5 km.
Formam-se em condições de instabilidade atmosférica, frequentemente no final da tarde, quando o ar próximo ao solo está quente e úmido, e o ar em altitude é frio e seco. Surgem de nuvens cumulonimbus e manifestam-se como funis giratórios, muitas vezes visíveis pela poeira e detritos que levantam, ou pelo vapor d’água condensado.
A maioria gira ciclonicamente, de acordo com o hemisfério, embora alguns possam ter rotação anticiclônica. A pressão em seu interior pode cair até 60% abaixo do normal, e a medição direta dos ventos é difícil devido à destruição de equipamentos.
Apesar de sua intensidade pontual, tornados são considerados mais destrutivos que furacões em termos de velocidade do vento, ainda que afetem áreas menores e durem menos tempo.
Os Estados Unidos são o país mais afetado, com cerca de 800 tornados por ano, concentrados no Centro-Oeste durante o verão.
Para classificar tornados, usa-se a Escala de Intensidade Fujita, que avalia tanto a velocidade do vento quanto os danos causados. Um dos exemplos mais extremos foi o tornado de Oklahoma City, classificado como F5.
Entre os tornados mais mortais da história dos EUA estão o Tornado dos Três Estados (1925), que matou aproximadamente 700 pessoas, e os de Natchez (317 mortos), St. Louis (255 mortos) e Tupelo (216 mortos).
Quando se formam sobre a água, os tornados são chamados de trombas d’água e tendem a ser menos intensos e de menor duração.
Compreender a força e a dinâmica desses fenômenos é interessante para entender as mudanças das classificações conforme as tempestades surgem e avançam nos seus estragos, mesmo no Brasil, onde os fenômenos mais devastadores são raros.