Presidente Lula e Emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani.
PR/Ricardo Stuckert
Presidente Lula e Emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou um apelo nesta sexta-feira (1º) durante a COP28 em Dubai , onde destacou a exaustão diante de acordos climáticos não cumpridos e convocou a comunidade internacional a resgatar o multilateralismo como caminho para acelerar a descarbonização da economia. Lula também alertou para a gravidade da crise climática ao mencionar que 2023 já figura como o ano mais quente dos últimos 125 mil anos, evidenciando os efeitos devastadores em biomas nacionais.

"No Norte do Brasil, a Amazônia amarga uma das mais trágicas secas de sua história. No Sul, tempestades e ciclones deixam um rastro inédito de destruição e morte. A ciência e a realidade nos mostram que desta vez a conta chegou antes. O planeta está farto de acordos climáticos não cumpridos, de metas de redução de emissão de carbono negligenciadas. Do auxílio financeiro aos países pobres que não chega. De discursos eloquentes e vazios. Precisamos de atitudes concretas", declarou Lula, diante de cerca de 140 líderes internacionais.

Lula citou o ano de 2009, quando participou da COP15, em Copenhague, e lembrou que "as negociações fracassaram" e exigiram "um grande esforço para recuperar a confiança" até a elaboração do Acordo de Paris, seis anos depois.

Ele completou dizendo que o não cumprimento dos compromissos assumidos naquela ocasião "corroeu a credibilidade do regime" e pôs em dúvida a disposição dos governantes em atingir as metas combinadas.

"Quantos líderes mundiais estão de fato comprometidos em salvar o planeta? Somente no ano passado, o mundo gastou mais de US$ 2 trilhões de dólares em armas. Quantia que poderia ser investida no combate à fome e no enfrentamento da mudança climática. Quantas toneladas de carbono são emitidas pelos mísseis que cruzam o céu e desabam sobre civis inocentes, sobretudo crianças famintas?", questionou Lula, que classificou como "lamentável" a não implementação de acordos como o Protocolo de Kyoto, em 1997. "Os governantes não podem se eximir de suas responsabilidades."

Durante seu pronunciamento, Lula enfatizou o flagelo da humanidade diante de secas, inundações e períodos de calor cada vez mais intensos e frequentes. Contudo, ele fez questão de ressaltar que os impactos da crise climática têm um efeito desproporcionalmente severo sobre os grupos mais vulneráveis da sociedade.

 ""A conta da mudança climática não é a mesma para todos. E chegou primeiro para as populações mais pobres. O 1% mais rico do planeta emite o mesmo volume de carbono que 66% da população mundial. Trabalhadores do campo, que têm suas lavouras de subsistência devastadas pela seca, e já não podem alimentar suas famílias. Moradores das periferias das grandes cidades, que perdem o pouco que têm quando a enchente arrasta tudo: casas, móveis, animais de estimação e filhos. A injustiça que penaliza as gerações mais jovens é apenas uma das faces das desigualdades que nos afligem. Não é possível enfrentar a mudança do clima sem combater as desigualdades", disse.

À plateia da COP28, Lula disse que o Brasil "está disposto a liderar pelo exemplo".

O presidente prometeu zerar o desmatamento da Amazônia até 2030 e fomentar a industrialização verde, agricultura de baixo carbono e a bioeconomia, com impulso às fontes renováveis de energia.

"É hora de enfrentar o debate sobre o ritmo lento da descarbonização do planeta e trabalhar por uma economia menos dependente de combustíveis fósseis. Temos de fazê-lo de forma urgente e justa", destacou.

Fundo climático

Na quinta-feira, a conferência climática da ONU aprovou um fundo destinado a financiar as perdas e danos enfrentados por países vulneráveis às mudanças climáticas. Esta medida positiva tem como objetivo reduzir as tensões entre as nações mais desenvolvidas, que são as maiores emissoras de poluentes responsáveis pelo aquecimento global, e as nações em desenvolvimento, que sofrem fortes impactos devido aos fenômenos climáticos extremos.

A decisão histórica, alcançada já no primeiro dia da conferência, recebeu aplausos dos delegados dos quase 200 países participantes do evento. Este marco concretiza o principal resultado da COP27, realizada em 2022 no Egito, na qual foi aprovado o princípio de criação do fundo, mas sem definir seus detalhes. O tema ganhou maior relevância no ano passado, após os custos dos eventos climáticos extremos ultrapassarem a marca de US$ 220 bilhões (R$ 1 trilhão), atendendo a uma demanda de mais de três décadas por parte das nações vulneráveis.

"Felicito as partes por esta decisão histórica. É um sinal positivo para o mundo e para o nosso trabalho", declarou o emiradense Sultan Al Jaber, presidente da COP28, que começou nesta quinta-feira e termina em 12 de dezembro. "Escrevemos hoje uma página da história. A rapidez com que o fizemos não tem precedentes."

O país anfitrião, Emirados Árabes Unidos, reconhecido por sua produção significativa de hidrocarbonetos, imediatamente anunciou uma contribuição de US$ 100 milhões (R$ 489,2 milhões) para o fundo. Outras nações também se comprometeram a fornecer recursos: a Alemanha prometeu US$ 100 milhões (R$ 489,2 milhões); o Reino Unido anunciou um montante de 40 milhões de libras (R$ 248,8 milhões) destinados ao fundo e mais 20 milhões (R$ 124,4 milhões) para outras iniciativas; o Japão comprometeu-se com US$ 10 milhões (R$ 49,2 milhões); e os Estados Unidos, com US$ 17,5 milhões (R$ 86,2 milhões).

Ao todo, o fundo soma R$ US$ 278 milhões (R$ 1,3 bilhão) sem contar o adicional britânico de 20 milhões de libras, que elevam a quantia para US$ 302,5 milhões (R$ 1,4 bilhão).


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