Gleisi Hoffmann discursando em ato de memória a Marcelo Arruda
Reprodução/ Instagram 17.07.2022
Gleisi Hoffmann discursando em ato de memória a Marcelo Arruda

Com muitas críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), e em repúdio à violência política, o PT, ao lado de familiares e amigos de Marcelo Arruda, realizou, na manhã deste domingo (17), em Foz do Iguaçu, um ato em memória do guarda municipal, assassinado no último final de semana por um apoiador de Bolsonaro.

Nos discursos, houve pedidos por justiça e paz, e que a investigação considere a "motivação política" do crime, o que foi afastado pela Polícia Civil do Paraná, na conclusão do inquérito policial.

O evento também contou com apresentação musical de povos originários, ato ecumênico e falas de organizações locais de segurança, como o Movimento de Policiais Antifascismo.

Lideranças políticas locais e familiares lembraram da trajetória de Arruda e disseram que darão continuidade à luta de Arruda pela igualdade e liberdade de expressão. Presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffman afirmou que a sociedade não pode "normalizar crimes e assassinatos como esse, sob pena de transformar processo político em um banho de sangue da população brasileira".

"Não foi um caso isolado. Marcelo morreu por acreditar numa ideia, por ter uma posição política. Quem o matou nem o conhecia, não havia outro motivo. Não queria só matar o Marcelo, mas queria exterminar um grupo político", afirmou Gleisi, que lembrou também dos assassinatos de Marielle Franco, de mestre Moa do Katendê, de Antonio Carlos Rodrigues (senhor espancado em Balneário Camboriú em 2019) e de Dom Phillips e Bruno Pereira, além dos ataques durante agenda do deputado Marcelo Freixo, neste sábado (16).

"O ódio não pode ser instrumento da política, se não vira guerra. Mas o ódio tem sido sistematicamente incentivado na nossa sociedade, e tem nome e endereço. O nome de Jair Bolsonaro", afirmou Hoffmann.

A presidente do PT ainda se referiu ao episódio em que Bolsonaro, durante campanha em 2018, disse em um comício sobre "metralhar a petralhada" e, mais recentemente, quando afirmou que "uma granadinha mata todo mundo", durante uma crítica a Lula.

Gleisi reforçou o pedido pela federalização do caso. Durante a semana, o partido foi à Procuradoria Geral da República, mas a primeira resposta foi de que a investigação não seria federalizada.

"As instituições precisam tomam providências. A responsabilização não é só de quem puxou gatilho, mas de quem incentivou e incentiva o tempo inteiro para que os gatilhos sejam puxados", finalizou Gleisi, que acrescentou que o PT entrou com ação no TSE contra vídeos de discurso de ódio: "Incluindo o presidente, pela responsabilidade que ele tem, e como influencia pessoas".

Em seguida, o ex-senador Roberto Requião (PT), pré-candidato ao governo estadual do Paraná clamou por "tolerância política", e fez referência à posição do Papa Francisco, de combate à desigualdade econômica no mundo.

"O ato (assassinato) foi inspirado no comportamento irracional e intolerável do presidente, que estimula violência e influencia de forma clara uma minoria de pessoas", afirmou Requião, que disse que a arma do cidadão será o voto, nas eleições de outubro.

"Vamos varrer a intolerância, o domínio do capital e a subserviência das pessoas ante a concentração de recursos dos muito ricos. Com calma, inteligência e racionalidade, na linha do que diz nosso Papa Francisco", disse. 

Parentes pedem justiça e paz


Advogado da família Arruda, Ian Vargas, foi ao palco para explicar o andamento da investigação do caso. Após a Polícia Civil ter encerrado seu inquérito, na última sexta, com o indiciamento de homicídio qualificado por motivo torpe, o defensor disse que agora aguarda a denúncia do Ministério Público.

"A polícia se nega a dizer que foi situação de intolerância política, e tenta transformar o caso em situação de briga comum. Mas o Ministério Público tem autonomia para dizer que foi um caso de intolerância política", explicou Vargas.

Advogados criminalistas consultados pelo GLOBO, na última sexta-feira, consideraram equivocada a decisão da polícia paranaense de ter descartado a motivação política no crime. Para eles, a conclusão da Polícia minimiza um episódio grave e abre margem para que outras ocorrências ocorram sob o mesmo pretexto.

Irmão de Marcelo, Luiz Donizete Arruda conversou com Jair Bolsonaro por telefone, após o crime. Mesmo não sendo simpatizante do PT, ele discordou da conclusão da polícia e disse que o momento é de condenar "todo ato de violência, de qualquer lado".

"Não é proibido ter posição política. Proibido e inaceitável é agressão ao ser humano. Não é porque ele tinha um lado político diferente do meu, que o amor de família tem que ser diferente. Infelizmente foi um ato político, ele (assassino) só teve a reação porque viu um movimento diferente do dele. Precisamos condenar, para que a gente não tenha outros Marcelos por aí", afirmou.

A viúva de Marcelo, Pâmela Silva, disse que seu companheiro "lutou e defendeu as pessoas que estavam na festa". Um dos filhos de Marcelo, Leonardo Arruda, afirmou que seu objetivo é dar continuidade às lutas que o pai defendia, como "liberdade de expressão e igualdade entre pessoas seja qualquer gênero, religião e opção política", e que, "nossa luta é pela paz, justiça e pelo fim desse ódio".

Após o evento, a Polícia Civil do Paraná divulgou uma nota para explicar que o indiciamento é "o mais severo capaz de ser aplicado ao caso", e que "manifestações políticas estão fora" das suas atribuições. Se condenado, Jorge José Guaranho pode receber até 30 anos de pena.

A polícia afirmou que "não há nenhuma qualificadora específica para motivação política prevista em lei, portanto isto é inaplicável", e que "também não há previsão legal para o enquadramento como “crime político”, visto que a antiga Lei de Segurança Nacional foi pela revogada pela nova Lei de Crimes".

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