Moradores fazem resgate de vizinhos com ajuda de cordas em Jucuruçu, na Bahia
Reprodução/redes sociais
Moradores fazem resgate de vizinhos com ajuda de cordas em Jucuruçu, na Bahia

Com pontes ameaçadas pelas enxurradas e estradas fechadas, cidades do Sul da Bahia, como Nova Alegria, Itamaraju e Jucuruçu, vivem a pior enchente dos últimos 35 anos, sem que o drama dos moradores tenham visibilidade nacional e acesso a recursos humanos e materiais para minimizar os danos da tragédia. Mesmo o governo da Bahia tem dificuldades de informar sobre a real situação nesses municípios. Nova Alegria, por exemplo, estaria com 70% de seu território submersos em água devido a chuvas fortes que caem desde a última terça-feira. Os bombeiros estimam que 70 mil pessoas foram afetadas pelas enchentes, com 3.744 desabrigadas, mas nas redes sociais a população da região, que pede ajuda e doação a artistas e influencers, diante da demora na chegada de ajuda oficial, citam pelo menos 200 mil pessoas atingidas. Até o momento, duas crianças e um adulto da mesma família morreram soterrados.

A fotógrafa Raissa Rangel, de 22 anos, conta que o pesadelo em Itamaraju, uma das áreas mais afetadas pelas chuvas no Sul da Bahia, começou na noite de terça para quarta-feira. Em cerca de cinco horas de muita chuva, trovão e relâmpagos, ela já tinha notícias de que na parte baixa da cidade casas já haviam desmoronado e outras estavam ilhadas. Em Itamaraju, choveu cerca de 527mm nos primeiros 10 dias de dezembro deste ano. Nesse mesmo período de 2020, foram apenas 13mm, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

"Ficamos desesperados, um medo de perder tudo gigante. A minha prima ficou completamente ilhada em Jucuruçu, teve que tirar a família do prédio fazendo um bote com um colchão. Já eu, como moro na parte alta, não vivi isso, mas minhas paredes estão todas molhadas e a gente fica apreensivo com a estrutura da casa", relatou.

De acordo com Raissa, o pai das duas crianças vítimas da enchente tentou suicídio após resgatar a filha dos escombros. Além das duas crianças, na madrugada de quarta-feira o homem também perdeu o cunhado na tragédia. Resgatado por vizinhos, ele agora está em um abrigo para moradores afetados e recebe cuidados nos machucados sofridos no momento em que a casa desmoronou.

"Ele estava na casa na hora, não deu detalhes porque está muito abalado, mas só disse que não queria mais viver porque encontrou a filha nos escombros e carregou nos braços", disse Raissa.

Ainda segundo a fotógrafa, uma idosa que mora na mesma rua da família em luto, que atualmente é considerada de risco pela prefeitura, se recusou a ficar no abrigo e voltou para sua residência. Sozinha, familiares tentam convencê-la a deixar o local. A reportagem tenta localizar os parentes.

Atuando na linha de frente do voluntariado organizado por igrejas e templos de Itamaraju para arrecadar e distribuir doações, a jovem conta que as escolas que acolheram moradores afetados estão completamente cheias. Diariamente, o grupo, composto por mais de 300 pessoas, distribui cerca de 800 marmitas nos abrigos, além de roupas, remédios e produtos de higiene pessoal.

Governo Federal monta força-tarefa

Depois de dizer que aguardava a manifestação de prefeitos da região para montar uma força-tarefa, o presidente Jair Bolsonaro sobrevoou na manhã deste domingo as áreas mais afetadas. Ele foi acompanhado pelos ministros do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, da Cidadania, João Roma, e da Saúde, Marcelo Queiroga.

O governo federal anunciou no sábado que foi montada uma "força-tarefa" de cinco ministérios para atuar nas cidades do sul da Bahia que foram atingidas por fortes chuvas nos últimos dias. Participam as pastas do Desenvolvimento Regional, da Cidadania, Saúde, Defesa e Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Ontem, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), também fazia visitas a cidades da região.

Também foi anunciada pela União a liberação de R$ 5,8 milhões pelo Ministério do Desenvolvimento Regional para as cidades de Eunópolis, Itamaraju, Jucuruçu, Itibuí, Ruy Barbosa, Maragogipe e Itaberaba. Tropas do Exército foram mobilizadas para fazer o resgate e a realocação de pessoas desabrigadas. Além disso, a Caixa Econômica federal anunciou que irá liberar o saque do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) por calamidade nas regiões da Bahia e também de Minas Gerais que foram atingidas pelas enchentes. De acordo com o banco, a população poderá realizar o saque do FGTS de forma digital, sem necessidade de ir a uma agência, por meio do aplicativo FGTS, na opção Saque Digital.

Na sexta-feira, foi decretada situação de emergência em 17 cidades da Bahia e em 31 cidades de Minas. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional, a decisão foi tomada atendendo a pedido dos governos locais e serve para "acelerar as ações federais de resposta".

Na Bahia, voluntários e moradores que se mobilizaram para ajudar vítimas da enchente reclamam da ineficiência do governo estadual no envio de equipamentos até os locais. Segundo eles, as aeronaves disponibilizadas estão paradas por falta de combustível. Procurado, o governo estadual não esclareceu a alegação.

Nas redes sociais, o comediante Whindersson Nunes, o influencer digital Felipe Neto, a ex-BBB Juliette e a cantora Anitta se mobilizam para enviar, principalmente, água potável, comida, colchões e dinheiro para as vítimas. Igrejas da região também têm feito mutirão para garantir a distribuição de alimentos para os desabrigados.

As cidades em situação de emergência são: Anagé, Camacan, Canavieiras, Guaratinga, Ibicuí, Itabela, Itacaré, Itamaraju, Itapetinga, Jiquiriçá, Jucuruçu, Marcionílio de Souza, Mascote, Medeiros Neto, Santanópolis, Teixeira de Freitas e Vereda.

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