Otávio Fakhouri
Reprodução: Redes Sociais
Otávio Fakhouri

Investigado no Inquérito das Fake News no Supremo Tribunal Federal (STF), o empresário Otávio Fakhouri foi convocado para prestar depoimento na CPI da Covid . A comissão apura se Fakhoury, que também é presidente do PTB-SP, seria um dos principais financiadores de uma rede de fake news e de apoio a atos antidemocráticos que pediram, entre outros pontos, os fechamentos do Congresso e do STF, bem como intervenção militar.

A convocação do empresário foi discutida na noite de ontem à noite em reunião do grupo majoritário da CPI.

"Fakhoury é ponta de lança na estrutura criminosa que estamos investigando e que aprofundou o agravamento da pandemia. Há elementos que apontam que ele financiou fake news negacionistas na pandemia", disse ao GLOBO o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

CPI apura ainda se Fakhoury usou uma de suas empresas, para a qual repassou R$ 987 mil, para distribuir verba para incentivo de atos antidemocráticos. Diálogos em posse da CPI da Covid mostram que Fakhoury recebeu pedidos de apoio financeiro para ajudar na logística desses eventos e que acenou de maneira positiva. A comissão também apura se o empresário ajudou a pagar despesas de investigados com advogados.

Como O GLOBO revelou em junho, documentos obtidos pela Polícia Federal no inquérito dos atos antidemocráticos indicam que Fakhoury bancou material de divulgação de campanha de Bolsonaro na campanha à Presidência em 2018, mas sem declarar à Justiça Eleitoral. A PF encontrou no computador do empresário notas fiscais emitidas por duas gráficas sediadas no Nordeste. Segundo os documentos, foram impressos 560 mil itens de propaganda eleitoral para Bolsonaro, como panfletos e adesivos com a foto do candidato e a proposta de governo. Foram cerca de R$ 50 mil.

Na ocasião, Fakhoury confirmou a existência das notas e disse que eles se referem a "despesas de amigos que fazem parte de movimentos sociais". "Por não se tratarem de doação à campanha do candidato, não comuniquei a ele, à coordenação de campanha ou a pessoas próximas a ele sobre esses pagamentos. No mais, reitero que todas as minhas contribuições de campanhas foram declaradas aos órgãos eleitorais competentes".

O empresário repassou R$ 65 mil ao Instituto Conservador Liberal, fundado e liderado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) . O instituto, segundo palavras do parlamentar, foi criado para atuar em um momento de “guerra de ideias e de visão de mundo”. A transferência foi realizada no dia 6 de julho deste ano e detectada pela CPI da Covid, em um levantamento obtido pelo GLOBO.

O Instituto Conservador Liberal foi registrado na Receita Federal em 23 de dezembro de 2019, mas seu anúncio de criação foi feito por Eduardo Bolsonaro em 8 de dezembro do ano passado, durante evento em um restaurante de Brasília. Na ocasião, Eduardo saudou dezenas de convidados presentes — todos sem máscara —, entre ministros e deputados federais. O primeiro a receber o agradecimento de Eduardo durante o discurso, segundo vídeo divulgado na rede social do próprio instituto, foi o “nosso querido Daniel Silveira”, deputado preso em fevereiro por defender o AI-5 e atacar ministros do STF.

De acordo com o registro na Receita Federal, o Instituto Conservador Liberal tem como atividades secundárias descritas o “treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial”, “pesquisas de mercado e opinião pública” e “organização de feiras, congressos, exposições e festas".

Nas redes sociais, entre os tópicos que definem o objetivo do instituto, estão “a restauração da preservação da memória, identidade e cultura do povo brasileiro, em harmonia com os valores tradicionais do Brasil”.

"Nossa união, aqui, tem que corrigir um erro que ocorreu nessa eleição de 2020, que foi a comunicação, a organização", disse Eduardo durante o anúncio de criação do instituto, referindo-se ao mal-sucedido pleito eleitoral, no qual a maioria dos candidatos a prefeito apoiados por Bolsonaro fracassaram nas urnas.

Cerca de um mês após Fakhoury fazer o repasse, o Instituto Conservador Liberal divulgou em suas redes sociais a realização do CPAC, evento que reuniu figuras do campo conservador em 4 de setembro deste ano. No vídeo do anúncio, Eduardo Bolsonaro que o CPAC "não conta com nenhum centavo de dinheiro público".

Procurado, Fakhoury não informou o que motivou o repasse de R$ 65 mil ao instituto de Eduardo Bolsonaro e nem com qual finalidade esse dinheiro foi usado. “Otávio Fakhoury não comenta informações vazadas e tudo o que faz está dentro da legalidade”, declarou por meio de seus assessores. A assessoria de Eduardo Bolsonaro não retornou o contato.

Como mostrou o jornal Valor Econômico, em junho deste ano, o relatório da PF também apontou que, no material apreendido com Otávio Fakhoury, há um contrato de locação entre a Epof Empreendimentos, empresa da qual é dono, e a BR Distribuidora, ex-subsidiária da Petrobras. De acordo com o aditivo, assinado em 2019, o valor do aluguel sofreu um reajuste que chegou a 400%.

No documento, a PF pede que o caso seja aprofundado em uma investigação própria, "considerando os valores repassados".

Segundo a PF, foi encontrado em um dos endereços de Fakhoury um termo aditivo de um contrato de locação de um imóvel na Rua Dr. Edgard Theotonio Santana, na Barra Funda, em São Paulo. O aluguel do imóvel teria seu valor reajustado de R$ 30 mil para R$ 110 mil no período de primeiro de setembro de 2017 a 31 de dezembro de 2018. Já a partir de primeiro de janeiro de 2019, o valor passaria a ser de R$ 150 mil, 400% a mais do que o montante inicial.

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