Weintraub articula candidatura ao governo de SP
Reprodução: iG Minas Gerais
Weintraub articula candidatura ao governo de SP

Dos Estados Unidos, país em que mora desde que, pressionado, anunciou sua saída do cargo de ministro da Educação , Abraham Weintraub tenta viabilizar sua candidatura ao governo de São Paulo fora da influência da família Bolsonaro . Ele negocia com siglas nanicas o controle do diretório estadual paulista para fazer o desembarque de seu grupo.

Entre essas legendas está o PTC (Partido Trabalhista Cristão), rebatizado recentemente de “Agir 36”, que mantém conversas com Weintraub desde março. O principal articulador é Victor Metta , advogado e ex-assessor no Ministério da Educação (MEC). Ele participou da estruturação do PSL em 2018 para a campanha presidencial, e deixou o partido no ano seguinte.

"O fato é que a gente sofreu muito por não ter uma casa. Em 2020, ficou muito em cima da hora, ficou todo mundo espalhado. Agora tem um monte de liderança querendo surgir, e o presidente, como da vez passada, reluta em tomar uma posição", diz Metta.

Uma das condições impostas pelos aliados do ex-ministro a essas legendas é a inclusão de uma cláusula estatutária para impedir a executiva nacional de interferir no diretório de São Paulo. A exigência, no entanto, tem atravancado as conversas. Ao GLOBO, o presidente do PTC de São Paulo, Carlos Roberto de Almeida, diz ter informado a Weintraub que “não tem condições de fazer essa alteração no estatuto”, mas que continua trabalhando para fechar o acordo.

"O medo maior deles é lançar o Weintraub a governador, e a (executiva) nacional vetar. Mas isso não vai acontecer. O que é combinado, é combinado. Mas as portas estão abertas. Eu, particularmente, gostei do projeto deles", afirmou Almeida.

Metta pondera que a intenção da articulação não é “em hipótese alguma divergir, mas servir de apoio” aos planos de Bolsonaro. Para ele, a formação de um partido mais “orgânico” para o bolsonarismo é uma etapa natural do processo de maturação da direita conservadora no Brasil, a que ele define como “adolescente”.

A ideia do grupo de Weintraub é fechar com um partido até setembro ou outubro e fazer um road show pelo interior de São Paulo, apresentando o novo projeto à militância bolsonarista.

Incerteza sobre 2022

Outros partidos se mexem para abrigar candidatos bolsonaristas em 2022. Amigo de Metta, o empresário Otávio Fakhoury assumiu na última quinta-feira o diretório nacional do PTB. Nas mãos de Roberto Jefferson, o partido passa por uma guinada à direita e tem promovido expurgo de quadros de esquerda e de centro. Fakhoury está responsável, segundo ele, por abrir a legenda a “conservadores e liberais ressentidos”, como o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e Filipe Sabará, que foi candidato a prefeito de São Paulo, ambos expulsos do Partido Novo.

"O ideal é a gente ter dois, três partidos conservadores fortes, e no fim eles se coligarem para ganhar. Não tenho vontade de ficar competindo com a legenda que o Weintraub escolher. O PTB vai ser o primeiro a coligar com ela", declarou o empresário.

Um outro articulador sustenta que o risco de Bolsonaro perder a eleição em 2022, identificado pelas pesquisas mais recentes, reforça a urgência da construção de alternativas.

"Nós pensamos em algo para além do ciclo eleitoral. Não sabemos o que vai ocorrer em 2022, então temos que nos preparar para tudo. Digo até que o choque de uma derrota (de Bolsonaro nas eleições), que seria péssimo, impulsionaria muito o movimento no longo prazo", diz Metta.

Aliados de Bolsonaro afirmaram ao GLOBO que críticas de Weintraub a alguns membros do governo federal no último ano irritaram o Planalto. Bolsonaro, então, preferiu cacifar por vontade própria o nome de outro ministro para o posto, Tarcísio Gomes de Freitas, ministro de Infraestrutura.

Nas chamadas “motociatas” — manifestações de motociclistas a favor do presidente — realizadas no Rio e em São Paulo nos últimos meses, o presidente defendeu a candidatura de Tarcísio.

O fraco desempenho de candidatos bolsonaristas nas eleições municipais de 2020 e o naufrágio à vista do Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro tentou colocar de pé após romper com o PSL, contribuíram para a avaliação do grupo de Weintraub de que seria necessária uma casa própria para os conservadores no próximo ano. Metta e seus aliados temem que, dividida em diversos partidos como no último pleito, a direita que apoia Bolsonaro tenha resultados tímidos mais uma vez.

Controlar o próprio partido permitiria a esse grupo, além do mais, driblar a interferência do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) nas candidaturas conservadoras no estado. No ano passado, uma parte dos bolsonaristas criticou o que julgou ser uma falta de articulação do filho do presidente, que centrou esforços como cabo eleitoral de seus ex-assessores, Paulo Chuchu e Sonaira Fernandes, que acabaram eleitos vereadores, em vez de fazer campanha para um número maior de postulantes.

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