Massacre no Jacarezinho: veja qual foi a cronologia da operação da Polícia Civil
Ação da Polícia Civil deixou 27 mortos e teve como alvo uma organização criminosa que atua na comunidade e que seria responsável por homicídios, sequestros e o aliciamento de crianças para atuarem no tráfico local
A operação realizada pela Polícia Civil nesta quinta-feira (6) na favela do Jacarezinho é alvo de uma investigação independente do Ministério Público e de críticas de entidades pelo alto número de mortos. A operação, a mais letal da história do Rio de Janeiro , terminou com 28 mortos — sendo um policial militar. Delegados que participaram e organizaram a operação disseram, em entrevista coletiva, que a ação foi planejada de acordo com os protocolos definidos pelo Superior Tribunal Federal (STF), mas que não comemoram o resultado devido o grande número de mortes.
A operação foi montada após a Justiça determinar a prisão de 21 pessoas acusadas de tráfico de drogas. Dos mandados de prisão, três foram cumpridos e outros três procurados acabaram mortos durante os confrontos. Outros três suspeitos foram presos, totalizado seis detenções durante a ação.
A operação da Polícia Civil no Jacarezinho teve como alvo uma organização criminosa que atua na comunidade e que seria responsável por homicídios, roubos, sequestros de trens da SuperVia e o aliciamento de crianças para atuarem no tráfico local. A ação foi chamada de Exceptis e é coordenada pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).
A cronologia da operação no Jacarezinho
- 5h50 - Cerca de 200 agentes saíram da Cidade da Polícia, que fica a cerca de cem metros do Jacarezinho. Estavam a pé, em quatro blindados e em dois helicópteros.
- Por volta das 6h - Começou o cerco a comunidade por vários pontos, com o apoio da PM. Em várias vias, encontraram barricadas, feitas com trilhos e correntes de ferro, que precisaram ser retiradas para que os blindados passassem.
- 6h10 às 6h47 - trens da Linha 2 do metrô ficaram parados. Muitos passageiros que estavam na linha 2 do metrô sentaram no chão do vagão para se proteger dos tiros. Duas pessoas - o militar da Marinha Rafael M. Silva, de 33 anos, e Humberto Gomes Duarte, de 20 - ficaram feridos na estação de Triagem, depois que um dos disparos atingiu uma janela do trem. Um foi ferido por estilhaços de vidro, e o outro foi atingido de raspão no braço.
- 6h50 - No interior da comunidade, na Rua José Maria Belo, na área conhecida como XV, o delegado Marcos Amim e o inspetor André Leonardo de Mello Frias desceram da viatura para a retirada de barricadas. Houve uma rajada de tiros, e o inspetor foi baleado. O policial chegou a ser levado para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu.
- 7h - A mulher do ajudante de pedreiro Jonas do Carmo dos Santos, 32 anos afirma que ele saiu de casa pouco depois das 7h para jogar o lixo, comprar pão, passaria em uma loja de materiais de construção e, em seguida, faria uma obra na casa onde eles moraram antes de se mudarem.
O barraco seria alugado. No entanto, ele foi morto antes mesmo de chegar na padaria Flor do Jacaré. A família diz que moradores afirmaram que o homem – que usava tornozeleira eletrônica e já havia cumprido três anos de pena – foi alvejado após se assustar e correr. Ele teria pedido ajuda, mas acabou sendo morto. Foi pelo WhatsApp que os parentes teriam recebido imagens de Jonas já morto. A família diz que ele implorou para não morrer. A família não encontrou o equipamento de monitoramento no corpo do rapaz. - 7h30 e 8h - Horário em que ocorreram mais mortes, no Beco da Zélia e no Beco do Caboclo.
- 14h - Enquanto era realizada perícia, houve mais um grande confronto, com duas mortes
- 16h - Fim da operação
Nesta sexta-feira, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou ao procurador-geral da República, Augusto Aras, e ao procurador-geral de Justiça do estado do Rio de Janeiro, Luciano Oliveira Mattos de Souza, um vídeo que mostra a possível execução de uma pessoa.
O vídeo, que circula nas redes sociais, diz que a ação teria sido filmada durante a operação da Polícia Civil na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. Mas, os policiais da filmagem aparecem com um uniforme que não é usado por policiais civis do Rio. O objetivo é que seja feita uma apuração sobre o que ocorreu. Não há informações sobre a autenticidade das imagens. A operação foi a mais letal da história do Rio de Janeiro, com 25 mortos.
Parentes relatam que pessoas mortas durante a operação policial na favela do Jacarezinho (Zona Norte) na última quinta-feira (6) tinham marcas de cortes em seus corpos. As famílias acusam agentes de terem desferido golpes de facadas contra vítimas.
Durante o enterro do policial civil André Leonardo de Mello Frias, de 48 anos, morto após levar um tiro na cabeça durante a operação, o secretário de Polícia Civil Allan Turnowski disse que a ação foi feita com atuação técnica e com maturidade. Turnowski, que saiu sem dar entrevista, disse em seu pronunciamento que os traficantes, nesta quinta-feira, não atiraram para fugir e sim para matar. Ele também revelou que a inteligência da corporação confirmou que 24 mortos eram criminosos.
"Para quem conhece de operação um pouquinho, só um pouquinho, o traficante, o criminoso, quando a gente entra numa comunidade, ele atira para fugir. Ontem(quinta-feira), eles atiravam para guardar posição, atiravam para matar, para confrontar. Eles não correram. O que a Polícia Civil mostrou ontem foi técnica, foi maturidade, foi profissionalismo de mostrar à sociedade que aquele traficante que invadiu a casa de uma moradora, ele é inimigo de toda sociedade. Porque pode invadir sua casa na Zona Sul, na Zona Norte, na Zona Oeste. E a última barreira eram vocês (policiais). E vocês fizeram a missão de vocês. A inteligência já confirmou todos os mortos como traficantes. Dezenove com folhas corridas até agora", disse o secretário.