Três comandantes das Forças Armadas entregaram seus cargos nesta terça-feira (30)
O Antagonista
Três comandantes das Forças Armadas entregaram seus cargos nesta terça-feira (30)

RIO – Após a turbulenta segunda-feira em Brasília, com a alteração no comando de seis importantes pastas de uma única vez, o Ministério da Defesa anunciou nesta terça-feira a troca dos três comandantes das Forças Armadas.  Edson Pujol, do Exército, Ilques Barbosa Junior, da Marinha, e Antonio Carlos Moretti Bermudez, da Aeronáutica, entregaram os cargos, em consequência da demissão de Fernando Azevedo e Silva.

Para o lugar do ex-titular da Defesa, vai o antigo chefe da Casa Civil, Braga Netto, também general. Os nomes dos substitutos dos comandantes das três Forças ainda não são conhecidos. Em seis pontos, entenda toda a cronologia da crise e as consequências da ampla reforma ministerial promovida pelo presidente Jair Bolsonaro.

Por que Bolsonaro demitiu o Ministro da Defesa?

Após uma conversa de cerca de cinco minutos, em que Bolsonaro pediu o cargo, o então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, publicou uma carta sucinta. Ele disse que saía “na certeza da missão cumprida” e destacou que “nesse período, preservou as Forças Armadas como instituições de Estado”, evidenciando que Exército, Marinha e Aeronáutica não estão a serviço dos governos de ocasião.

Nos bastidores, a insatisfação de Bolsonari já vinha crescendo – o presidente julgava que Azevedo e, por consequência, as instituições militares, deveriam dar mais demonstrações de alinhamento à gestão. A tensão atingiu o ápice quando Bolsonaro pediu que o comandante do Exército, Edson Pujol, fosse substituído do cargo. Ao resistir à pressão, Azevedo saiu em defesa de Pujol e preferiu deixar o comando da pasta.

Outro fato que serviu como combustível para as mudanças foi a entrevista concedida nesta segunda-feira pelo general Paulo Sérgio, chefe do Departamento-Geral de Pessoal do Exército, ao jornal “Correio Braziliense”. Na ocasião, ele disse que o Exército já se preparava para a terceira onda da pandemia da Covid-19. Bolsonaro pediu punição ao militar, mas Pujol resistiu e teve o aval do ministro.

Qual foi a reação dos comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica?

Diante do anúncio abrupto de que Azevedo deixaria a Defesa, os três comandantes decidiram entregar os cargos. Após uma reunião na noite de segunda, e outra na manhã desta terça, Braga Netto e Azevedo selaram o destino dos comandantes, tentando um desfecho menos traumático para a crise.

Em vez de um pedido de demissão entendido como uma resistência a Bolsonaro, interlocutores da Defesa alegaram que os cargos foram pedidos pelo novo ministro. A saída simultânea dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica não tem precedentes.

"O Ministério da Defesa (MD) informa que os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica serão substituídos. A decisão foi comunicada em reunião realizada nesta terça-feira (30), com presença do Ministro da Defesa nomeado, Braga Netto, do ex-ministro, Fernando Azevedo, e dos Comandantes das Forças", diz trecho da nota divulgada pelo Ministério da Defesa.

Quais nomes estão cotados para os cargos?

Segundo a colunista Malu Gaspar, os 16 generais de quatro estrelas que formam a instância máxima da força militar discutiram ontem a substituição do comandante do Exército e devem enviar um recado ao presidente de que a instituição não vai aderir a movimentos contra o Supremo Tribunal Federal ou pela decretação de um estado de Defesa.

O mais cotado para assumir o comando do Exército é o general Marco Antônio Freire Gomes, Comandante Militar do Nordeste e ex-secretário-executivo do Gabinete de Segurança Institucional no governo de Michel Temer. Considerado um moderado, ele é o quinto mais antigo da carreira, o que contraria a tradição de que o comandante seja escolhido entre os três mais antigos. Mas o Alto Comando não deve se opor à indicação. Na Marinha, deve assumir o Almirante Almir Garnier, hoje Secretário-Geral do Ministério da Defesa.

Como o governo se posicionou em relação às mudanças?

Em entrevista ao blog da jornalista Andreia Sadi, o vice-presidente, Hamilton Mourão, rechaçou qualquer risco de ruptura institucional e afirmou que “as Forças Armadas vão se pautar pela legalidade, sempre”. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, também afirmou que "nada muda" nas Forças Armadas com a troca dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.

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Como a troca na Defesa impactou nas mudanças em outros ministérios?

O auge da crise de relacionamento entre Jair Bolsonaro e Fernando Azevedo e Silva acabou respingando na Esplanada e deu início a uma reforma ministerial. As trocas atingiram a Secretaria de Governo, Casa Civil e Defesa, que acabaram entrando na dança das cadeiras para a readequação da equipe ministerial de Bolsonaro.

O ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, foi realocado na Defesa. Alinhado a Bolsonaro, o general quatro estrelas assume a pasta com a tarefa de apaziguar as relações. Para ocupar o lugar de Braga Netto na Casa Civil, foi escolhido o general Luiz Eduardo Ramos, que atuará como coordenador das ações do governo e fará o alinhamento dos trabalhos desenvolvidos em outros ministérios.

Esta troca, porém, teve como principal objetivo abrir espaço para que os políticos do Centrão assumam a linha de frente das negociações com o Congresso. Nessa linha, a deputada federal Flávia Arruda passa a comandar a Secretaria de Governo, que antes era de Ramos. Mulher do ex-governador José Roberto Arruda e aliada do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ela será responsável pela relação do governo com deputados e senadores.

O que o Centrão ganhou com a reforma ministerial?

A primeira reforma ministerial em dois anos de governo Bolsonaro cristaliza a aproximação do bloco com o Palácio do Planalto. Flávia Arruda é integrante do PL, comandado por Valdemar Costa Neto, um dos principais líderes do Centrão – a ministra trabalhará a poucos metros de Bolsonaro.

Além disso, Arruda é aliada e afilhada política do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Com o assento na primeira fila, a deputada deverá facilitar as articulações do Executivo com os interesses do Legislativo, visando o andamento da agenda governista, distribuição de cargos e emendas.

Valdemar Costa Neto, que reassumiu a presidência do PL, partido com 40 deputados e três senadores, já se reuniu com Bolsonaro nesta terça-feira para o alinhamento de interesses. O encontro ocorreu no Palácio da Alvorada.

Que outras trocas ocorreram?

Na esteira de seguidos atritos e aumento da pressão do Congresso sobre Bolsonaro, o ministério das Relações Exteriores foi o primeiro afetado. Após uma sessão no Senado, a situação de Ernesto Araújo no comando do Itamaraty se tornou insustentável. Ligado à “ala ideológica” do governo e ao núcleo de familiares do presidente, a condução do chanceler foi alvo de intensas críticas, inclusive no exterior. Quem assume a pasta é o embaixador Carlos França, ex-chefe do Cerimonial do Planalto. O diplomata nunca assumiu uma embaixada, e a falta de experiência é apontada por colegas como um possível obstáculo.

O advogado-geral da União, José Levi, também deixará o governo Jair Bolsonaro. O presidente ficou incomodado, porque o ministro não assinou a ação que o Executivo apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir governadores de adotarem medidas restritivas de circulação durante o agravamento da pandemia da Covid-19. O pedido, apresentado há dez dias, levou a assinatura apenas de Bolsonaro.

Alinhado ao presidente, André Mendonça deixa o Ministério da Justiça e volta para a AGU, cargo que ocupou até abril do ano passado. O ministro é o responsável pelos pedidos de abertura de investigação contra opositores de Bolsonaro com base na Lei de Segurança Nacional. Ele também foi o autor do habeas corpus em favor do então ministro da Educação, Abraham Weintraub, no inquérito sobre fake news no Supremo Tribunal Federal (STF).

Para preencher a vaga na Justiça, Bolsonaro nomeou o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres. Delegado da Polícia Federal, Torres é aliado da bancada da bala e amigo de fiéis escudeiros do presidente, como Jorge Oliveira, que era secretário-geral da Presidência e hoje está no Tribunal de Contas da União (TCU), e o ex-deputado Alberto Fraga, além de cultivar relação pessoal também com dois filhos de Bolsonaro, o senador Flávio (Republicanos-RJ) e o deputado Eduardo (PSL-SP).

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