A delegada Bárbara Lomba Bueno afirmou que as investigações sobre o assassinato do pastor Anderson do Carmo mostram que o crime teve influência da esposa, a deputada federal Flordelis (PSD-RJ). Parte das provas estariam em mensagens trocadas pelos integrantes da família e obtidas pela polícia. As declarações dela, que não atua mais no caso, foram dadas em depoimento ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara nesta terça-feira (30).
"Tudo o que se comprovou que pudesse levar ao cometimento do crime passou por pessoas muito próximas", declarou, sobre o envolvimento dos filhos no crime. "Não tinha como não passar pela deputada e havia realmente o conhecimento sobre tudo que acontecia ali. É importante dizer que houve uma revolta em relação a algumas atitudes do Anderson", afirmou a ex-delegada do caso.
A fala é uma referência ao fato de que Anderson teria se tornado muito poderoso ao longo dos anos e durante o mandato da parlamentar. Acusada de ser a mandante, ela nega. O comitê avalia representação sobre quebra de decoro parlamentar.
De acordo com a ex-delegada do caso, não há relatos diretos sobre o envolvimento de Flordelis, mas a comunicação se dava de forma velada. Parte do conteúdo das mensagens trocadas pela família era cifrado.
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"O símbolo religioso, tudo girava em torno da imagem da deputada e do nome da deputada. Não tem como dizer, não tem como se descartar uma influência da deputada sobre todos. Nós comprovamos que havia menções a ela, o telefone da deputada está envolvido nessas mensagens para matar o Anderson."
Por vezes, o aparelho ficava em posse de outras pessoas, como os filhos, com o consentimento dela, conforme a investigação. Segundo Bárbara, a apuração policial mostra que havia tratamento diferenciado entre filhos, adotivos e biológicos, na família e que havia "interferência intensa nas ações da deputada".
"O núcleo muito próximo à deputada tinha uma revolta contra a vítima em relação à invasão que vítima estava exercendo na própria vida da deputada Flordelis, na vida profissional e até no exercício do mandato."
A delegada esteve à frente do caso de junho de 2019, quando o crime foi cometido, a janeiro de 2020, quando foi substituída por Allan Duarte Lacerda. Questionada pelo relator do processo de quebra de decoro parlamentar, o deputado federal Alexandre Leite (DEM-SP), ela nega ter sofrido ameaças diretas à integridade física durante a investigação e o vazamento de informações sigilosas.
Uma nova oitiva deve ser realizada na próxima para a continuação do depoimento, quando Lacerda também deve ser ouvido. O Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) determinou em fevereiro que Flordelis fosse afastada do mandato, mas a Câmara ainda não se manifestou. Com imunidade parlamentar, a deputada é monitorada por tornozeleira eletrônica desde 8 de outubro de 2020.