A crise na Saúde do estado do Rio de Janeiro ganhou um novo capítulo nesta segunda-feira, dia 22. Fernando Ferry vai entregar o cargo de secretário estadual ao governador Wilzon Witzel nesta tarde, após permanecer um mês e quatro dias na pasta, quando assumiu a secretaria no lugar de Edmar Santos, exonerado em meio às investigações de irregularidades na Saúde.

Marcelo Crivella e Wilson Witzel
Reprodução / Redes sociais
Marcelo Crivella e Wilson Witzel

Mas os problemas que cercam a área começaram junto com a pandemia do novo coronavírus (Sars-coV-2), quando foi deflagrada operações após o Ministério Público Federal apontar para um grande esquema na cúpula do governo do estado envolvendo compras da Secretaria estadual de Saúde. As suspeitas de desvio de dinheiro público vieram a público na primeira quinzena de abril, com a prisão do ex-subsecretário de Saúde Gabriell Neves.

Desde então, vários personagens do suposto esquema de corrupção, investigados em operações distintas, foram presos ou sofreram buscas e apreensão em suas residências e escritórios. Entre eles, o governo do Rio, Wilson Witzel , e a primeira-dama, Helena Witzel. Até o momento, foram três operações: Mercadores do Caos, Placebo e Favorito.

Além disso, no início deste mês, a Assembleia Legislativa do Rio (Allerj) decidiu instaurar processo de impeachment contra Wilson Witzel . Dos 69 deputados votantes, todos foram favoráveis ao início do processo de afastamento. governador Wilson Witzel

Confira a linha do tempo da crise da Saúde do Rio:

  • 4/4/20: O governador Wilson Witzel exonera a médica Mariana Scardua, subsecretária de Gestão da Atenção Integral à Saúde da Secretaria de estado de Saúde, e o chefe de gabinete dela, Luiz Octávio Mendonça, por divergirem da conduta do então subsecretário de Saúde, Gabriell Neves, nas compras sem licitação.
  • 11/4/20: o então subsecretário estadual de Saúde, Gabriell Neves, é afastado do cargo pelo então secretário de Saúde Edmar Santos. Neves era responsável pelos contratos emergenciais, inclusive os que somaram quase R$ 1 bilhão para o combate da Covid-19. Mais de R$ 800 milhões seriam para a OS Iabas, que faria a gestão dos hospitais de campanha do estado. Havia suspeitas de irregularidades que seriam averiguadas por uma auditoria.

  • 7/5/2020: Gabriell é preso na Operação "Mercadores do Caos", conduzida pela Polícia Civil do Rio e o Ministério Público. Ele é suspeito de integrar uma organização criminosa que visava a obter vantagens em contratos emergenciais, sem licitação, para a aquisição de respiradores pulmonares utilizados no tratamento de pacientes graves com Covid-19. Em entrevistas, afirmou que o ex-secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, tinha ciência de todos os contratos. Além dele, foram presos preventivamente Gustavo Borges da Silva, que assumiu a subsecretaria de Saúde após a exnoeração de Neves, e Aurino Batista de Souza Filho. Aurino é dono da 2A2 Comércio Serviços e Representações LTDA, empresa de informática que ganhou contrato para fornecer respiradores para o estado. Outras pessoas, consideradas laranjas, também foram detidas.

  • 13/5/2020: O empresário Maurício Fontoura, controlador da empresa ARC Fontoura, é preso por susposta fraude na venda de respiradores para o governo do estado. A investigação descobriu que ele é o controlador das três empresas que apresentaram propostas ao estado. A ARC Fontoura vendeu 400 aparelhos, mas só entregou 52. Os ventiladores mecânicos, no entanto, não são recomendados para o tratamento da Covid-19. O custo total da compra foi de R$183,5 milhões. O governo já havia pago parte deste valor, mas vai tentar reaver o dinheiro na Justiça. O governo cancelou 44 dos 66 contratos firmados para o combate da pandemia.
  • 1 4/5/2020: O empresário Mário Peixoto, entre outras pessoas, é preso na "Operação Favorito", como parte das investigações da Operação Lava-Jato no Rio de Janeiro. Ele é acusado de chefiar um esquema envolvendo mais de 100 pessoas físicas e jurídicas, de contratos firmados com o governo do Estado a partir de 2012, na gestão do ex-governador Sérgio Cabral. Para manter o esquema em funcionamento, o esquema, segundo as investigações da PF envolveu o pagamento de propinas para conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, deputados, como Paulo Melo, e agentes públicos. Contratos com várias dessas empresas foram renovados já na gestão do governador Wilson Witzel, que assumiu em 2019.

  • 15/5/2020: O governador do Rio, Wilson Witzel, é incluído em um inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ) que investiga um suposto esquema de corrupção na compra, pelo estado, de respiradores destinados ao tratamento de pacientes infectados com o coronavírus. Luiz Roberto Martins Soares, também preso na Operação Favorito, faz supostas citações a Witzel sobre contrato com OS Unir da Saúde, que estava proibida de fazer contratos com o poder público.

  • 17/5/2020 : O governador Wilson Witzel exonera o secretário estadual de Saúde Edmar Santos por causa de "falhas na gestão de infraestrutura dos hospitais de campanha para atender as vítimas da Covid-19" de acordo com o governo. Santos é mantido na comissão de notáveis que auxiliam o estado no enfrentamento do coronavírus.

  • 19/5/2020: Especialista em HIV, Fernando Ferry assume a Secretaria estadual de Saúde, no lugar de Edmar Santos.

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  • 22/5/2020: TCE responsabiliza ex-secretário de Saúde por superfaturamento na compra de respiradores e sugere que Edmar Santos devolva R$ 36 milhões aos cofres públicos por irregularidades na contratação das empresas.

  • 26/05/2020: A "Operaçao Placebo" faz busca e apreensão em vários endereços ligados ao governador Wilson Witzel e à primeira-dama Helena Witzel, incluindo o Palácio Laranjeiras, residência oficial. Levaram celulares e computadores de ambos. Um dos motivos para a deflagração da operação estavam documentos apreendidos na Operação Favorito. Entre os quais um contrato entre o escritório de advocacia de Helena Witzel e a empresa DPAD Serviços Diagnósticos Ltda, que possui como sócio Alessandro de Araújo Duarte, apontado como operador do empresário Mário Peixoto. Witzel nega participação em desvios e acusou o presidente Jair Bolsonaro de usar a PF para perseguição política.

  • 27/05/2020: Deputado Luiz Paulo protocola pedido de impeachment de Witzel na Alerj por haver 'indícios muito robustos' de que o governador está envolvido, 'por ação ou inação', nos desvios investigados pela Polícia Federal. A Justiça suspende nomeação do secretário-extraordinário do Acompanhamento da Covid-19, Edmar Santos, ex-secretário de Saúde.

  • 28/05/2020: TCE suspende pagamentos do governo à OS Iabas, questiona custos de R$ 4,5 milhões mensais em tendas e acusa falta de 'capacidade técnica' da entidade. Hospitais de campanha não têm mais data de inauguração. Só o do Maracanã está em funcionamento desde o fim de abril.

  • 29/05/2020 : Iabas deixa a administração dos seis hospitais de campanha que estavam prometidos para final de abril e início de maio. Mas segue responsável por concluir obras e equipar unidades. Instituto continua responsável pela unidade do Maracanã.

  • 3/6/2020: Iabas é afastado da construção e da gestão dos hospitais de campanha no Rio. Fundação Estadual de Saúde assume as obras e a direção dos espaços. Carrinhos de anestesia comprados no lugar de respiradores foram a gota d'água para saída da entidade.

  • 4/6/2020: Secretário estadual de Saúde, Fernando Ferry, que assumiu o cargo no dia 19/5, critica decisão do governo em construir sete hospitais de campanha: 'super dimensionamento'.

  • 5/6/2020: Governo do Rio pede bloqueio de bens do Iabas na Justiça para ressarcir os cofres públicos. Até o momento, o estado já repassou R$ 256,5 milhões dos R$ 836 milhões previstos em contrato.

  • 8/6/2020: Vem a público que Witzel recebeu R$ 284 mil por parecer de 14 páginas para processo do empresário Mário Peixoto, valor considerado acima do mercado. Dinheiro foi pago pelo escritório do advogado Lucas Tristão, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do estado, em 2018. A petição foi ajuizada pela empresa Atrio Rio, que pertenceu até março à família do empresário Mário Peixoto, para tentar anular uma licitação da Secretaria Estadual de Educação do Rio em 2018.

  • 10/6/2020: Alerj decide instaurar processo de impeachment contra Wilson Witzel. Dos 69 deputados votantes, todos foram favoráveis ao início do processo de afastamento.

  • 18/6/2020: Superintendente de Orçamento da Saúde é preso em mais uma etapa da Operação Mercadores do Caos contra desvio de dinheiro público destinado à compra de respiradores para pacientes com Covid-19 . Carlos Frederico Verçosa Duboc foi contratado na gestão de Edmar Santos na pasta e continuou na equipe do atual secretário, Fernando Ferry .

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