Após a divulgação de uma vídeo pela TV Globo onde aparecem cerca de 15 corpos em sacos plásticos e sobre macas fora das gavetas refrigeradas no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, a Secretaria Municipal de Saúde anunciou que o contêiner frigorífico deve chegar à unidade na próxima segunda-feira, dia 4.
O equipamento, segundo a pasta, foi alugado pelo hospital para ser usado no armazenamento de corpos, até que eles sejam liberados para sepultamento. A prefeitura não informou, no entanto, se os corpos ainda permanecem na área externa de refrigeração do hospital.
A resposta veio de uma funcionária do Salgado Filho. Ela disse que o número de cadáveres só aumentou e está colocando em risco profissionais de saúde.
— O cheiro está insuportável. O necrotério fica próximo ao setor de rouparia, que distribui as roupas, e ao lado do refeitório onde as equipes da Comlurb se alimentam. Ninguém consegue mais comer ali. Além disso, a emergência está lotada de pacientes com suspeita de Covid. Na mesma enfermaria, tem pacientes de Covid e pacientes comuns.
No Hospital Municipal Evandro Freire, na Ilha do Governador, é intenso o movimento de caixões em direção aos carros das funerárias. Segundo a Secretaria municipal de Saúde, o contêiner refrigerado dá suporte ao hospital e à Coordenação de Emergência Regional da Ilha do Governador, e tem capacidade para seis corpos. Já o necrotério nas unidades tem nove gavetas.
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Membro da Comissão de Saúde da Câmara, o vereador Paulo Pinheiro (PSOL), disse que setores dos hospitais devem ser adaptados para comportar os corpos das vítimas de Covid-19:
— Já que o número de óbitos está aumentando, é preciso que se adaptem os setores dos hospitais. Além do aumento de volume de óbitos, há pouca agilidade na retirada de corpos por problemas financeiros. Por isso, é importante a gratuidade andar o mais rápido possível. Outra questão é a dos mortos em casa. Não tem rabecão para ir até a casa das pessoas, ambulâncias não podem fazer esse serviço. É preciso que a Defesa Civil arrume uma solução imediata para retirar esses corpos que acabam contaminando outras pessoas.
Um projeto de lei do vereador Jair da Mendes Gomes (PROS) e que tem coautoria de outros 26 vereadores institui o programa de assistência aos serviços funerários para pessoas de baixa renda vítimas de Covid-19 no município do Rio.
Dentro do programa, estão previstos velório e sepultamento, incluindo transporte funerário, utilização de capela, isenção de taxas fornecimento de caixão mortuário, uma coroa de flores e colocação de placa de identificação. Para ser contemplado pelo programa, a pessoa precisa estar inscrita em auxílios governamentais e programas sociais.
Para a Defensoria Pública do Rio de Janeiro, a prefeitura é quem deve arcar com o sepultamento de vítimas da Covid cujas famílias não têm condições de pagar pleo funeral. Desde o início da pandemia , a defensoria não participa mais do fluxo para conceder a gratuidade. Agora, a análise das condições da família é feita pela própria concessionária.
Só em caso de negativa é que a família procura a defensoria. Em abril, as concessionárias Rio Pax e Reviver, que administram os cemitérios públicos no município do Rio, realizaram, respectivamente, cerca de 80 e 60 sepultamentos gratuitos, segundo Alessandra Nascimento, subcoordenadora de Saúde e Tutela Coletiva da Defensoria.
— A previsão é de que essas concessionárias concedam 10% das suas covas para a gratuidade. Numa pandemia, haverá um número enorme de mortes. Quando chegar na cota dos 10%, quem vai ser responsável pelo excedente? E as pessoas muito miseráveis que não têm condições de pagar pelo sepultamento? Quem tem que assumir essa conta é o município: pensando no aumento dessas cotas pela revisão do contrato de concessão, no pagamento do auxílio funeral ou abrindo um cemitério próprio para vítimas de Covid — afirmou Alessandra.