Associação da Leiloaria Oficial do Brasil lançou um mapeamento de sites falsos para criar uma espécie de lista negra
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Associação da Leiloaria Oficial do Brasil lançou um mapeamento de sites falsos para criar uma espécie de lista negra

O portuário Alison Melo, de 39 anos, acreditava estar fazendo um grande negócio quando, junto a um sócio, adquiriu, por um leilão online, um Hyundai i30 e um Ford Focus por R$ 46 mil. A dupla de Santos (SP) foi atraída pela marca dos automóveis e pelo valor abaixo do mercado, oferecido no site Silveira Leiloeiro. Depois do pagamento, à vista, por boleto, foi que se dirigiram ao local onde os veículos estariam e se viram vítimas de um golpe

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“Pesquisei sobre a empresa na internet e não tinha nada de errado. Tinha até nome de leiloeiro cadastrado. Nos cadastramos e, como não conseguíamos dar os lances, liguei para o número que estava disponível no site, recebemos uma senha e participamos do lance. Recebemos fotos, placa, renavam e chassis. Nós arrematamos os carros e eles enviaram os boletos para o pagamento, que deveria ser feito em 24 horas”, conta Melo ao Portal IG.

Histórias como essa se tornaram tão comuns que a Associação da Leiloaria Oficial do Brasil (Aleibras) lançou um mapeamento de sites falsos para criar uma espécie de lista negra para os usuários. Até o momento, já são mais de 200 endereços cadastrados e disponibilizados para a polícia paulista. 

No caso registrado em Santos, o endereço que constava no site era de uma empresa de reciclagem. Uma funcionária do estabelecimento, que preferiu não ser identificada, confirmou que pelo menos 10 outras pessoas procuraram o endereço anteriormente em 2019 em busca de carros supostamente arrematados. 

Apesar de identificada com nomes de leiloeiros reais, as páginas têm origem a partir da clonagem de informações profissionais. É o que explica o presidente da Associação Brasileira de Leiloeiros Públicos Oficiais Judiciais (Asbralej), Clecio Oliveira de Carvalho, cujo site também foi alvo de estelionatários e envolveu golpes de mais de R$ 300 mil. 

“Colocaram um monte de produtos atrativos com meus dados numa quinta-feira. Durante o final de semana, utilizando tecnologia, consegui bloquear o site dos criminosos. Conseguimos saber onde o dinheiro foi depositado e comunicamos o setor de fraudes do banco. Pelo menos 88 boletos foram identificados e os valores, estornados”, garante. 

Polícia dá dicas para evitar ser vítima

O Mercedes-Benz GLA da imagem acima foi arrebatado por um terço do valor em leilão fraudulento
Reprodução/Elite Leilões
O Mercedes-Benz GLA da imagem acima foi arrebatado por um terço do valor em leilão fraudulento

De acordo com a Polícia Civil, os golpistas agem na Região Metropolitana de São Paulo e hospedam os sites clonados em servidores de outros países para dificultar a identificação de seus proprietários por parte dos agentes. Os criminosos mantêm conversas pelo WhatsApp, enviam termos de arrematação falsos e pedem depósitos em contas correntes criadas por laranjas. 

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“Nesses portais têm fotos, lotes, e orientações para mandar documentos pelo e-mail, onde devem oferecer lances. Só depois dos lances, quando vão buscar o automóvel no endereço marcado, as vítimas descobrem que ali funciona normalmente um galpão vazio ou um prédio público”, explica o delegado titular da Delegacia de Crimes Eletrônicos (4ªDIG/DEIC), Carlos Henrique Ruiz. 

O profissional aconselha formas básicas para que se evite virar vítima desses casos.

Veja com seus próprios olhos
Para evitar cair nos golpes, antes de pagar qualquer valor, visite o pátio onde estariam os veículos oferecidos.

Não é terra de ninguém
A pessoa que recebeu dinheiro na conta e quem criou o site podem pegar até 5 anos de prisão pelo crime de estelionato. Se for uma organização criminosa, a pena aumenta por formação de quadrilha.

Desconfie sempre
O perfil das vítimas é o mesmo: os interessados vão ao buscador do Google e acessam sites aparentemente confiáveis. De lá, acabam acessando os sites clonados.

Segurança x impunidade

Presidente da Aleibras, Vicente Paulo Albuquerque destaca que “é bom esclarecer que não existem fraudes em leilões. Existem falsos leilões em sites clonados”. Pensando nisso a instituição lançou o Selo Leilão Seguro, que serve de verificação para atestar a idoneidade dos leiloeiros. O selo é concebido após a diferenciação de scripts copiados, a partir de características de tecnologia da informação, envolvendo desde os próprios lotes ofertados até as informações disponibilizadas e a diferença de valores praticados no mercado. 

Segundo o técnico de verificação André Neves, a varredura é feita em toda a rede atrás de sites de leilões. “Também checamos se o site disponibiliza informações básicas de qualquer leilão, como edital, leiloeiro responsável, e até mesmo histórico de atuação no mercado”, explica.

Procurada pela reportagem, a Junta Comercial do Estado de São Paulo ( Jucesp), informou por meio de nota que está reunindo “informações consolidadas sobre tais condutas, a fim de encaminhar material consistente ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO)”. Ainda segundo a nota, a Jucesp explica que o órgão “exerce fiscalização sobre a atividade dos leiloeiros oficiais matriculados e mantém em seu site um alerta de que somente leiloeiros oficiais, com habilitação pessoal e intransferível podem realizar leilões”.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Leiloeiros do Estado de São Paulo, Eduardo Boyadjian, a maioria dos leilões ocorre online no Brasil. “Pelo menos 500 mil veículos são vendidos anualmente em plataformas tecnológicas. Os criminosos se aproveitam disso para aplicar os golpes. Por isso, não compre nada sem visitar o lote. As pessoas caem porque ficam animadas com os valores atrativos e ficam cegas e caem”, avalia, antes de arrematar: “ Leilão vende 20 ou 30% abaixo do mercado. Não faz milagre”.

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