O delator Carlos Miranda, apontado pelo Ministério Público Federal como operador do esquema de corrupção durante a gestão do ex-governador Sérgio Cabral, declarou que o atual governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (MDB), recebia uma mesada de R$ 150 mil.
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Em delação homologada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, revelada pelo site do jornal O Globo, Carlos Miranda afirma que o dinheiro foi pago de 2007 a 2014 e vinha de empreiteras e fornecedoras que tinham contrato com o governo do estado. Na época, Pezão ainda era vice- governador de Sérgio Cabral que já está preso preventivamente acusado de corrupção e lavagem de dinheiro.
Carlos Miranda ainda citou detalhes do pagamento realizado a Pezão. Ele afirmou que além da mesada de R$ 150 mil, o governador também recebeu 13º salários e dois bônus de R$ 1 milhão cada. A propina era entregue dentro do Palácio Guanabara, sede do governo do Estado do Rio de Janeiro.
Além disso, Pezão teria recebido uma propina extra de R$ 300 mil para pagar serviços de uma empreteira na sua casa de campo, no município de Piraí, no Vale do Paraíba. Essa quantia teria sido paga através do doleiro Renato Chebar diretamente à Luiz Fernando Amorim, dono da empresa High End, especializada na instalação de painés solares.
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O empresário é irmão de Cesar Amorim, responsável pela instalação de painés solares no Arco Metropolitano, anunciado à época como um dos maiores trechos do mundo iluminado com energia renovável.
Inaugurado em julho de 2014, a instalação de 4.310 postes com placas fotovoltaicas ao longo dos 72 quilômetrso que ligam Duque de Caxias a Itaguaí custou oficialmente ao Estado R$ 96,7 milhões. Na média, cada poste do Arco Metropolitano custou R$ 22 mil e mais de 200 já foram derrubados para que os painéis fossem roubados.
O ministro Toffoli já encaminhou o depoimento do delatos ao Superior Tribunal de Justiça, tribunal responsável pelo julgamento do governador.
Troca de "favores"
O delator afirmou ainda que o pagamento de propina à Luiz Fernando Pezão era uma ordem direta do então governador Sérgio Cabral. Quando Cabral deixou o cargo em 2014, porém, os favores se inverteram: foi Pezão que passou a mandar pagar uma mesada para Cabral.
Carlos Miranda também afirmou na delação que, através do ex-secretário de obras do Estado, Hudson Braga, Sérgio Cabral recebeu uma mesada de R$ 400 mil entre maio de 2014 e meados de 2015. O operador recolhia o dinheiro na Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), investigada na Operação Lava Jato, e ainda cobrava R$ 100 mil de comissão.
A continuidade do pagamento da propina mesmo depois que Cabral deixou o cargo de governador e Pezão assumiu teria sido acertada numa reunião ocorrida no Palácio Guanabara com a presença do novo governador e dos representantes das empreiteras.
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Defesa nega acusações
Em nota, o governador chamou as acusações de que recebiua mesada de absurdas. Pezão afirmou que "repudia com veemência essas mentiras" e que "as afirmações são tão absurdas e sem propósito que sequer há placas solares instladas em sua casa em Piraí". Ele também afirma que sua vida já foi amplamente investigada pela Polícia Federal e que "jamais recebeu recursos ilícitos."