Entrevista com um dos principais procuradores da Lava Jato tem duras críticas contra algumas das delações da Lava Jato
Antonio Cruz/Agência Brasil - 16.11.2010
Entrevista com um dos principais procuradores da Lava Jato tem duras críticas contra algumas das delações da Lava Jato

As delações premiadas fechadas durante as investigações da Operação Lava Jato nunca foram tema simples. Hoje, que a Polícia Federal tem caminho aberto para fechar acordos independentes do Ministério Público Federal (MPF), elas têm sido questionadas até por quem está encabeçando as investigações. 

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Nesta segunda-feira (30), o jornal Folha de S.Paulo publicou uma entrevista com um dos principais procuradores da Lava Jato , Carlos Fernando dos Santos Lima, que criticou dura e abertamente alguns dos acordos de delação premiada celebrados pela PF, como o do ex-ministro Antônio Palocci. 

Para ele, a delação de Palocci – que foi negada pelo MPF, mas aceita pela PF – não deveria existir, por falta de provas. "Demoramos meses negociando. Não tinha provas suficientes. Não tinha bons caminhos investigativos", afirmou

"Fora isso, qual era a expectativa? De algo, como diz a mídia, do fim do mundo. Está mais para o acordo do fim da picada. Essas expectativas não vão se revelar verdadeiras. O instituto é o problema? Eu acho que a PF fez esse acordo para provar que tinha poder de fazer", disse o procurador, deixando clara a richa entre o MPF e a PF.

Para Santos Lima, o caso de Palocci foi uma "queda de braço" entre ambas as equipes, que foram classificadas por ele como a "porta da frente" e a "porta dos fundos" desses acordos. "A porta da frente dos acordos sempre será o Ministério Público. A porta dos fundos é da PF. As pessoas irão à PF se não tiverem acordo conosco", disse.

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Questionado sobre o benefício do uso das delações nas investigações, o procurador defendeu que a operação teria andado muito pouco se não fosse por elas. "Nós mal teríamos chegado à conclusão de que houve corrupção na Petrobras ", afirmou.

"Na primeira vez em que a Petrobras veio aqui, veio para nos dizer que era impossível ter corrupção na Petrobras, que todos os esquemas de controle funcionavam perfeitamente. Mas vem Paulo Roberto Costa e diz: 'Não, existia'. Ele explica tudo. Estaríamos nos batendo hoje, ainda, com uma discussão se houve ou não corrupção", disse.

Na mesma entrevista, ele admitiu que as delações de Delcídio do Amaral e de Sérgio Machado tinham graves defeitos: “Quando você faz com excesso de rapidez, corre o risco de fazer colaborações mal feitas. Delcídio, na minha opinião, quase nem se autoincrimina. A primeira coisa é o colaborador falar os crimes que cometeu. (…) No caso do Sérgio Machado, no final das contas, o principal sequer foi denunciado"

"Aquelas conversas supostamente com membros do Congresso e ex-parlamentares, que geraram até pedido de prisão no Supremo, sequer movimentaram uma denúncia. Aquela gravação era um bom início de negociação, mas não era um fim em si mesma", disse.

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"A gente tem que tomar muito cuidado com excesso de vontade de conseguir certos documentos, provas, gravações”, afirmou o procurador da Lava Jato .

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