A reunião acenou com a possibilidade de um abrandamento das tensões entre as duas potências globais.
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A reunião acenou com a possibilidade de um abrandamento das tensões entre as duas potências globais. "O planeta Terra é grande o suficiente para os EUA e a China", declarou Jinping.


Na articulação do sistema internacional pós-guerra fria, o fenômeno mais visível é a ascensão da China. Os dados são conhecidos: o país tornou-se a segunda economia do mundo, ampliou sua base militar de poder, desenvolveu notável capacidade tecnológica e expandiu sua presença econômica internacional.

Essa constatação não resolve, porém, o problema de conhecer quais são as consequências da ascensão da China para a ordem internacional, tampouco esclarece de que maneira Pequim usará o poder adquirido, quais conflitos pode provocar ou ajudar a resolver.

Para responder a essas perguntas um fator fundamental é a relação com os Estados Unidos.

Estamos longe de afirmar a inevitabilidade de uma guerra entre as duas potências. O objetivo é outro: refletir sobre os fatores que induziriam a guerra e qual seria o caminho para evitar o conflito.

Essa análise pode partir de uma observação do historiador ateniense Tucidides sobre as origens da guerra entre Atenas e Esparta pelo controle do Peloponeso.
Segundo Tucidides a ascensão de Atenas e o consequente temor instalado em Esparta tornaram a guerra inevitável.

Essa observação incorpora uma lição permanente para entender situações em que potências emergentes desafiam as dominantes e, portanto, seria a melhor lente disponível para analisar as relações entre China e Estados Unidos.

Vários Estados caíram nessa armadilha, como Portugal e Espanha no século XV, o confronto entre a França e os Habsburgos, as disputas europeias até fins dos novecentos, em seguida os conflitos da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais, a Guerra Fria e a reação da França e da Inglaterra à reunificação da Alemanha.

Desses casos, alguns resultaram em guerras, mas outros não.
As diferenças de poder engendram desequilíbrios, instalam a armadilha e correspondem ao fator estrutural na origem daqueles conflitos. Mas a escalada ou não para a violência responde a movimentos conjunturais, definidos por fatores variados, dos estratégicos aos da psicologia coletiva.

Vistos em sequência, os episódios apesar das diferenças sugerem um padrão inteligível. E o argumento ganha contornos mais claros: como nenhuma situação de armadilha está pré-fixada o imperativo e estudar as maneiras de evitar rivalidades escalem.

A solução, nesse caso, seria um apelo à razão dos governantes americanos e chineses para que, ao reconhecerem o alcance e a abrangência da rivalidade, aceitem soluções negociadas para contê-los.


Os Estados Unidos deram os primeiros passos da expansão imperial depois da guerra Hispano-Americana, com intervenções na América Central e no Caribe, e a transformação da Doutrina Monroe em instrumento para legitimar intervenções na região.

Daí o interesse em perguntar de que maneira a liderança americana reagiria se os chineses se tornassem igualmente exigentes em relação ao seu entorno. Os britânicos, que eram hegemônicos na América do Sul, aceitaram a expansão dos Estados Unidos e se acomodaram. Nesse caso, a potência emergente venceu e sem guerra.

Por caminhos diferentes, a China construiu também uma ambição de potência, e Xi Jinping é o personagem que consolida o processo.

Devemos sublinhar a singularidade da história da China, o isolamento do império do meio, o passado de humilhações e a disposição surpreendente de enfrentar inimigos poderosos, como aconteceu no caso da invasão americana da Coreia em 1952.

Para entender o ethos chinês, devemos recorrer a Kissinger e a Lee Kuan Yew, primeiro ministro de Cingapura que bem conhece as lideranças chinesas.
O sonho de Xi combina o desejo firme de potência de Theodore Roosevelt, a construção da prosperidade de Franklin Roosevelt. Essa sensação de destino despertado é uma força avassaladora.

Daí a disposição chinesa de refazer a hegemonia regional e a necessidade de bloquear as pretensões americanas na Ásia. O recado a Washington é claro: não se metam.

As ambições de Pequim e Washington resultam de histórias diferentes, mas hoje, parecem aproximar os dois países que sofrem ambos de um complexo de superioridade extremos.

O confronto, visível no plano estratégico, está impulsionado por diferenças civilizacionais. Para os americanos, a referência é a Democracia, apesar de Donald Trump, e a China acha esse tipo de atitude inaceitável, se valendo dos seus cinco mil anos de experiências de modos de Governo, e dispensa as lições americanas.

Realmente, o teste da armadilha de Tucidides se aplica ao caso, visto que há situações que poderiam desencadear um conflito bélico: colisão acidental de belonaves em alto-mar; reversão da situação política em Taiwan; colapso do regime norte-coreano e conflito econômico que se convertesse em militar.

A guerra entre os dois países não é inevitável, mas é possível.

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