O delegado da Polícia Federal de Minas Gerias Rodrigo Morais afirmou ao Globo, nesta quinta-feira, que a decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região de reabrir as investigações sobre o atentado a faca sofrido pelo presidente Jair Bolsonaro permitirá esclarecer a "única lacuna" do inquérito - se os advogados de Adélio Bispo, o autor da facada, foram contratados por um terceiro ou se eles resolveram assumir o caso por conta própria.
- Esta foi a única lacuna. Até agora, depois de tudo o que foi investigado, não se identificou nada em relação a terceiros. A única lacuna era justamente nessa questão dos advogados do Adélio - afirmou o delegado. - Com essa decisão, vai ficar mais fácil saber se havia um terceiro ou não. Basicamente, é só isso o que falta: descobrir se os advogados assumiram o caso visando a exposição (midiática) ou se eles foram contratados - completou.
O delegado afirmou que, assim que a decisão judicial for formalizada à PF, iniciará a análise do conteúdo do celular do advogado de Adélio Bispo e das imagens do circuito de segurança do escritório dele - o material já está em posse da PF, mas a sua verificação havia sido suspensa por uma decisão liminar do desembargador Néviton Guedes, do TRF-1. O juiz acatara a um pedido da OAB que reclamava de violação do sigilo funcional da defesa.
O principal advogado de Adélio Bispo era o experiente criminalista Zanone Manuel de Oliveira, que já atuou em casos de renome, como no da morte de Eliza Samuio (namorada do goleiro Bruno) e da execução da missionária Dorothy Stang. Ele ainda não foi localizado para comentar a nova decisão sobre o caso.
Após a derrubada dessa liminar, o delegado da PF também anunciou que irá pedir a quebra do sigilo bancário e fiscal do advogado para descobrir se ele recebeu valores de algum desconhecido ainda não identificado na investigação ou se houve alguma movimentação financeira suspeita.
Em depoimento à Polícia Federal, o advogado Zanone Oliveira contou que foi procurado por um desconhecido para atuar no caso - sem revelar o seu nome. Na ocasião, ele teria informado a essa pessoa quanto costumava para defender processos do gênero - 150.000 reais -, mas aceitou baixar o valor para 25.000 reais.
- Aquela pessoa aceitou a proposta e pagou inicialmente o valor de 5 000 reais em dinheiro - disse ele à PF. Durante os mandados de busca e apreensão em seu escritório, a Polícia Federal encontrou um bilhete escrito por ele que dizia "Caso Adélio" e o valor recebido.
- Esse é o tipo de documento em que há possibilidade de ter sido forjado. O importante é que agora a gente vai conseguir identificar se havia mesmo um terceiro ou não - declarou o delegado, que ressaltou que o inquérito havia sido "arquivado provisoriamente", sendo reaberto agora.
No inquérito do ano passado, a PF concluiu que Adélio Bispo "agiu sozinho, por iniciativa própria, tendo sido o responsável pelo planejamento da ação criminosa e por sua execução, não contando, a qualquer tempo, com o apoio de terceiros". O texto diz ainda que Adélio atentou contra a vida de um então candidato à Presidência da República "com o claro propósito de tirar-lhe a vida".
Em relação à versão de que havia um mandante do crime, que é constantemente levantada pelo presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e apoiadores, a PF havia dito no relatório final que "até o presente momento nada de concreto pode ser concluído a partir dessa hipótese criminal".
- Não dá para antecipar nada agora. Mas a análise desse material não deve demorar para acontecer - comentou o delegado nesta quinta-feira.