O general Eduardo Villas Bôas revelou que as postagens feitas em sua conta pessoal no Twitter às vésperas do julgamento de um habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em fato ocorrido em 2018, foram publicadas com o apoio do Alto Comando do Exército.
Caso fosse aprovado, Lula não iria para a prisão após condenação em segunda instância. Mas, por seis votos a cinco, a sentença foi mantida.
A informação está em um livro publicado pela Editora FGV, "General Villas Bôas: conversa com o comandante", e foi publicada pelo jornal "O Globo" nesta sexta-feira (11).
O militar foi o comandante do Exército durante os anos de 2015 a 2019, nos governos de Dilma Rousseff e de Michel Temer. No dia 3 de abril de 2018, Villas Bôas usou suas redes sociais para fazer duas postagens.
"Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais? Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais", diziam os dois textos.
A publicação gerou uma série de repercussões tanto dos aliados do ex-presidente Lula como de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
À época, Celso de Mello afirmou que a mensagem, sem citar o general diretamente, foi "claramente infringente no princípio das separações dos poderes". Já Gilmar Mendes afirmou que o efeito das declarações "não foi positivo", mas que não acreditava que as Forças Armadas "eram a maior ameaça à democracia no Brasil".
Segundo Villas Bôas, o texto demorou dois dias para ser aprovado e publicado e passou "pelos comandantes militares da área".
"Recebidas as sugestões, elaboramos o texto final, o que nos tomou todo o expediente, até por volta das 20 horas, momento que liberei para o CComSEx [setor de comunicação do Exército] para expedição", contou o general segundo "O Globo".
Ainda conforme o ex-comandante do Exército, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen, e os chefes da Aeronáutica e da Marinha não sabiam da postagem antes dela ser publicada.
"Externamente, nos preocupavam as consequências do extravasamento da indignação que tomava conta da população. Tínhamos aferição decorrente do aumento das demandas por uma intervenção militar. Era muito mais prudente preveni-la do que, depois, sermos empregados para contê-la. Internamente, agimos em razão da porosidade do nosso público interno, todo ele imerso na sociedade. Portanto, compartilhavam de ansiedade semelhante", justificou Villas Bôas, conforme o jornal.