A controvérsia em torno da troca de um membro da executiva nacional do partido expôs a disputa interna no PT pela divisão do dinheiro do fundo eleitoral. A legenda terá direito este ano a R$ 500 milhões de recursos públicos para financiar campanhas, a segunda maior quantia entre todas as siglas, atrás apenas do União Brasil, que ficará com R$ 776,5 milhões.
Em carta enviada na quarta-feira à presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, o deputado federal Paulo Teixeira (SP), atual secretário-geral, segundo cargo mais importante no comando do partido, solicita afastamento temporário da executiva nacional em razão das atribuições que exercerá na coordenação da campanha presidencial de Lula. Para substituí-lo, o parlamentar indicou o vereador do Rio e ex-senador Lindbergh Farias. Os dois são da mesma corrente interna, a Resistência Socialista.
Integrantes da CNB, a corrente majoritária petista, argumentam, no entanto, que a troca é apenas uma manobra para que Lindbergh, pré-candidato a deputado federal, possa receber o teto de recursos definido pela direção da legenda para quem vai disputar vaga na Câmara.
Em 2018, os integrantes da executiva nacional petista que se lançaram candidatos tiveram direito à mesma quantia destinada aos então deputados que tentavam a reeleição. A equiparação ainda não foi aprovada para este ano, mas há uma articulação nesse sentido. Os atuais deputados devem receber do partido R$ 2 milhões cada. Em 2018, o valor foi de R$ 900 mil.
Três integrantes da executiva e da CNB são candidatos a deputado: a tesoureira, Gleide Andrade (MG); o secretário de comunicação, Jilmar Tatto (SP); e o ex-prefeito de Maricá (RJ) Washington Quaquá, um dos vice-presidentes da legenda.
Quaquá tem um histórico de embates com Lindbergh no PT fluminense, inclusive nas articulações para a atual eleição estadual. O primeiro já defendeu que o partido adotasse palanques múltiplos no estado e que Lula tivesse campanha casada até com o governador Cláudio Castro (PL). E o ex-senador foi um dos principais articuladores da aliança com Marcelo Freixo (PSB).
O ex-prefeito de Maricá ressaltou que a troca na executiva nacional ainda precisa ser aprovada pelo diretório nacional e apresentou um argumento contrário:
"Isso abre precedente para todas as correntes fazerem trocas e beneficiarem seus candidatos."
Paulo Teixeira, por ser deputado, já tem direito aos R$ 2 milhões, estando ou não na executiva. Lideranças petistas afirmam que o deputado paulista, que atuará na coordenação jurídica da campanha de Lula, não teria motivo algum para se afastar das suas funções no partido. Gleisi, por exemplo, é a coordenadora-geral da campanha presidencial e continua na executiva.
Na carta, inclusive, Teixeira diz que continuará a exercer as tarefas da secretaria-geral. Deixará apenas de participar e votar nas reuniões da executiva, órgão que delibera sobre questões do dia a dia do partido.
Puxador de votos
Reservadamente, militantes da Resistência Socialista dizem que a troca foi feita de propósito para abrir espaço para a contestação da equiparação entre dirigentes partidários e os atuais deputados. Há ainda uma reivindicação para que Lindbergh tenha direito a uma fatia de recursos do fundo eleitoral semelhante à dos parlamentares federais por já ter sido senador, o que lhe credenciaria como um puxador de votos no Rio.
O diretório nacional do PT aprovou no fim de junho que os candidatos homens a deputado receberão no total R$ 148 milhões — o valor é separado das postulantes mulheres porque a Justiça Eleitoral determina uma reserva de recursos para candidaturas femininas. Se todos os atuais 48 parlamentares homens tentarem a reeleição, eles ficarão com quase R$ 100 milhões. O restante iria para os postulantes que não ocupam cadeiras na Câmara atualmente.
Paulo Teixeira e Lindbergh não comentaram.
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