Há menos de um mês no cargo e precisando decolar nas pesquisas de intenção de voto, o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), tem feito acenos às polícias e aposta na área de segurança na tentativa de se aproximar do eleitorado conservador.
A ofensiva de Garcia faz parte de um esforço para descolar sua imagem da do ex-governador João Doria, que tinha a antipatia do segmento em razão de seu discurso antibolsonaro e tem alta rejeição nas pesquisas de intenção de voto.
De acordo com pessoas próximas, a gestão Garcia deve anunciar nos próximos dias uma série de operações policiais buscando frear os altos índices de crimes como roubos de carros, assaltos cometidos por falsos entregadores de aplicativos e o golpe do Pix.
O patamar dos crimes patrimoniais se aproxima do registrado antes da pandemia, e as autoridades o relacionam ao aumento da circulação de pessoas.
De acordo com a Secretaria estadual de Segurança, São Paulo registrou 132.782 furtos de janeiro a março, o que equivale a um aumento de 28,5% se comparado ao primeiro trimestre do ano passado. No entanto, em relação a 2019, antes da pandemia, houve redução de 2,7%.
Situação semelhante ocorreu com os roubos: foram 59.905 no primeiro trimestre e uma alta de 7,4% ante 2021. Apesar disso, há uma redução de 4% se o período for comparado aos 62.372 registrados em 2019, quando a Covid-19 ainda não havia chegado ao Brasil.
Na semana passada, o governador trocou o comando da PM e da Polícia Civil e empossou nomes operacionais nas chefias, que estavam diretamente ligados à organização de tropas ou investigações. À frente da Polícia Militar está o coronel Ronaldo Miguel Vieira, que chefiava a Tropa de Choque. No comando da Civil, está Osvaldo Nico Gonçalves, delegado de diversas operações que desarticularam quadrilhas na capital paulista.
O investimento em Segurança sempre rendeu votos para os tucanos entre os eleitores paulistas e é pauta cara entre os mais conservadores. De acordo com aliados do governador, diante do avanço do pré-candidato de Jair Bolsonaro ao governo e ex-ministro, Tarcísio de Freitas (PL), nas intenções de voto em São Paulo, a prioridade à Segurança para a imagem da campanha de Garcia tornou-se mais urgente.
Não por acaso, o governo estadual quer ampliar de forma ostensiva o número de policiais nas ruas na tentativa de aumentar a sensação de segurança da população.
De acordo com o Datafolha, o ex-prefeito Fernando Haddad lidera a corrida para o Palácio dos Bandeirantes. O petista tem 29% das intenções de voto, seguido por França (20%), pelo ex-ministro Tarcísio (10%) e o agora governador Garcia (6%). Sem França na disputa, Haddad sobe para 35% e Rodrigo ganha força. Nesse caso, a segunda colocação fica dividida entre Tarcísio e Rodrigo, cada um com 11%.
O uso político das câmeras
Nome do presidente Jair Bolsonaro no estado, Tarcísio tem procurado se aproximar das forças de segurança do estado. Uma de suas primeiras sinalizações a esse eleitorado foi a promessa de acabar com as câmeras instaladas nos uniformes dos integrantes da PM.
O ex-ministro tem afirmado que as câmeras limitam a ação dos policiais e podem até representar uma ameaça para eles. A retirada das câmeras é uma pauta que tem a simpatia de bolsonaristas, apesar de estudos mostrarem redução das mortes por policiais em batalhões que adotaram o equipamento.
Ainda assim, o assunto passou a pautar a eleição, e outros candidatos começaram a criticar as câmeras, a exemplo de Márcio França (PSB). Com isso, Garcia disse, em entrevista à revista “Veja São Paulo”, que iria falar com os comandos e que as câmeras precisam filmar mais os bandidos do que os policiais.
Afirmou ainda ter "dúvidas" sobre a importância do equipamento em operações dos batalhões especiais, como o Choque e a Rota. Depois, em nota, porém, recuou e acusou os adversários de quererem “transformar o uso da câmera numa guerra ideológica”. No texto, ele moderou o tom:
“É uma política de segurança pública discutida com os comandantes e que mostra avanços no combate à criminalidade. Ninguém me provou o contrário”, afirmou o governador.
Apesar das mudanças promovidas nas policiais, fontes da área veem com ceticismo a possibilidade de uma melhora relevante nos roubos de rua, atribuindo a situação ao aumento das disparidades sociais na pandemia, que teriam causado o que chamam de "epidemia de roubos e furtos".
Policiais experientes veem as mudanças mais ligadas a uma tentativa de Garcia de dar uma marca ao seu governo e ainda apontam problemas como a falta de efetivo, estrutura e equipamentos para que a Polícia Civil possa ampliar as investigações.