Em 2023, o planeta atingiu as maiores temperaturas em mais de 100 mil anos. No Brasil, uma recente onda de calor atingiu as principais capitais do país e provocou incêndios nas florestas e no pantanal. Outros países da América do Sul, Ásia e Europa também sofreram queimadas por conta do calor e do tempo seco, que destroem a vegetação e a fauna local.
Pesquisa publicada na revista científica The Lancet aponta que o calor já tem afetado a saúde pública drasticamente. Mortes relacionadas ao calor extremo entre pessoas com mais de 65 anos aumentou em 85% em comparação com a década de 1990. O relatório também apresenta que as altas temperaturas têm relação com o crescente quadro de insegurança alimentar ao redor do mundo — a alta foi 127 milhões de casos em comparação aos anos de 1981 a 2010.
As metas internacionais estabelecidas para recuperar o mundo da crise geraram mudanças inexpressivas: empresas de petróleo e gás investiram apenas 4% em energias renováveis e continuam recebendo subsídio dos governos, que por sua vez encorajam o uso dos combustíveis fósseis. Enquanto isso, na agricultura, as emissões de carbono só aumentaram.
Riscos de doenças potencialmente fatais, como a dengue e a malária, também assolam essa nova fase da crise climática. Na natureza, os reflexos podem ser compreendidos a partir de uma análise da área terrestre global afetada pela seca, que enfrentou um aumento de 47% a partir de 2013. Esses números acendem um alerta sobre um possível cenário de desnutrição, insegurança hídrica, precarização dos serviços de saneamento e de saúde em todo o planeta.
Projeções
O mundo, hoje, está 2°C mais quente em relação à era pré-industrial. A pesquisa mostra que a inação das autoridades em torno das mudanças no clima, bem como as políticas desempenhadas ao longo da última década, colocam a população no caminho para atingir o aumento para 3ºC.
O relatório compreendeu que houve pouco ou nenhum sinal de progresso acerca das metas elaboradas para 2023. Com o atraso em medidas para contenção da crise, o estudo projeta que, caso não sejam realizadas as mudanças necessárias, o número de mortes anuais relacionadas ao calor podem aumentar em 370% até 2050.
As ondas de calor, por sua vez, podem levar a insegurança alimentar a 524,9 milhões de pessoas até 2060. Até lá, as infecções virais também devem aumentar em cerca de 37%.
O artigo evidencia que o aquecimento gera, além de catástrofes ambientais, perdas econômicas que corroboram no processo progressivo de corrosão da situação socioeconômica já vulnerável de grande parte das civilizações, assim como a sobrecarga dos sistemas de saúde. Em conjunto, esses aspectos explicam as quase 62 mil mortes na Europa no verão de 2022 e as mortes que ainda estão por vir.
A onda de calor no Brasil
Neste mês, a cidade de Araçuaí, em Minas Gerais, atingiu a maior temperatura do ano: 44,8ºC. Entre as capitais , os termômetros chegaram a marcar 42,5 °C no Rio de Janeiro e 39,7ºC em Goiânia. Na capital paulista, a máxima alcançada foi de 37,7ºC , a segunda maior temperatura já registrada pela estação do Mirante de Santana, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
De acordo com o instituto, o inverno de 2023 foi o mais quente dos últimos 62 anos. A onda de calor contribuiu com queimadas em mais de um milhão de hectares do pantanal e marcou um aumento de 74% na ocorrência de incêndios florestais no país.