O chamado 'núcleo crucial' da trama golpista
Gustavo Moreno, Ton Molina, Antonio Augusto e Fellipe Sampaio/STF
O chamado 'núcleo crucial' da trama golpista

O dia 25 de novembro de 2025 ficará marcado como o dia em que militares de alta patente iniciaram o cumprimento da pena de prisão em regime fechado por tentativa de golpe de Estado no Brasil.

Mais que um simbolismo, é a marca de giz no chão da legalidade que grupos organizados das Forças Armadas sempre tentaram borrar. Foi assim em 1964 e outras quarteladas ao longo do século 20. Na ausência de um conflito externo, saímos da Segunda Guerra subjugados pela ordem militar norte-americana e importamos seus inimigos – no caso, a União Soviética e o fantasma do comunismo, ressuscitado pela extrema-direita que chegou ao poder nos anos 2010 convicta de que, como no regime militar, o que o povo brasileiro precisava era de tutela.

O histórico de conciliação à brasileira, impressa na Anistia de 1979, que beneficiou perseguidos políticos e seus torturadores, permitiu que os espíritos autoritários vagassem por aí em tempos democráticos. E sem o risco representado pelo Muro de Berlim. Eles chegaram ao poder encapsulados pelo projeto de Jair Bolsonaro (PL), uma articulação entre alas de economistas ultraliberais, ideológicas e militares que só estavam distantes umas das outras por invenção. Elas sempre correram juntas, atuaram juntas, conspiraram juntas.

O resultado desse balaio foi uma tentativa frustrada de golpe que descmbou na destruição de 8 de janeiro de 2023. Tudo porque o capitão que planejava explodir bombas no quartel em seus tempos no Exército não admitia a derrota nas urnas para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

No auge da trama, alguns militares lembraram do juramento à pátria e rejeitaram o plano. Outros o endossaram. Agora, pela primeira vez, três generais e um almirante da Marinha foram em cana pelo atentado à democracia. 

Os generais Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Braga Netto – este já detido provisoriamente em um quartel no Rio – além do ex-chefe da Marinha Almir Garnier são hoje o símbolo do preço da conspiração, e um alerta para quem tentar na próxima. Eles ficarão presos em celas especiais das Forças Armadas até que o Superior Tribunal Militar decida se eles devem ou não perder as patentes. Caso isso aconteça, podem fazer companhia ao ex-ministro da Justiça Anderson Torres, levado para a Papuda após coordenar a redação da minuta golpista. 

Jair Bolsonaro já estava preso por tentar quebrar a tornozeleira eletrônica que garantia a ele o benefício, agora cancelado, da prisão domiciliar.

Do núcleo crucial, falta prender Alexandre Ramagem (PL-RJ), que fugiu para os Estados Unidos e pode ter o mandato de deputado cassado por ordem de Alexandre de Moraes. 

O ministro ordenou também que ele e Torres, dois quadros da Polícia Federal, seja destituídos da instituição da qual se licenciaram para se aventurar em política e planos golpistas.

Com a condenação do grupo e o início do cumprimento da sentença, o Brasil segue os passos da Argentina, que levou ao banco dos réus, julgou e condenou os responsáveis por levar o país a uma das mais sangrentas ditaduras da América do Sul.

Sangue era o que Bolsonaro queria desde os tempos em que usava a imunidade parlamentar de deputado para dizer que a ditadura matou foi pouco e deveria, numa nova oportunidade, fuzilar 30 mil, a começar pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.

O plano não foi adiante porque não teve apoio total de militares e dos Estados Unidos, na época governado por Joe Biden, um dos primeiros líderes a reconhecer a lisura do processo eleitoral em 2022. Com Donald Trump talvez o destino fosse diferente. E os encarcerados seriam outros. E talvez nem houvesse espaço para escrever este texto uma hora dessas.

Na História o “e se” não entra em campo. O que ela vai contar é que tramar contra o próprio país e a democracia cobra seu preço. Seja quem for. A prisão dos militares é a maior prova disso. 


*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG

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