Eduardo Bolsonaro falou sobre a operação no Rio
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Eduardo Bolsonaro falou sobre a operação no Rio

A megaoperação realizada nesta terça-feira (28) nas comunidades da Penha e do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, provocou uma onda de posicionamentos sobre segurança pública. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) defendeu a ação e citou o exemplo de  El Salvador.

A operação, considerada a mais letal da história do estado, resultou em 132 mortes e 81 prisões.

Nesta quarta-feira (29), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) associou o episódio ao modelo de segurança pública do presidente de El Salvador, Nayib Bukele.

Bukele ficou conhecido mundialmente por medidas de encarceramento em massa e controle rígido das forças de segurança.

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“Bukelização” e apoio à polícia

Em publicação nas redes sociais, o deputado afirmou que a operação ocorreu “na mesma semana em que o presidente do país diz que o traficante é vítima”.

O parlamentar declarou que a população tem “dever moral de apoiar a polícia”, independentemente de posicionamentos políticos.

“Na mesma semana em que o presidente do país diz que o traficante é vítima, a polícia do Rio de Janeiro realiza uma operação em que dezenas de criminosos são mortos. Antes de mais nada: se você está revoltado com a insegurança — seja no Rio de Janeiro ou em qualquer outra parte do país — ou se já foi vítima de crime, tem o dever moral de apoiar a polícia.”

Eduardo Bolsonaro também fez referência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), dizendo que “o atual ocupante da Presidência não fará isso” .

Segundo ele, “esse apoio é essencial para que as pessoas que arriscam a vida na linha de frente não fiquem moralmente desamparadas” .

Ao citar Bukele, o deputado afirmou que “para ‘bukelizar’ o Brasil” seria necessário o apoio do Congresso e do Executivo, como ocorreu em El Salvador.

“Muito se fala em Bukele, o presidente de El Salvador, que transformou, a partir de 2016, um país com uma das maiores taxas de homicídio do mundo em uma das nações mais seguras da região. Para ‘bukelizar’ o Brasil, é claro que seriam necessários o apoio do presidente e a concordância do Congresso Nacional.”

O parlamentar encerrou a publicação elogiando a atuação das forças de segurança.

“Parabéns à polícia do Rio de Janeiro. Se, como eu, você deseja a ‘bukelização’ do país, apoie a polícia nessas operações” , escreveu.


Operação deixa mais de cem mortos

De acordo com a Defensoria Pública do Rio de Janeiro, a operação deixou 132 mortos, número superior ao informado pelo governo estadual, que registrou 119 óbitos.

A ação teve como objetivo o cumprimento de 100 mandados de prisão e contou com 2,5 mil agentes de diferentes forças de segurança.

O alvo era a cúpula do CV (Comando Vermelho), uma das principais facções do estado. Segundo o balanço das autoridades, 93 fuzis foram apreendidos e 81 pessoas foram presas.

Levantamento do Geni/UFF (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos) indica que a ofensiva superou em mais de três vezes o número de mortes registradas na operação do Jacarezinho, em 2021, que terminou com 28 mortos.

Castro: “As únicas vítimas foram os policiais”

Em coletiva de imprensa nesta quarta-feira, o governador Cláudio Castro (PL) defendeu a ação e afirmou que apenas os quatro policiais mortos deveriam ser considerados vítimas.

“Ontem foi uma operação de cumprimento de mandado judicial, mais de um ano de investigação (...). Aquelas foram as verdadeiras quatro vítimas que tivemos ontem. De vítima ontem lá, só tivemos os policiais.”

Castro classificou a operação como um “duro golpe na criminalidade” e declarou que ela representa “o início de um novo momento” no combate ao crime organizado.

“Ontem foi uma operação de cumprimento de mandado judicial, mais de um ano de investigação, mais de 60 dias de planejamento que incluiu o Ministério Público. Temos muita tranquilidade de defendermos tudo o que foi feito ontem.”

O governador anunciou que os policiais mortos seriam promovidos postumamente e que suas famílias seriam amparadas pelo Estado.

“Eu já determinei que essas famílias sejam completamente amparadas e protegidas pelo Estado para que a gente possa valorizar a nobre ação de pagar com a própria vida pela defesa do bem comum.”

Entre os agentes mortos estão o comissário Marcus Vinícius Cardoso de Carvalho, o inspetor Rodrigo Velloso Cabral e os sargentos do Bope Cleiton Serafim Gonçalves e Heber Carvalho da Fonseca.

Em nota, a Polícia Civil classificou os policiais como “heróis que deram suas vidas em defesa da sociedade” e manifestou solidariedade às famílias.

Bukele e o modelo de segurança de El Salvador

Presidente de El Salvador, Nayib Bukele
Presidencia de la República de El Salvador
Presidente de El Salvador, Nayib Bukele


A referência feita por Eduardo Bolsonaro a Nayib Bukele está associada à política de “tolerância zero” implementada em El Salvador.

A estratégia é sustentada por prisões em massa, ampliação do Exército e uso de tecnologias de vigilância.

Segundo o Congressional Research Service, o país vive sob estado de exceção prorrogado mais de 36 vezes desde 2022, o que ampliou o poder das forças de segurança e restringiu garantias processuais.

Mais de 80 mil pessoas foram presas, o equivalente a até 2% da população adulta, e o governo inaugurou o Cecot (Centro de Confinamento do Terrorismo), com capacidade para 40 mil detentos.

Relatórios internacionais registram redução drástica dos homicídios, que passaram de 38 por 100 mil habitantes em 2019 para cerca de 2 por 100 mil em 2023, colocando o país entre os mais seguros da América Latina.

Ao mesmo tempo, organizações de direitos humanos relatam prisões arbitrárias, mortes sob custódia e concentração de poder no Executivo.

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