
Apoiadores do presidente Lula passaram a segunda-feira batendo o bumbo por causa do telefonema entre ele e Donald Trump pela manhã.
Era uma bola quicando demais na área para não cortar.
Entre parlamentares petistas, a conversa ao longo do dia era que a família Bolsonaro não só agiu como traidora da pátria como mostrou incompetência: se a ideia era cortar as vias diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, não conseguiram. Por isso saíram desmoralizados.
A pá de cal foram as falas do próprio chefe da Casa Branca na sequência. Ele disse que teve uma boa conversa com o par brasileiro e ressaltou que ambos tiveram um “boa química” desde o encontro na Assembleia Geral da ONU, no fim de setembro.
Quem acompanhou a ligação jura que do outro lado da linha estava um chefe de Estado aberto ao diálogo e cordial, bem diferente da postura arrogante demonstrada em público pelo personagem. Vai entender…
Com o telefonema, Lula tirou das costas a pecha de líder indisposto a negociar diante de um chefe de Estado que prometeu prejudicar o Brasil – e cumpriu, mesmo que os efeitos sejam limitados.
Lula sempre disse que aceitava conversar com Trump e negociar. Ressaltava, inclusive, que fez isso a vida toda, desde os tempos em que liderava o Sindicato dos Metalúrgicos. Sentava e negociava. E protestava, se fosse o caso.
Trump piscou, e eles enfim conversaram.
Se o resultado não for um recuo no tarifaço ou nas sanções contra autoridades brasileiras, não foi por falta de tentativa.
Isso não significa que a crise está debelada. Ela é o começo do fim de um impasse, como já falamos por aqui. Mas a caminhada é longa.
Do lado bolsonarista, não faltou gente vindo a público minimizar a conversa entre os dois chefes de Estado. Entre eles Eduardo Bolsonaro, o enviado do pai aos Estados Unidos para assuntos conspiracionistas.
O deputado comemorou que o encarregado de Trump para liderar as negociações será o secretário de Estado Marco Rubio, um dos apoiadores mais radicais do presidente norte-americano. A leitura é a de que a encrenca ficou na mão na ala ideológica do governo republicano.
Sinal de que essa turminha do barulho ainda vai aprontar altas aventuras e confusões enquanto Fernando Haddad e Mauro Vieira, ministros da Fazenda e das Relações Internacionais, tentam fazer o papel de adultos da sala.
A oposição segue apostando no quanto pior, melhor.
Lula, enquanto isso, tenta domar as feras e ganhar tempo para que haja a menor interferência externa possível nas eleições de 2026. Para isso precisa seduzir Trump (o que vai oferecer na negociação? Não sabemos).
O bate-cabeça da extrema direita para definir um candidato capaz de substituir Jair Bolsonaro (PL) na disputa é sinal de que os ventos mudaram de rumo.
*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG