Donald Trump discursa na ONU
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Donald Trump discursa na ONU

O clã Bolsonaro fez que fez e, no fim das contas, colocou Donald Trump no colo do presidente Lula (PT) após dois meses de muita conspiração e pouco resultado prático.

Nem a Casa Branca nem a extrema direita brasileira conseguiu o que queria com  as sobretaxa às exportações brasileiras e as sanções contra autoridades responsáveis por investigar criminosos que tentaram um golpe de Estado no Brasil – Bolsonaro entre eles.

O Supremo Tribunal Federal condenou o núcleo 1 da quadrilha do mesmo jeito. E os efeitos do tarifaço, após dois meses, foram menores do que o esperado pelos conspiradores – é o que mostra a manchete do jornal O Globo desta segunda-feira (6).

Trump percebeu que só prejudicou o consumidor do seu país, o que levou a uma onda de contestações até mesmo entre parlamentares norte-americanos. E se viu obrigado a recuar.

Mais que isso: precisou se comportar que nem mocinho, como diziam nossas avós, e não como o marginal que ameaça botar fogo no parquinho toda vez que se conecta a uma rede social.

Trump e Lula se falaram por cerca de 30 minutos. E o presidente brasileiro falou o que tem falado em entrevistas, discursos e pronunciamentos oficiais: que os Estados Unidos precisa rever o tarifaço e as sanções para essa conversa avançar. 

Deram um primeiro passo para isso.

Ambos citaram a “boa química” que tiveram em um rápido encontro durante a Assembleia Geral da ONU, em Nova York, em setembro. “Boa química” é o nome para o espírito pragmático que de tempos em tempos acomete chefes de Estado.

A bola agora está com o secretário de Estado Marco Rubio, que tem carta branca para alinhar o possível recuo com os pares brasileiros.

Na conversa os líderes combinaram de se encontrar pessoalmente. Lula se desvencilhou da armadilha. Tem na memória o que Trump costuma fazer com líderes não-alinhados quando joga em casa – no caso, o Salão Oval da Casa Branca, onde os presidentes da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, já foram humilhados ao vivo e a cores. 

Lula sugeriu campo neutro. No caso a Cúpula da Asean, na Malásia. E convidou Trump a participar da COP30, em Belém. 

Mais importante que isso, ambos trocaram telefones para estabelecer uma via direta de comunicação – o que significa que já podem mandar figurinhas de WhatsApp ou acionar um ao outro toda vez que um subordinado se comportar mal.

Lula não perdeu a chance de comunicar, em nota oficial, que fez questão de lembrar o interlocutor de que na relação comercial entre os dois países quem leva a vantagem é Washington, diferentemente do que o chefe da Casa Branca anda espalhando por aí. 

Para Lula, o contato direto é uma “oportunidade para a restauração das relações amigáveis de 201 anos”.

Bolsonaro agiu como pode para destruir essa relação.

O telefonema entre Lula e Trump é o prenúncio de que não conseguiu. E quem tinha medo do que poderia acontecer por aqui caso o projeto de anistia não avançasse no Congresso já pode dormir com certa tranquilidade. (Viu, Hugo Motta? É com você mesmo).

É difícil que as tarifas caiam de um dia para o outro. Mas pior que está, ao que tudo indica, a situação não fica.


*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG

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