A Operação Carbono Oculto implodiu o sistema de lavagem de dinheiro do PCC em parceria com empresas financeiras da Faria Lima e caiu no colo de Nikolas Ferreira.
Isso porque, no início do ano, o deputado do PL de Minas Gerais viralizou nas redes sociais com um vídeo para atacar uma instrução normativa da Receita Federal que visava combater justamente os crimes desvendados pela Polícia Federal nesta quinta-feira (28).
Nikolas chamava a medida de “taxação do pix”, uma fake news que até hoje o governo não conseguiu desmentir.
Houve até uma campanha para informar que não era nada daquilo. Não adiantou: a repercussão foi tanta que o governo precisou recuar.
O objetivo, gritavam ministros e autoridades fiscais, era atualizar a lista de meios de pagamento que deveriam ser informados à Receita. E enquadrar as fintechs nas mesmas regras seguidas pelos bancos.
Após a operação, os investigadores praticamente desenharam como o crime organizado aproveitou as brechas na regulação desse tipo de instituição para enriquecer. Nas normas atuais o dinheiro não era rastreado e nem identificado.
Essas empresas poderiam criar uma “conta-bolsão” e abrir uma conta em um banco comercial em nome da própria fintech, por onde passavam os recursos de todos os clientes.
Maior alvo da fake news de Nikolas, o secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, não deixou a história passar batida.
Em uma entrevista coletiva, ele disse, sem citar o deputado, que as fake news envolvendo o Pix no início do ano impediram que o governo ampliasse a fiscalização das fintechs, que, segundo ele, se tornaram um dos principais "braços financeiros" da facção criminosa PCC.
Barreirinhas afirmou ainda que o sistema de lavagem de dinheiro só seguiu adiante em razão do ataque sofrido pela Receita em janeiro.
“Publicamos uma Instrução Normativa estendendo às fintechs as mesmas obrigações de transparência e de prestação de informações que todas as instituições têm há mais de 20 anos no Brasil. Publicamos em setembro, e em janeiro, a Receita recebeu o maior ataque da história de mentiras e de fake news dizendo que a instrução se tratava de tributação dos meios de pagamentos”, disse.
As operações, segundo ele, mostram que, independentemente das intenções, “as pessoas que espalharam aquelas fake news, aquelas mentiras no início do ano, ajudaram o crime organizado”.
O discurso deu impulso para o governo federal partir para cima das fintechs, que agora serão tratadas como instituições financeiras como qualquer outra.
Segundo Fernando Haddad, a ideia é aumentar o poder de fiscalização.
No campo político, deputados da base não perderam a chance de tripudiar contra um dos mais agressivos bolsonaristas da praça.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), já começou a recolher assinaturas para a CPI das Fintechs.
E dois deputados – Rogério Correia (PT-MG) e Duda Salabert (PDT-MG) – pediram à Procuradoria Geral da República investigações sobre o que moveu os ataques de Nikolas em janeiro.
Era uma bola alta demais para os governistas não cortarem.
*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG