Há 20 dias o governo Donald Trump oficializou as novas tarifas para exportações brasileiras.
O pretexto é o julgamento de Jair Bolsonaro (PL), que o chefe da Casa Branca diz ser vítima de uma perseguição política e jurídica no país.
Outras nações passam pelo mesmo achaque, e nenhuma delas tem Alexandre de Moraes como desculpa para acirrar uma guerra comercial que visa a reorganizar o tabuleiro econômico e frear a influência chinesa em áreas de interesse norte-americano – o Brasil, por exemplo.
Fato é que, nesses 20 dias, localidades que vivem da exportação de produtos para os Estados Unidos já não querem saber quem começou a briga. Querem resolver logo o rombo que se anuncia. O dinheiro fala mais alto do que a ideologia -- não só nessas horas.
E, para os exportadores, quanto mais o presidente Lula (PT) demora para pegar o telefone e conversar com Trump em busca de uma solução para o impasse, mais culpa ele leva pela crise.
Prova disso é a pesquisa Datafolha divulgada em 16 de agosto. O levantamento aponta que 36% dos brasileiros atribuem ao petista a resonsabilidade pelo tarifaço. Jair Bolsonaro, que coordenou o boicote pelo celular recentemente apreendido pela PF, é citado por 22% dos eleitores, e o filho dele, Eduardo Bolsonaro, por 17%.
Lula tem suas razões para não telefonar para Trump.
Não quer passar por uma tentativa de constrangimento como aconteceu com Volodymyr Zelensky na primeira visita à Casa Branca.
E, além do mais, o que Trump pede (o fim da “perseguição” a Bolsonaro”) ele não pode entregar. No Brasil o sistema de separação de Poderes impede que um presidente diga a um ministro do STF o que ele deve fazer.
Às vésperas da eleição, no entanto, não parece uma boa estratégia ir para a briga ou sentar e fingir que nada acontece enquanto especialistas projetam perdas de até R$ 175 bilhões no Produto Interno Bruto ao longo dos próximos 10 anos por causa do tarifaço. O alerta é da Fiemg, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais.
Além da retração — que representaria um impacto negativo de 1,49% no PIB no longo prazo —, as sanções podem eliminar cerca de 1,3 milhão de postos de trabalho no Brasil.
Nos lugares e setores que vivem de exportação, isso seria a morte certa.
Para não levar a fama, Lula começa a se movimentar pelas beiradas.
A repórter Carolina Brígido contou no Estadão que a Advocacia Geral da União pretende contratar um escritório de advocacia para atuar nos Estados Unidos para tentar reverter as sanções (e também e as punições a autoridades definidas com base na Lei Magnitsky).
A ideia é acionar tribunais norte-americanos e denunciar uma suposta ilegalidade das medidas de Trump.
Outra estratégia acaba de ser anunciada pelo Planalto: o governo federal vai comprar de forma simplificada (sem licitação) produtos de exportadores brasileiros afetados pelo tarifaço, como açaí, água de coco, castanha-de-caju, castanha-do-brasil, manga, mel natural e pescados.
Os produtos serão direcionados para formar estoques e abastecer escolas públicas.
Produtos que não são tão dependentes do mercado norte-americano, como café e carne bovina, estão fora da lista – o governo aposta que ambos os itens ainda serão isentos por Trump, caso haja um desabastecimento do mercado local.
As medidas podem aliviar os estragos que o bolsonarismo planejava para sangrar o país às vésperas do julgamento de Bolsonaro e os outros sete réus do núcleo 1 da trama golpista.
E reforçam a estratégia de Lula de defender a soberania nacional, nem que seja para bancar o prejuízo dos brasileiros afetados, e mesmo que o agressor seja o presidente da maior potência econômica (por enquanto) do Planeta.
*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG