Alexandre de Moraes entrou em uma sinuca de bico desde que Donald Trump acionou a metralhadora e prometeu uma série de punições ao Brasil em (suposta) retaliação ao processo judicial contra Jair Bolsonaro pela trama golpista.
Sem medidas restritivas, como o uso de tornozeleira eletrônica e o silenciamento nas redes, o ex-presidente seguiria tramando livre, leve e solto contra o próprio país escorado no filho Eduardo e as autoridades norte-americanas.
Se aplicasse as restrições, seria acusado de perseguição -- como já está sendo.
Mais que isso, as limitações a Bolsonaro tornaram tênues as linhas do que o ex-presidente pode e do que não pode.
Falar nas redes não pode.
E gravar entrevistas?
Também não, diz Moraes, já que os veículos poderiam ser usados como intermediários para o réu falar...nas redes.
Bolsonaro não fez nem uma coisa nem outra ao se queixar da tornozeleira eletrônica a jornalistas que o esperavam na saída de um encontro com parlamentares do PL na Câmara nesta segunda-feira (21).
O conteúdo, adivinha, foi parar nas redes.
O desafio de Moraes se complicou. Se deixasse passar, desacreditaria a própria autoridade. E Bolsonaro hoje tentaria de novo, pulando algumas jardas, esticar os limites da medida.
Se Moraes mandasse os advogados explicarem se houve drible na medida restritiva, como fez, daria a Bolsonaro a opção de pagar pra ver: com a perspectiva de ser condenado e preso pela trama golpista nos próximos meses, ele poderia forçar uma detenção preventiva como um suposto heroi calado e alvejado pelo suposto perseguidor.
O cálculo político em algum momento se confundiu com a ordem jurídica. E também com o medo de passar mais tempo preso do que aguentaria.
Provocar a comoção social com uma prisão injusta aos olhos do público leigo é tudo o que Bolsonaro quer neste momento.
E é tudo o que Moraes não precisa para garantir a credibilidade de um julgamento...justo.
*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG