Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede)
Reprodução / Agência Brasil
Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede)


Parecia filme repetido, mas não era.

De volta ao Congresso, cerca de um mês após ser desrespeitada por senadores em uma audiência na Comissão de Infraestrutura, Marina Silva foi novamente atacada, desta vez por deputados.

A ministra do Meio Ambiente foi convocada para falar sobre número de queimadas e desmatamento. Mas ninguém queria ouvir o que ela tinha a dizer.

Inclusive o autor do requerimento, o deputado Evair de Melo (PP-ES), que voltou a dizer que a ministra é “adestrada” e, do nada, associou o discurso dela à retórica das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, do Hamas e do Hezbollah.

Como chegou a essa associação, nem Deus sabe.

Ele também disse que a ministra, que trabalhava aos 10 anos em um seringal no Acre, onde nasceu, sobreviveu e se criou, “nunca trabalhou” em algo produtivo.

Marina ousou uma explicação.

Se o assunto era análise de discurso, ela mostrou que ao menos tinha base teórica para debater.

Chamou até o psicanalista francês Jacques Lacan para a conversa.

Mas foi de Ricardo Goldenberg, psicanalista argentino, que ela pegou emprestada uma chave de compreensão do ofensor: “você não se revela naquilo que o outro diz de você. Ou naquilo que você diz de si mesmo. Você se revela quando você se refere ao outro. E vossa excelência se revelou. Quem entende sabe em que você se revelou na análise de discurso que você supostamente fez”.

Talvez o deputado não tenha entendido, mas ficou a lição (para quem ouviu).

Melo era um dos muitos parlamentares da tropa de choque bolsonarista que viu na presença de Marina uma oportunidade de fazer corte para as redes com base naquilo que pode causar repúdio em muita gente, mas é um manancial de votos para quem pensa e age como eles.

A estratégia ali era tirar uma mulher do sério, esperá-la reagir, e na sequência acusá-la de ser avessa ao diálogo. Ou histérica.

Marina se negou a permanecer na audiência do Senado, no fim de maio, após ouvir que não merecia ser levada a sério como ministra.

Dessa vez ficou até o fim.

Ouviu todo tipo de barbaridade de trogloditas que estavam ali para constranger não só a mulher e a ministra, mas desacreditar a pauta ambiental – como se, ao tirá-la do sério, provassem que a ministra não tinha seriedade para debater o tema ou confrontar a agenda do agronegócio (eles sim, na cabeça da turma, a parte produtiva do país).

Marina é representante ativa da ideia de que, se o pasto avançar em áreas de proteção, não vai sobrar floresta nem clima nem chuva para florescer qualquer plantio. Não haverá Planeta, enfim.

Não é de agora que os agrotrogloditas e seus representantes no Congresso evitam ouvi-la.

Eles já não sabem conversar com uma mulher.

Com uma que pensa por si e contesta a visão limítrofe de mundo que representam, talvez fosse esperar muito.

O ataque, de fato, revela mais sobre eles mesmos do que sobre o alvo planejado.

*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG

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