
Jair Bolsonaro reuniu neste domingo (29), na Avenida Paulista, em São Paulo, cerca de 12 mil pessoas para exibir um filme repetido.
Vai ver por isso o número de apoiadores aglomerados representa um terço dos quase 50 mil seguidores que foram ao mesmo local ouvir a mesma conversa em 6 de abril.
Bolsonaro se repete porque não tem ideias novas para apresentar. E o público se cansa.
O ex-presidente busca se safar da acusação de que liderou um motim golpista após as eleições de 2022.
Por isso bate sempre na mesma tecla: o Judiciário agiu a favor do adversário na eleição, o processo contra ele é resultado de perseguição, o atual presidente está afundando o país, ele fugiu para os Estados Unidos para não passar a faixa a um inimigo (ele usou outro termo dessa vez), etc.
Nada de novo debaixo do sol ou em cima do caminhão de som.
Novidade mesmo foi o apelo para que os fãs o ajudem a eleger maioria no Congresso no ano que vem.
Embora não admita, Bolsonaro sabe que não estará em campo na corrida presidencial. Mas quer reassumir o controle por outras vias.
Para isso, basta contar com ao menos 50% da Câmara e do Senado.
E então ele terá força suficiente para influenciar escolhas de chefes de estatais e autarquias, do Banco Central e, claro, do Judiciário. Com maioria no Senado ele pode barrar indicados ou pedir o impeachment de ministros do STF.
“Se vocês me derem, por ocasião das eleições do ano que vem, 50% da Câmara e 50% do Senado, eu mudo o destino do Brasil”, prometeu.
Parecia uma ameaça, e era.
Para ele, o melhor dos mundos seria eleger um aliado para o Planalto com seu apoio e ganhar em troca um indulto ou um compromisso com o projeto de anistia.
Caso contrário, uma bancada forte garantirá a faca no pescoço do próximo chefe da nação.
O problema é conseguir manter os planos até lá.
Bolsonaro tem sido pressionado por integrantes do agronegócio a lançar logo seu candidato a presidente para 2026. O setor quer uma definição rápida para que o postulante possa fazer frente ao atual presidente desde já, com mobilização de recursos e estratégia clara.
O ex-presidente quer levar a história em banho maria. Para manter o poder de barganha e garantir fidelidade até o fim – se o apoio viver agora, o que ele ganhará mais para frente?
Difícil imaginar que um dos filhos seja o escolhido.
Bolsonaro pena para emplacar Carlos Bolsonaro, hoje vereador no Rio, como candidato ao Senado por Santa Catarina.
O setor produtivo do estado resiste a um forasteiro no posto.
E a indicação, também para o Senado, de Eduardo Bolsonaro não é uma unanimidade no maior estado do país. Melhor o Zero Três permanecer nos EUA administrando a sucursal norte-americana do caos.
Tarcísio de Freitas (Republicanos) é o favorito dos empresários para assumir a empreitada. Ele até testou um discurso antipetista, música para os ouvidos da plateia, durante o ato em apoio a Bolsonaro na Paulista.
Mas pesa contra ele o fato de não ser, na avaliação dos radicais, um bolonarista-raiz, que peita o STF e mostra à plateia a disposição de ir ao sacrifício pelo ex-chefe. Ele sabe até comer de garfo e faca, e isso é um complicador para um candidato do time.
O fato é que quanto mais demora, mais Bolsonaro fica sem assunto para enrolar o público até 2026 – ou até uma possível sentença na trama golpista.
E isso explica por que o ato de domingo passou longe de ser um sucesso de público e crítica.
Bolsonaro parece cansado. Sua plateia também.
*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG