
Aqui e ali Jair Bolsonaro (PL) já dá sinais de que condicionará o apoio ao candidato da extrema direita à Presidência em 2026 à promessa de obter do futuro presidente, caso eleito, um indulto pelos crimes e pecados cometidos antes, durante e depois de seu governo.
Vai precisar de dois indultos.
Réu sob a acusação de liderar um golpe de Estado após as eleições de 2022, o ex-presidente acaba de ser apontado como um dos supostos beneficiários da atuação da chamada Abin Paralela, um eufemismo diante do que a agência de espionagem produziu sob o comando do hoje deputado Alexandre Ramagem (PL).
Bolsonaro e os comparsas, segundo a Polícia Federal, não se instalaram em um anexo do órgão e por lá promoveram as bisbiliotagens às sombras. Utilizaram, sempre de acordo com a PF, o centro da estrutura da Abin para monitorar, sem justificativa legal, inimigos, possíveis adversários e até aliados.
O ideal, portanto, seria dizer “Abin de Bolsonaro”.
As acusações são graves.
A investigação aponta que a estrutura da Abin foi usada até mesmo para ajudar o filho do então presidente, o hoje senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), a se desenrolar de investigações sobre as chamadas rachadinhas.
A agência abasteceu também as campanhas de desinformação direcionadas contra o sistema eleitoral. Foi por meio do trabalho da Abin que Bolsonaro teve acesso a um inquérito da PF citado em uma live sobre as urnas.
Pior: as informações passavam antes por Carlos Bolsonaro (PL), vereador do Rio sem cargo oficial no governo.
Carlos foi indiciado, sob a acusação de integrar a organização criminosa.
Ainda segundo a PF, a Abin monitorava os passos até de ministros do Supremo por meio de um software adquirido em Israel. Para isso, bastava apontar o celular do alvo. Um perigo para quem se tornaria alvo dos radicais que elaboraram o plano Punhal Verde e Amarelo, que pretendia matar o presidente eleito, Lula (PT), o vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Ramagem, chefe da turma, é alvo das duas investigações. Vai ver é só uma coincidência.
Todo esse trabalho consumiu recursos, estrutura e tempo de serviço de funcionários públicos para abastecer, de acordo com a PF, os interesses privados de Bolsonaro e companhia. O nome disso é corrupção.
O esquema ficou tão enraizado que permaneceu após a troca de comando na
Presidência.
Entre os quase 30 indiciados está o atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, acusado de acobertar os suspeitos e atrapalhar as investigações.
Por quê?
A resposta agora está nas mãos da Justiça, que em breve decidirá se tornará ou não os suspeitos em réus. A depender do que dizer a Procuradoria Geral da República, responsável pela elaboração da denúncia formal, será mais uma na conta de Bolsonaro.
*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG