
Lula deu as caras ontem no congresso do PSB que confirmou o prefeito de Recife, João Campos, como novo chefe da legenda.
Último a discursar, o presidente aproveitou o encontro entre amigos para mandar alguns recados.
Falou sobre a relação com o Parlamento e fez acenos a Hugo Motta (Republicanos-PB), o presidente da Câmara. Tudo isso em meio a uma queda-de-braço pela aprovação do aumento do IOF.
Mas o principal recado foi outro.
Provável candidato à reeleição, o petista sabe que terá pouca margem de manobra, caso saia vitorioso das urnas, se o bolsonarismo fizer o que promete daqui a pouco mais de um ano e povoar o Senado com extremistas.
Em 2026 cada estado escolherá dois senadores.
A composição, que hoje já é hostil para um governo progressista, tende a piorar -- isso, claro, se ele for mesmo reeleito.
Em 2018, todas as atenções da esquerda estavam voltadas às eleições presidenciais. O maior temor, confirmado no fim das contas, era ver um deputado de baixo clero com pendores autoritários eleito presidente. Foi o que aconteceu.
Na onda, Jair Bolsonaro, então no PSL, elegeu uma fileira de aliados pouco conhecidos fora do nicho. Chegaram ao Senado assim aliados de peso como Major Olimpio (SP), morto dois anos depois, vítima da Covid que o próprio presidente ajudou a agravar.
Quatro anos depois os bolsonaristas perderam a batalha presidencial, mas não a do Congresso. Elegeram aliados como o astronauta Marcos Pontes (PL), Damares Alves (DF) e o ex-vice Hamilton Mourão.
E tornaram a vida de Lula, de volta à Presidência, um pouco mais complicada.
O PL de Bolsonaro possui hoje 13 senadores.
O PT tem 9.
MDB, PSD, Republicanos, PP e outras legendas que transitam conforme os ventos formam o cinturão ora de apoio ora de empecilhos ao governo.
Nada que não possa piorar.
Lula sabe disso e deixou o seguinte alerta aos parceiros do PSB, partido dos ministros Márcio França (Microempreendorismo) e Geraldo Alckmin (Desenvolvimento), seu vice.
Em 2026 estarão 54 das 81 vagas em disputa.
Se a oposição tiver maioria, poderá ser determinante não apenas para os planos do próximo governo. Poderá afetar diretamente a vida do Judiciário.
Cabem aos senadores, afinal, sabatinar os nomes indicados ao Supremo Tribunal Federal. Podem também, a qualquer momento, colocar em votação o impeachment dos integrantes da Corte.
Se já pudessem fazer isso em 2022, provavelmente Alexandre de Moraes não seguiria à frente de inquéritos no STF como o dos atos antidemocráticos e o das fake news. Também não estaria no comando do Tribunal Superior Eleitoral naquela disputa.
Os radicais teriam, assim, caminho livre para contestar o resultado das urnas e fazer que bem quisessem nas ruas sem punição.
Por isso o recado de Lula foi direto: "Em 2026 precisamos eleger senadores da República. Porque se esses caras elegerem a maioria dos senadores, vão fazer uma muvuca nesse país", afirmou. “Vão avacalhar com a Suprema Corte", finalizou.
Lula sabe que o PT, sozinho, não dá conta do recado. O partido, que já teve dois dos três senadores por São Paulo, hoje mal tem chances nas disputas majoritárias no maior colégio do país. Isso para ficar só em um exemplo.
Por isso precisa do apoio de legendas como o PSB.
Os anfitriões da tarde possuem nomes de peso, como o próprio João Campos, em Pernambuco, e Tabata Amaral, em São Paulo. Ambos são mais palatáveis a um eleitorado que não embarcou no bolsonarismo mas torce o nariz quando ouve falar do PT.
Apontar os riscos à Suprema Corte caso uma enxurrada de parlamentares bolsonaristas tome conta do Senado a partir de 2026 é um modo de ligar o alerta desde já.
*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG