
Faz dois meses que Eduardo Bolsonaro viajou para os Estados Unidos, pediu licença da Câmara e avisou que por lá ficaria.
O Zero Três pretendia se dedicar a convencer o governo Donald Trump a atuar pela anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023.
A preocupação não era com os seguidores obedientes do pai, Jair, que dois anos antes invadiram as sedes dos Três Poderes com a convicção de que estavam tomando o poder. A preocupação é com o próprio pai, réu no processo da trama golpista que pode levá-lo à prisão.
As evidências sobre a participação do ex-presidente no movimento que explodiu em 8 de janeiro são muitas, como apontam os depoimentos de testemunhas ouvidas pelo STF desde a semana passada.
A missão de Eduardo é tentar dinamitar a credibilidade do Judiciário brasileiro junto à opinião pública internacional antes que o pai seja condenado.
O alvo principal é Alexandre de Moraes.
No vídeo em que anunciou o afastamento do cargo, o deputado licenciado chamou o ministro do STF de “psicopata" e chefe da "gestapo da Polícia Federal", uma referência à polícia secreta de Adolf Hitler.
Imagina o que não diz nos bastidores, longe das câmeras.
Paulo Gonet, o procurador-geral da República, imaginou. (Bem ele, que se posicionou contra um pedido de parlamentares do PT para que Eduardo Bolsonaro tivesse o passaporte retido e fosse impedido de perambular para os Estados Unidos).
Gonet viu as digitais do Zero Três nas ameaças recentes do Departamento de Estado dos Estados Unidos de aplicar sanções a Moraes e “coagir” o STF – algo tão grave quanto entrar na sede da corte e depredar os móveis e equipamentos.
(Ou o filho de alguém pode se referir assim a um juiz antes de ouvir a sentença em algum tribunal do Planeta sem correr risco de ser acusado de coação?)
Na petição, o procurador-geral argumenta que Eduardo tem cumprido agendas com congressistas note-americanos e membros da gestão Trump. Tudo para convencê-los a impor medidas contra o magistrado, que ficaria impedido de abrir contas ou usar cartão de crédito em caso de sanção.
Da Ordem dos Advogados do Brasil ao Palácio do Planalto, as ameaças foram compreendidas como um ataque à soberania nacional. E são.
Eduardo, segundo a PGR, quer "interferir no andamento regular dos procedimentos de ordem criminal, inclusive ação penal, em curso contra o sr. Jair Bolsonaro e aliados". Quer também "perturbar" o trabalho da PF.
Eduardo não era sequer investigado no Brasil quando foi aos Estados Unidos para buscar ajuda do amigo grandalhão e salvar a pele do pai.
Quando voltar, pode ser até detido por conspirar contra a própria nação. O pedido do PGR já está nas mãos de Moraes, o relator na Corte do inquérito das fake news e outras.
Uma eventual punição de Eduardo por conspiração seria uma ironia e tanto para uma família que se gaba de ter o monopólio do patriotismo no Brasil – seja lá que patriotismo é esse que despreza a cultura do país e bate continência para a bandeira norte-americana.