
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, afirmou, em entrevista coletiva nesta segunda-feira (19), que três casos suspeitos de gripe aviária foram descartados. De acordo com a atualização da pasta, os focos em Nova Brasilândia, no Mato Grosso; Triunfo, Rio Grande do Sul; e Gracho Cardoso, em Sergipe, passaram por análise e não se confirmou a doença.
Os casos em Aguiarnópolis, no Tocantis; Impumirim, Santa Catarina; e Salitre, no Ceará, seguem em investigação. Todos esses focos são de aves comerciais. O primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial brasileira foi registrado em Montenegro, no Rio Grande do Sul, na quinta-feira (15/5). A granja atingida abrigava 17 mil aves, parte delas morreu e o restante foi sacrificado.
De acordo com o ministro, o local onde foi encontrado o primeiro caso passou por desinfecção. A partir dessa detetização total do ambiente, que ocorre no mesmo dia em que é feita a comunicação oficial do contágio, são contados 28 dias e, caso não seja registrado nenhuma outra ave infectada, então o Brasil terá eliminado o vírus.
O início da contagem deve ocorrer na quarta-feira (21), quando terá passado um dia depois da desinfecção da granja. "Depois que termina de desinfectar a granja, o dia seguinte é considerado o marco zero e inicia-se a contagem dos 28 dias. Então, na medida que o tempo vai passando, e a voracidade do vírus é facilmente detectável. Se não ocorrer nenhum outro caso nesse período, significa que o ciclo do vírus foi quebrado e poderemos nos autodeclarar liivres da gripe aviária", explicou.
O ministro também reafirmou que não há risco sanitário no consumo de carne de frango e ovos fiscalizados. Segundo Fávaro, a possibilidade de contágio da influenza aviária em humanos são para as pessoas que manusearam as aves infectadas que, no caso confirmado e nos que passam por análise, são os funcionários e donos das granjas.
Essas pessoas que tiveram contato com o foco da doença, passam por análises clínicas e ficam em quarentena até que seja descartado o contágio. "Os colaboradores da granja onde ocorreu o foco estão isolados, em processo de monitoramento. Não temos outros casos, mas será dado todo o suporte porque, de fato, o maior risco de contaminação é em quem manuseia", reforçou o ministro.
A influenza aviária é causada por variantes do vírus influenza A, com destaque para a cepa H5N1, de alta patogenicidade. A transmissão ocorre principalmente entre aves, por contato direto ou indireto com secreções ou fezes contaminadas.
A introdução do vírus em criações industriais pode levar a altas taxas de mortalidade entre animais e a restrições comerciais. Por isso, a incidência de casos no país causa preocupação, já que o Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango.
Outros casos
No Brasil, os primeiros focos foram confirmados em maio de 2023, sempre em aves silvestres. Até 31 de março deste ano, o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) contabilizou 162 ocorrências, com distribuição em 11 estados e no Distrito Federal.
Três focos ocorreram em criações de subsistência — sem fins comerciais — nos estados do Espírito Santo, Paraná e Rio Grande do Sul. Segundo os dados mais recentes do Mapa, os casos em aves silvestres foram identificados principalmente em espécies costeiras, como trinta-réis, gaivotas e atobás.
A origem provável do vírus no país é atribuída a aves migratórias. O Rio Grande do Sul e Santa Catarina concentram a maior parte dos focos, com 40 e 33 registros, respectivamente.
O Brasil mantém o reconhecimento internacional de país livre de gripe aviária em sua avicultura comercial.
Esse status é conferido pela OMSA (Organização Mundial de Saúde Animal) e tem sido preservado por meio de ações de vigilância e controle conduzidas em cooperação entre o Mapa e os Serviços Veterinários Oficiais estaduais. Até o fim de março deste ano, 2.540 suspeitas foram investigadas, sendo 2.378 descartadas.
Entre as medidas adotadas estão o isolamento dos focos, eliminação sanitária das aves contaminadas, desinfecção dos locais e intensificação da vigilância em propriedades vizinhas. Todas as ocorrências são notificadas à OMSA e aos principais países importadores.
Exportações
Em 2024, o Brasil exportou cerca de US$ 10 bilhões em carne de frango, respondendo por 35% do comércio mundial. A atividade emprega aproximadamente 500 mil pessoas diretamente.
Desde que foi notificado o caso mais recente da gripe aviária, 11 países se manifestaram para fechamento integral ou parcial das importações de aves brasileiras. Dos cerca de 160 países que mantém vínculo comercial com o Brasil, o México, Coréia do Sul, Chile, Canadá, Uruguai, Malásia, União Europeia e Argentina, decidiram suspender totalmente as compras.
Cuba, Japão e Singapura comunicaram o fechamento comercial para a região em que foi detectado o caso na última semana e para outras cidades em um raio de 10km a partir de Montenegro.
Segundo o governo, a preservação das exportações depende da continuidade da vigilância e da contenção dos casos fora do sistema produtivo industrial. Entretanto, o ministro Fávaro assegurou que o cenário atual não deve causar outros impactos nas exportações, já que o sistema de controle de infecção no Brasil é confiável.
De acordo com o ministro, a partir do início da contagem dos 28 dias, a confiança do mercado vai retornar. "Na medida que o tempo vai passando, o mercado vai voltando a confiar. Conforme for passando 10 dias, 15 dias, desde o marco zero e novos casos não sendo registrados, muitos importadores não esperam nem finalizar o 28 dias e já começam a regionalizar", disse.
"Isso também minimiza o impacto", acrescentou Fávaro. O ministro ainda ressaltou que nem todos os países suspenderam a compra da mercadoria brasileira. De acordo com o MAPA, alguns importadores fecharam as portas apenas para aves e derivados que saem do local onde foi encontrado o caso mais recente e para outras regiões em um raio de 10km.
"O nosso objetivo é ser o mais transparente possível para que, com mais rapidez, a gente reestabeleça, país a país, o fluxo comercial", destacou Fávaro.
Revisões periódicas
O Plano Nacional de Contingência para a Influenza Aviária, criado em 2006 e revisado periodicamente, norteia as ações. Entre as diretrizes estão a capacitação de técnicos, realização de simulados e campanhas educativas.
O programa “Fique Atento, Influenza Aviária” é um dos instrumentos utilizados para mobilizar produtores, comunidades e órgãos públicos.
No cenário internacional, o vírus H5N1 tem causado surtos em diversos países desde 2006. Desde 2022, os Estados Unidos abateram mais de 169 milhões de aves em razão da doença.
Na América do Sul, Argentina, Chile e Peru enfrentaram focos em granjas comerciais nos últimos dois anos. A proximidade geográfica e o fluxo migratório de aves mantêm o alerta para o Brasil.
O Mapa orienta a população a reportar qualquer ocorrência de morte ou comportamento anormal em aves ao serviço veterinário local.