
CPMI do INSS. Manobra para livrar Alexandre Ramagem e um bonde -- puxado por Jair Bolsonaro -- do processo, no STF, pela trama golpista. Projetos para anistiar quem invadiu as sedes dos Três Poderes e quebrou o que viu pela frente.
Tudo com apoio de parlamentares da base aliada – no caso da CPMI, com assinatura até do senador Fabio Contarato (PT-ES).
São muitos os desafios do governo Lula para organizar a base e chegar inteiro a 2026, ano em que o petista deve disputar a reeleição.
Mas é outro assunto que parece tirar o sono do presidente: quem, da comitiva que viajou com até a China, vazou uma conversa entre ele, a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, e o presidente chinês Xi Jinping, em um jantar nesta terça-feira?
No encontro estavam nove ministros, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o deputado Elmar Nascimento (União-BA). Um deles telefonou para dois colunistas da GloboNews e relatou uma situação aparentemente constrangedora durante o jantar.
Segundo o relato, em certo momento Janja teria pedido a palavra e desandou a falar sobre os efeitos nocivos do TikTok, uma rede social chinesa, no Brasil. Ela teria argumentado que o algoritmo da plataforma estaria favorecendo o avanço da extrema direita no país.
Os comensais, ainda de acordo com a testemunha, quase engasgaram de vergonha. À boca-pequena, classificaram a postura da primeira-dama inadequada e desrespeitosa. O encontro, afinal, não previa falas. Mas ela foi lá, sem pedir licença, e falou.
Janja saiu na foto, assim, como a mulher sem noção que não pensa duas vezes antes de descarregar o que vem à cabeça. Parece uma fotografia misoginia – e é.
Lula precisou vir a público dizer que em momento algum houve manifestação desrespeitosa por parte da primeira-dama.
"Eu fiz uma pergunta ao companheiro Xi Jinping se era possível enviar para o Brasil uma pessoa da confiança dele para discutir a questão digital e, sobretudo, o TikTok", explicou Lula.
Foi neste momento, segundo Lula, que Janja pediu a palavra e relatou que, no Brasil, mulheres e crianças são alvos preferenciais de ataques no Tik Tok. Nenhuma mentira até aqui.
Tanto não houve climão, de acordo com o presidente, que o próprio Xi Jinping respondeu que o Brasil tem direito a fazer a regulamentação – um tema que está na ordem do dia e envolve também outras plataformas, a maioria sediada no Vale do Silício, nos Estados Unidos.
Feito o esclarecimento, Lula deixou clara a irritação com o fogo-amigo.
“A primeira coisa que acho estranha é como essa pergunta chegou à imprensa, porque estavam só meus ministros lá, o [presidente do Senado, Davi] Alcolumbre e o [deputado] Elmar [Nascimento]. Alguém teve a pachorra de ligar para alguém e contar uma conversa que aconteceu em um jantar que era algo muito pessoal e confidencial", lamentou.
Faltou exigir uma CPMI para apurar o vazamento.
Talvez seja desnecessário, já que os próprios ministros se dispuseram a mostrar ao chefe o histórico das conversas de celular para afastar qualquer desconfiança.
Lula deveria aceitar?
Bem. Este parece um tema menor, quase uma fofoca de salão, mas não é.
Saber quem vazou a conversa é saber em quem o presidente pode ou não confiar para seguir em frente. Como ele disse: se tem alguém descontente com o que acontece nas viagens, seria melhor falar diretamente com ele, não com terceiros.
Há quem veja na fofoca as digitais do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa. Os autores do comig-não-morreu já não gostam muito dele. A fritura só cozinha proque tem fofoca dentro da fofoca.
Seja quem foi, esta não foi a primeira nem será a última vez que um integrante do governo corre à imprensa para se queixar da postura de Janja.
O grande “pecado” dela é não se adequar ao estereótipo das antecessoras -- ou seja, belas, recatadas e do lar.
A “audácia” de Janja produziu ao menos um efeito positivo – além de fazer Lula acender o alerta sobre o fogo-amigo.
Ontem o TikTok enviou uma carta por email ao governo brasileiro dizendo que tomou conhecimento da conversa de Lula e Janja com líder chinês Xi Jinping e se mostrou à disposição para dialogar sobre sua atuação no país.
A mensagem da rede, conforme relevou a colunista da Folha de S.Paulo Monica Bergamo, foi enviada para o Itamaraty. O chanceler Mauro Vieira já comunicou o presidente e uma conversa deve acontecer em breve. Desta vez, sem que o Supremo precise notificar ninguém.