O tenente-coronel Mauro Cid, em depoimento a CPI da Câmara Legislativa do DF
Antônio Cruz/Agência Brasil - 24.08.2023
O tenente-coronel Mauro Cid, em depoimento a CPI da Câmara Legislativa do DF

A investigação da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022  descobriu, a partir de mensagens trocadas em um grupo de WhatsApp, que os militares envolvidos não estavam preocupados em uma eventual punição pelo plano golpista, pois acreditavam que sairiam impunes.

Em 4 de janeiro de 2023, um integrante do chat enviou uma mensagem afirmando que o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), não iria querer "mexer nesse vespeiro" e que, se houvesse "caça às bruxas" dentro do Exército, seria como "apagar fogo com gasolina".

"Se alguém tiver lido nossas mensagens, vai preferir fingir que não leu. Primeiro que além desse grupo existem milhares outros. Vão mandar prender ou punir todo mundo? Na bucha eles preferem fingir que está tudo bem, que as FA não são golpistas. (...) Mas na prática ninguém quer mais instabilidade ainda. Imagina o AM (Alexandre de Moraes) mexendo nesse vespeiro! Imagina dentro da própria Força essa eventual caça às bruxas!!! = apagar fogo com gasolina", diz o militar.

A mensagem foi enviada no grupo "Dossss!!!", administrado pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL). Foi nesse mesmo grupo que a PF descobriu  diálogos dos militares sobre a criação de um "campo de prisioneiros" ao longo das operações, com algumas mensagens fazendo alusão ao campo de concentração em Auschwitz, que deixou milhões de mortos durante o regime nazista na Segunda Guerra Mundial.

O grupo de bate-papo se tornou um alvo da Polícia Federal após um integrante postar uma carta para pressionar o então comandante do Exército, o general Freire Gomes, a aderir ao plano golpista. "E aí, agora todos colocaremos o nome nessa rela aí. Ou seremos leões de Zap", postou um militar, pedindo adesões ao documento.

Segundo as investigações da PF, Freire Gomes se recusou a participar da trama, mesmo com a pressão dos militares e membros do governo Bolsonaro.

A partir da análise das mensagens de teor golpista, a PF indiciou alguns membros do grupo a prestar depoimento. Um deles contou que o nome do grupo se referia à última sílaba do termo "Comandos" e era formado por cerca de 90 militares das Forças Especiais, conhecidos como "kids pretos".

A investigação da PF também descobriu que pelo menos seis kids pretos foram mobilizados para executar um plano de sequestro e "neutralização" (ou seja, assassinato) do presidente Lula (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes.

No grupo, um integrante chegou a perguntar se "vai ter careca sendo arrastado por blindado em Brasília?", em referência a menções pejorativas para se referir a Moraes.

Operação Contragolpe

Na quinta-feira da semana passada, a PF encerrou a investigação sobre a atuação de uma organização criminosa para realizar um golpe de Estado e manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder, após ser derrotado por Lula no pleito.

A corporação indiciou 37 pessoas, entre elas o ex-presidente. O inquérito foi tornado público pelo relator do caso, o ministro Alexandre de Moraes, na última terça-feira (26).

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