Como PF chegou a 'kid preto' que queria matar Moraes
Marcelo Camargo/Agência Brasil - 04.10.2016
Como PF chegou a 'kid preto' que queria matar Moraes

O  major Rafael de Oliveira foi um dos "kids pretos" presos no âmbito da Operação Contragolpe,  deflagrada nesta terça-feira (19) pela Polícia Federal (PF) contra uma organização criminosa que planejava um golpe de Estado, além da a prisão e a morte do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após as eleições de 2022.

Para identificar a atuação do  major Joe, como é conhecido, a PF fez uma correlação imediata entre as mensagens encontradas nos celulares apreendidos e duas provas: a digital encontrada em uma foto e o boletim de ocorrência (BO) de uma batida de carro. As informações são do Estadão.

Não é a primeira vez que o major Joe entra na mira da PF. Ele também foi alvo da Operação Tempus Veritatis, deflagrada em fevereiro, da qual saiu usando tornozeleira eletrônica. Na época, a PF apreendeu o celular do 'kid preto', o que contribuiu para que a corporação descobrisse mais detalhes da "Operação Copa 2022".

Operação Copa 2022: como CNH e BO de batida foram provas para PF

Conforme identificado pela PF nas mensagens encontradas, o plano de prisão e morte do ministro - que envolvia seis militares - foi colocado em prática em 15 de dezembro de 2022. Entretanto, a ação foi abortada, pois o julgamento do STF que aconteceria no dia foi adiado.

Para operacionalizar a ação, os militares usaram telefones frios, em nome de terceiros, assim como codinomes de países que disputaram a Copa do Mundo de 2022 — Japão, Brasil e Alemanha, por exemplo —para ocultar suas identidades.

O envolvimento do major Joe foi identificado pela PF após o cruzamento entre os dados encontrados no celular apreendido em fevereiro e os números analisados durante a Operação Contragolpe.

No dia 24 de novembro de 2022, ocorreu um acidente envolvendo um carro alugado pelo major Joe e o veículo de Lafaiete Teixeira Caetano. Durante a interação entre os dois motoristas, Joe fotografou documentos de Lafaiete, incluindo sua carteira de habilitação e o certificado de registro de seu veículo. Em uma das fotos, aparece a sua digital - que depois foi reconhecida pela PF.

No dia 6 de dezembro de 2022, Lafaiete registrou um boletim de ocorrência junto à Polícia Civil de Goiás, narrando o acidente de trânsito ocorrido em 24 de novembro.

Em 8 de dezembro, o major usou as fotografias dos documentos para habilitar um chip telefônico no nome de Lafaiete, sem o seu consentimento. No aplicativo de mensagens usado pelos militares para operacionalizar a ação golpista contra o ministro, o número vinculado ao chip recebeu o nome de usuário "teixeiralafaiete230".

No dia da ação, o usuário teixeiralafaiete230 compartilhou a informação de que o STF havia adiado a votação sobre o orçamento secreto. É o mesmo usuário que dá a ordem para abortar a missão, após um dos militares perguntar se vai cancelar "o jogo".

Foi essa "imediata correlação" entre as fotos dos documentos, o boletim de ocorrência e o nome de usuário que encurralou o major: a PF concluiu que ele usou os dados de Lafaiete, um "terceiro de boa-fé", para habilitar número telefônico que, posteriormente, foi utilizado na ação clandestina do dia 15 de dezembro de 2022.

A PF também descobriu que, antes do acidente, no dia 12 de novembro, Joe participou de reunião na casa do general Braga Netto, ex-ministro da Defesa, na qual foi aprovada o plano de ação dos kids pretos contra Moraes.

Operação Contragolpe

Segundo a PF, o esquema para prender o ministro é um "verdadeiro capítulo no contexto de tentativa de golpe de Estado". Na visão dos investigadores, ele está diretamente relacionado ao plano Punhal Verde Amarelo, encontrado com o general Mário Fernandes, também preso na terça-feira (19), que discorria sobre a morte de Lula e Alckmin. Além de Fernandes e do major Joe, outros dois militares e um policial federal foram detidos.

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