'Dor que carrego no peito', diz viúva de Marielle Franco após condenação de assassinos

Mônica refletiu sobre o significado da justiça e a importância de respostas à sociedade

A vereadora também ressaltou a complexidade de seus sentimentos
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil - 24/03/2024
A vereadora também ressaltou a complexidade de seus sentimentos


Nesta quinta-feira (31), Mônica Benício , viúva de Marielle Franco e atualmente vereadora, utilizou as redes sociais para manifestar seu posicionamento sobre a condenação dos ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz , acusados pelos assassinatos da ex-vereadora e do motorista Anderson Gomes .

“Foram muitas as vezes que me perguntei quanto tempo mais eu teria que aguentar essa dor que carrego no peito provocada pelo assassinato da minha esposa, e que é agudizada pela injustiça de não ver seus assassinos sendo condenados pelo o que fizeram”, afirmou Mônica em uma das postagens.

Em seguida, destacou o esforço contínuo para manter a fé em um desfecho justo: “Nunca deixei de acreditar, mas a cada dia de espera a esperança era colocada à prova. Foi com muito esforço que construí, nesses 6 anos e 7 meses, uma fé inabalável de que esse momento chegaria e, a cada dia de luta, encontrando motivos para acreditar que seguir de cabeça erguida e peito aberto era o que ela esperaria de mim”.

A vereadora também ressaltou a complexidade de seus sentimentos, mencionando que, apesar da condenação, a ausência de Marielle ainda é irreparável: “Nenhuma sentença é reparadora. Nenhuma condenação é restauradora da ausência. Não é felicidade o que sinto. O corpo e o coração permanecem tensos. Mas há a sensação de algum alívio em ver, pela primeira vez, alguma materialidade nisso tudo, uma explicação e uma responsabilização que tanto foi esperada, mas especialmente construída com a luta incansável de nós”.

Mônica finalizou sua mensagem refletindo sobre o significado da justiça e a importância de respostas à sociedade: “E nós, que lutamos por um mundo menos desigual e mais justo, sabemos que a justiça que buscamos não tem um preço, muito menos um fim. Mas se diante da dor, do pior dia das nossas vidas, daquela noite sem fim em que Marielle nunca chegou para jantar, se diante desse tempo de vida não há retorno, tampouco é possível seguir sem respostas. A resposta é aquilo que a sociedade acordou que é importante que se aprenda como lição, para que nunca se esqueça, para que nunca mais aconteça”.


Condenação

Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram condenados pelos crimes de duplo homicídio triplamente qualificado e tentativa de homicídio triplamente qualificado contra Fernanda Chaves, que sobreviveu ao atentado.

Lessa recebeu a pena de 78 anos e 9 meses de prisão, enquanto Queiroz foi condenado a 59 anos e 8 meses.

Crime

Em 14 de março de 2018, Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro, e Anderson Gomes foram mortos a tiros na região central da cidade.

O ataque ocorreu enquanto o veículo em que estavam era seguido por cerca de quatro quilômetros desde a Casa das Pretas, na Lapa, onde Marielle havia participado de um evento.

A abordagem aconteceu na Rua Joaquim Palhares, no bairro do Estácio, e os tiros foram disparados de um Cobalt prata clonado. Fernanda Chaves, assessora de Marielle, estava no carro e foi atingida por estilhaços, mas sobreviveu.

Investigação e prisão

A investigação foi realizada por uma força-tarefa da Divisão de Homicídios do Rio de Janeiro, em conjunto com promotores do Ministério Público. Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram presos em 12 de março de 2019, um ano após o crime.

Ambos foram detidos em suas casas e não apresentaram resistência durante a prisão. As investigações revelaram que Lessa teria sido o autor dos disparos, enquanto Queiroz era o condutor do carro envolvido no atentado.

Mandantes

Paralelamente, as investigações apontaram que os assassinatos podem ter sido encomendados por motivos ligados a disputas fundiárias e à influência de grupos milicianos no Rio de Janeiro.

Em um inquérito que passou pela Polícia Federal, Tribunal de Justiça, Superior Tribunal de Justiça e, posteriormente, pelo Supremo Tribunal Federal, foram denunciados como mandantes do crime o deputado federal Chiquinho Brazão, seu irmão Domingos Brazão, o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro Rivaldo Barbosa e outros dois investigados.

A denúncia contra eles foi aceita pela Primeira Turma do STF, sendo o caso relatado pelo ministro Alexandre de Moraes. Os suspeitos de envolvimento como mandantes foram presos em 24 de março de 2024.