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Eliziane diz que CPMI deveria ter ouvido Bolsonaro e Forças Armadas

Apesar das críticas da opinião pública à comissão, relatora diz que "narrativas não superam fatos e atos" e que relatório final será "bem consolidado"

Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados - 06/06/2023
Senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI do 8 de Janeiro

Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro finaliza os trabalhos no próximo dia 17 de outubro com a leitura do relatório final , assinado pela relatora e senadora Eliziane Gama (PSD-MA). Em entrevista exclusiva ao iG , a parlamentar afirmou que o documento será “bem consolidado” e apresentado com a expectativa de que as investigações “não se encerrem na CPMI”. Apesar de fazer um balanço positivo da investigação, a relatora declarou que a CPMI deveria ter ouvido Bolsonaro e representantes das Forças Armadas

“Chegamos na reta final com um balanço positivo. As informações em poder da CPMI, compostas de dados sigilosos ou não, compartilhamento de relatórios e as oitivas realizadas já nos trazem subsídios robustos e suficientes para a construção de um relatório final bem consolidado”, afirma a relatora ao iG .

“Algumas oitivas poderiam ter ocorrido, principalmente depois da imprensa trazer trechos da delação do Mauro Cid. Cito especificamente os depoimentos dos ex-comandantes das Forças que poderiam ter sido esclarecedores”, diz a relatora. Sobre o ex-presidente Bolsonaro, ela afirma que “infelizmente não se conseguiu aprovar o relatório de inteligência financeira dele”.

A comissão foi instalada no dia 25 de maio , aprovou mais de 180 requerimentos e realizou 20 oitivas. Entre os principais depoentes estão: o ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça, Anderson Torres; o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid; o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques e o hacker Walter Delgatti Neto, mais conhecido como “hacker da Vaza Jato”.

As oitivas foram finalizadas no dia 3 de outubro com o empresário Argino Bedin, suspeito de ter financiado os atos golpistas . Havia a expectativa ainda da comissão ouvir  Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa e também foi candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, mas o depoimento foi cancelado. Era esperado também o depoimento da deputada federal, Carla Zambelli (PL-SP), ligada ao hacker Walter Delgatti .

Críticas a CPMI

Nos bastidores do Congresso, existe o falatório de que a CPMI do 8 de janeiro “só gera meme” e não deve trazer resultados relevantes no que tange ao objetivo do colegiado: esclarecer e investigar os atos de ação e omissão ocorridos no dia 8 de janeiro de 2023.

Até o momento, o que se sabe é que a comissão compartilha do mesmo entendimento do Supremo Tribunal Federal — as invasões do 8 de janeiro são consideradas uma tentativa de golpe de Estado.

Em relação às críticas aos trabalhos da CPMI, Gama declara que foram quase cinco meses de investigação exercidos com “altivez”.

“É fato que algumas ações pontuais de membros e não membros do colegiado tentaram criar cortina de fumaça para tentar descredibilizar os trabalhos, mas narrativa não supera fatos e atos”, ressalta a senadora.

Investigação para além do Congresso

No dia 17 de outubro, Eliziane Gama irá apresentar o relatório final dos trabalhos do colegiado aos congressistas. Se houver pedido de vista, a leitura do documento será retomada na quarta-feira (18) e será realizada a votação para aprovação do texto.

A expectativa é que a conclusão das investigações da CPMI do 8 de janeiro não seja esquecida como aconteceu com o texto final da CPI da Covid-19, que ocorreu em 2021 e teve grande parte do relatório ignorado pelo Poder Judiciário. 

"Após eventual aprovação do nosso relatório, este documento será enviado à Procuradoria Geral da República e aos demais órgãos constituídos, no que couber, para as devidas providências. A nossa expectativa é que as investigações que iniciamos não se encerrem com a conclusão da CPMI do 8 de janeiro', afirma a relatora ao iG .