O advogado Ronaldo Alves de Andrade, ao defender o vereador cassado de São Paulo Camilo Cristófaro (Avante ), na noite de terça-feira (19), o comparou com o nazista Adolf Eichmann, responsável por levar judeus aos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.
A declaração aconteceu após a sessão que cassou o mandato de Cristófaro por quebra de decoro parlamentar após falas racistas . Dos 55 vereadores, 47 votaram pela saída do parlamentar, enquanto nenhum votou contra. Cinco parlamentares se abstiveram do voto.
Segundo o advogado, o vereador é alvo de um pré-julgamento "injusto", assim como Adolf Eichmann.
“O que aconteceu com Adolf Eichmann? Ele era um tenente-coronel da SS [Polícia do Estado da Alemanha nazista]. Terminou a guerra, Adolf Eichmann veio para a Argentina. E, na Argentina, a Mossad, polícia secreta de Israel, mandou sequestrar esse ex-oficial da SS, levando-o para julgamento em Israel, por crimes de guerra contra judeus”, disse a defesa do parlamentar.
“É evidente que o julgamento só poderia ser um, enforcamento de Adolf Eichmann. Não existiam julgadores imparciais, nenhum daqueles julgadores iriam julgar a favor de Eichmann, simplesmente porque ele estava sendo julgado por julgadores não-imparciais”, acrescentou.
Ele continuou: “Adolf Eichmann não foi julgado, foi pré-julgado. E todas as manifestações que vi até agora aqui foram de pré-julgamento [...] Os julgadores nem sabem o que estão julgando, porque não foram produzidas as peças, não foi lida a denúncia, não foi lida a defesa, não foram lidos os testemunhos, não foram lidas a doutrina sobre preconceito e sobre racismo estrutural. Como vossas excelências têm como julgar? Julgar com base em quê?”.
“Não foi dada aos senhores a oportunidade de, efetivamente, analisar a prova existente nos autos. O que se viu aqui foram manifestações contra o racismo, às quais eu adiro", finalizou o advogado.
Cassação
Durante uma sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Aplicativos em maio do ano passado, Cristófaro deixou vazar o áudio em que dizia “é coisa de preto. Na época, a comissão ouvia a ex-CEO da empresa Uber, Claudia Woods.
“Eles lavaram, mas não lavaram a calçada... é coisa de preto, né?”, afirmou enquanto participava da sessão remotamente.
Após a declaração, Cristófaro foi expulso do PSB e passou a responder pelo processo na Casa. A Corregeria da Câmara deu o parecer favorável pela cassação no último dia 24 de agosto, um ano e cinco meses depois do caso. A Câmara ainda tentou notificar o parlamentar por sete vezes, mas só conseguiu avisar seu advogado na última semana.
A cadeira do parlamentar será ocupada por Adriano Santos (PSB), primeiro suplente que já atuou na Casa durante o afastamento do vereador Elizeu Gabriel (PSB). A posse deve acontecer na próxima semana.