Associação de juízes repudia declarações de Dallagnol contra ministros

Deputado federal cassado afirmou que Benedito Gonçalves, relator da cassação do seu mandato no TSE, articulou votação por possível vaga no TSE

O deputado federal cassado e ex-procurador da República Deltan Dallagnol (Podemos-PR)
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil - 07/05/2018
O deputado federal cassado e ex-procurador da República Deltan Dallagnol (Podemos-PR)

Nesta quinta-feira (25), a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) divulgou uma nota de repúdio contra os ataques do deputado federal cassado Deltan Dallagnol (Podemos-PR) a ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O pronunciamento da Ajufe ocorre após Dallagnol afirmar na quarta-feira (24) ao jornal "Folha de S. Paulo" que o ministro Benedito Gonçalves, o relator da cassação do seu mandato no STE, havia articulado toda a situação em troca de uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).

"O ponto de partida são as duas vagas que estão abertas para serem preenchidas no STF [Supremo Tribunal Federal], ambicionadas por ministros que estavam lá [no TSE], seja para ocupá-las, seja para indicar quem as ocupasse", declarou.

Em nota, a Ajufe afirma que a declaração é um " ataque pessoal" a Benedito Gonçalves e classificou a conduta de Dallagnol como "inadmissível".

"A Ajufe reforça que são inadmissíveis ataques pessoais a magistrados no cumprimento do seu dever constitucional de julgar. A legislação brasileira dispõe dos instrumentos processuais para se questionar qualquer decisão. Lançar ofensas descabidas e fazer ilações contra os magistrados só serve para alimentar narrativas e conjecturas desprovidas de fundamentação fática e jurídica", diz a associação de advogados.

"A Ajufe não aceitará que os magistrados tenham suas prerrogativas questionadas em virtude das decisões, sempre fundamentadas tecnicamente e baseadas em seu livre convencimento na análise do processo", continua a nota.

Cassação de Dallagnol

Uma ação apresentada pela Coligação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV) e pelo PMN questionou o registro de Deltan para concorrer como deputado. Os motivos foram:

Condenação do Tribunal de Contas da União (TCU) por gastos em passagens e diárias de outros procuradores da Operação Lava-Jato.

Dallagnol teria pedido exoneração enquanto era procurador por ser alvo de 15 procedimentos administrativos que poderiam culminar em demissão, aposentadoria ou compulsória.

Para os partidos, ao tentar deixar o cargo antes do resultado dos procedimentos, ele quis burlar a Lei de Inelegibilidade e a Lei da Ficha Limpa.

Dessa forma, por unanimidade, o TSE entendeu que Deltan Dallagnol cometeu irregularidade. "O pedido de exoneração teve o propósito claro e específico de burlar a incidência da inelegibilidade", escreveu o relator do caso, ministro Benedito Gonçalves.

Segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), a vaga na Câmara será ocupada por Pastor Itamar Paim.

Leia a nota divulgada pela Ajufe na íntegra:

"A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) repudia veementemente a declaração dada à imprensa pelo deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR) sobre os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), especialmente em relação ao Corregedor Geral Eleitoral, Ministro Benedito Gonçalves.

A Ajufe reforça que são inadmissíveis ataques pessoais a magistrados no cumprimento do seu dever constitucional de julgar. A legislação brasileira dispõe dos instrumentos processuais para se questionar qualquer decisão. Lançar ofensas descabidas e fazer ilações contra os magistrados só serve para alimentar narrativas e conjecturas desprovidas de fundamentação fática e jurídica.

A Ajufe não aceitará que os magistrados tenham suas prerrogativas questionadas em virtude das decisões, sempre fundamentadas tecnicamente e baseadas em seu livre convencimento na análise do processo."

Brasília, 24 de maio de 2023.
Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe)

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