Alvo da PF disse que joias deveriam ficar no acervo da Presidência

Ao saber das joias sauditas, Marcelo da Silva Vieira disse, em ofício, que elas deveriam receber 'destino legal adequado'; Vieira é alvo de operação da PF hoje

Joias dadas pelo governo saudita
Foto: Reprodução
Joias dadas pelo governo saudita

Ex-chefe de gabinete adjunto de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal do Presidente da República, Marcelo da Silva Vieira disse em documento que as joias enviadas pelo governo da Arábia Saudita à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro deveriam ficar no acervo da Presidência.  Vieira é alvo de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal, nesta sexta-feira (12), no Rio de Janeiro.

Membro do Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência da República desde o governo de Michel Temer (MDB), Vieira foi demitido em janeiro deste ano. Ele exercia a função de analisar o que iria para o acervo privado como presente. Em novembro do ano passado, ele assinou um documento usado para conseguir a liberação das joias com a Receita Federal.

Quando o caso veio à tona, o  ex-secretário de Comunicação do governo, Fabio Wajngarten, defendeu, nas redes sociais, que o intuito do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) era conseguir a liberação das joias para encaminhá-las ao acervo presidencial.

Entre os presentes enviados pelo governo saudita por meio do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, estavam colar, brincos, anel e relógio de diamantes. As joias foram apreendidas em 26 de outubro de 2021.

Dois dias após a apreensão, o então chefe de gabinete do ministério, José Roberto Bueno Junior, enviou um ofício para Marcelo da Silva Vieira relatando que o ministro Bento Albuquerque esteve no Oriente Médio e que "foram oferecidos, por autoridades estrangeiras, alguns presentes à representação brasileira". 

Vieira,  alvo de operação nesta sexta, disse então que, já que Bento Albuquerque não poderia recusar ou devolver as joias, "se faz necessário e imprescindível que seja dado ao acervo o destino legal adequado".

O ofício foi encaminhado com algumas fotos dos eventos que Albuquerque esteve e, uma das imagens, o ministro aparece com o membro da família real saudita e então ministro da Energia do país, Abdulaziz bin Salman Al Saud. Os dois seguravam a miniatura de cavalo, que depois foi apreendida com as joias em Guarulhos.

Bueno Junior recebeu a mensagem no dia seguinte, em 29 de outubro de 2021, assinada por Marcelo Vieira. No documento, ele dizia que os presentes tinham que ser registrados em um formulário oficial e que "enquadram-se na condição de encaminhamento" ao gabinete "para análise quanto à incorporação ao acervo privado do Presidente da República ou ao acervo público da Presidência da República".

Depois disso, Bueno Junior escreveu para o chefe de gabinete do secretário especial da Receita Federal, Antonio Márcio de Oliveira Aguiar, em 3 de novembro. Ele repetiu a explicação sobre as joias e incluiu uma cópia da resposta que havia recebido de Vieira.

Em março, a Receita Federal informou que a incorporação dos itens ao patrimônio oficial "exige pedido de autoridade competente, com justificativa da necessidade e adequação da medida". "Isso não aconteceu neste caso. Não cabe incorporação de bem por interesse pessoal de quem quer que seja, apenas em caso de efetivo interesse público", afirmou o texto.

Segundo a legislação, os itens recebidos durante cerimônias de trocas de presentes, audiências com autoridades estrangeiras, visitas ou viagens oficiais devem ser declarados de interesse público e integrar o patrimônio cultural brasileiro.

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