Indígenas que habitam a terra Yanomami tiveram que lutar não só contra o vírus da Covid-19 durante no auge da pandemia, mas também com a ação de invasores em seu território. Durante a crise sanitária que assolou o mundo nos últimos anos, garimpeiros que se instalaram em terras yanomami subornaram servidores do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y) com ouro, para receber imunização contra o coronavírus no lugar dos indígenas.
As denúncias estão registradas em um ofício que fora enviado ao coordenador do DSEI-Y, ao secretário Especial de Saúde Indígena e ao Ministério Público Federal (MPF), em abril de 2021, pela Hutukara Associação Yanomami, entidade que representa os indígenas. Na época, o país vivia uma segunda de Covid-19 que conseguiu bater a maior média diária de mortes do mundo.
“Ainda em janeiro, fomos informados de que a então técnica de enfermagem do polo-base de Homoxi estaria desviando materiais do órgão, incluindo um gerador de energia e gasolina, em troca do ouro extraído ilegalmente no garimpo. Na mesma ocasião, fomos informados de que a funcionária do DSEI-Y estaria aplicando vacinas nos garimpeiros, igualmente em troca de ouro”, alertou a associação.
De acordo com o relato da Segundo o relato da associação, isso também ocorria em outra base, no Uxiu, mas, ao invés da vacina, a funcionária do distrito sanitário teria desviado medicamentos aos garimpeiros que haviam se instalado no local. Na época em que o pedido de ajuda foi protocolado, o chefe do ministério da Saúde era o médico Marcelo Queiroga.
“É comum a queixa por parte dos Yanomamis de que os materiais e medicamentos destinados à saúde indígena estão sendo desviados para atendimento aos garimpeiros”, diz ainda o documento, assinado pelo vice-presidente da Hutukara, Dário Kopenawa, filho do líder Davi Kopenawa. Nele também pe informado que, em julho de 2020, foi enviado um relato parecido ao DSEI-Y e à Secretaria de Saúde Indígena, informando acordos dos desvios de medicamentos.
Equipe médica barrada pela Funai
Após isso, sete meses depois a associação Yanomami enviou outro ofício à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e ao MPF. No documento, havia uma revolta, pelo fato de que o órgão que, em tese, era para proteger os povos originários estaria impedindo a entrada de uma equipe médica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na terra Yanomami. Na época, os agentes de saúde foram chamados pelos próprios indígenas, que estavam sofrendo por doenças decorrentes das ações do garimpo ilegal.
“Nossa floresta está invadida por mais de 20 mil garimpeiros, e nós estamos preocupados com a saúde de nossa população. O rio Mucajaí, onde seria realizado o diagnóstico, é pura lama, e dele nós não podemos beber água e nem tirar peixe para nosso alimento. Acreditamos que tanto as crianças como os adultos possam estar contaminados por mercúrio e desenvolvendo doenças perigosas”, diz a associação.
Ainda no documento, a associação sobe o tom: “Hoje ficamos sabendo que a Funai de Brasília negou a autorização de ingresso na Terra Indígena Yanomami para a equipe da Fiocruz. Ficamos revoltados. Por que a Funai proíbe que médicos visitem as nossas comunidades? Por que a Funai não retira os garimpeiros? Será que a Funai quer que os Yanomamis morram para dar nossa floresta aos garimpeiros?”, indagam.
Depois do envio do ofício, a justificativa dada aos indígenas foi que a visita da equipe médica foi impedida, justamente, por conta da pandemia da Covid-19. No texto, os Yanomamis argumentam que aquela altura todos já estariam vacinados, assim como a própria equipe médica, e que, naquele momento, sofriam de outras doenças que não a causada pelo coronavírus.
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