Yanomamis: líder diz que pediu retirada dos garimpeiros a Mourão

Os Yanomamis vivem uma crise humanitária na reserva, que resultou em mortes e má condição de vida de vários indígenas

Dária Kopenawa
Foto: Reprodução: TV Globo - 24/01/2023
Dária Kopenawa

O vice-presidente da Associação Hutukara que representa o povo Yanomami , Dário Kopenawa Yanomami , revelou que pediu retirada de  garimpeiros das terras indígenas a Hamilton Mourão (Republicanos) , vice-presidente do Brasil nos últimos quatro anos, porém, "não aconteceu nada".

Kopenawa afirmou, em entrevista ao Jornal da Globo na madrugada desta terça-feira (24), que conversou com Mourão sobre as invasões de garimpeiros , mas nenhuma providência foi tomada.

"Eu conversei pessoalmente com o vice-presidente Hamilton Mourão para tomar as providências mais urgentes e retirar os garimpeiros da Terra Indígena Yanomami. Não aconteceu nada e não foram tomadas as providências do que eu pedi na presença do vice-presidente Mourão", explica o vice da associação.

O garimpo nas terras indígenas aumentou nos últimos anos, devido à pandemia, alerta Kobenawa. Em maio de 2022, um caso de invasão na comunidade resultou na denúncia de um estupro e na morte de uma adolescente, e no desaparecimento de vários indígenas.  O caso, conhecido como "Cadê os Yanomamis?", mobilizou a internet em busca dos desaparecidos".

"Mais doença, mais violência e mais mortes. E o cenário do garimpo ilegal também piorou a duras consequências da pandemia do coronavírus, que também agravou bastante", diz Dário sobre o garimpo em situação de pandemia.

Crise humanitária

Uma crise sanitária na reserva Yanomami motivou o M inistério da Saúde a declarar, na última sexta-feira (20), Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional. 

Motivado por denúncias de que a atividade ilegal de garimpeiros está contaminando os rios que abastecem as comunidades locais , destruindo a floresta e afetando as condições de sobrevivência das populações, o governo federal enviou para a Terra Indígena Yanomami, no início da semana passada, técnicos do Ministério da Saúde que encontraram crianças e idosos desnutridos, muitos pesando menos que o mínimo recomendável.

Há também pessoas com malária, infecção respiratória aguda e outras doenças, sem receber qualquer tipo de assistência médica.

Segundo Kopenawa, as terras Yanomamis necessitam, com urgência, "de mais técnicos de enfermagem, enfermeiros, nutricionistas e medicamentos", disse ao Jornal da Globo.

Omissão do Estado

A Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do Ministério Público Federal (6CCR/MPF) emitiu um comunicado na segunda-feira (23) onde afirmou que a crise humanitária que atinge os Yanomami é resultado da omissão do Estado brasileiro.

O documento faz menção a uma série de iniciativas do MPF que tinham o objetivo de emitir alertas e cobrar autoridades em relação  à expansão do garimpo ilegal no território Yanomami em Roraima. 

A nota pública ressalta também que o Ministério Público seguirá atuando para coibir atividades ilegais de garimpo e retirar invasores na reserva.

"No entendimento do Ministério Público Federal, a grave situação de saúde e segurança alimentar sofrida pelo povo Yanomami, entre outros, resulta da omissão do Estado brasileiro em assegurar a proteção de suas terras. Com efeito, nos últimos anos verificou-se o crescimento alarmante do número de garimpeiros dentro da TI Yanomami, estimado em mais de 20 mil pela Hutukara Associação Yanomami", pontuou a instituição.

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