‘Cadê os Yanomami?’: mobilização na internet cobra autoridades do país

O sumiço da comunidade gerou uma manifestação na web e ficou nos trending topics do Twitter; veja o que se sabe sobre o caso

Cadê os Yanomami?
Foto: Divulgação: Arte criada por Cris Vector
Cadê os Yanomami?

CADÊ OS YANOMAMI? ” é um dos temas mais comentados nesta semana nas redes sociais. Na terça-feira (03/05), o assunto chegou aos trending topics do Twitter. A questão se refere ao caso da invasão de uma comunidade indígena Yanomami, realizada por garimpeiros, que resultou na denúncia de um estupro e na morte de uma adolescente . Após o episódio, as casas da comunidade foram queimadas e os indígenas desapareceram.

A notícia da menina de 12 anos que foi violentada veio à público na noite de 25 de abril, através de uma denúncia feita pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), Júnior Hekurari Yanomami. Três dias depois a Polícia Federal foi até a comunidade Aracaçá, onde a criança morava, e encontrou a aldeia vazia e casas queimadas.

O desaparecimento dessa comunidade gerou revolta. O assunto repercutiu em todo o país e têm mobilizado lideranças indígenas, organizações, políticos, artistas e influencers em busca de respostas.

Nomes como Anitta, Iza, MTST e Marcelo Freixo se mobilizaram.


Os integrantes da comunidade Aracaçá pertencem ao subgrupo dos Yanomami Sanöma, que faziam serviços para os garimpeiros em troca de comida. Por isso, a aldeia corria o risco de desaparecer como indica o relatório "Yanomami sob ataque", da Hutukara Associação Yanomami (HAY).

O que diz a denúncia?

Foto: Thiago Domenici
“A 12 km”: indígenas Yanomami isolados nunca viram o garimpo tão próximo

Segundo a publicação do Condisi-YY nas redes sociais, a informação foi recebida por ele via rádio de pessoas da região. Na manhã do dia seguinte (26/04), Júnior Hekurari Yanomami comunicou o Ministério Público Federal, Funai e Polícia Federal.

A menina morava na comunidade Aracaçá, região de Waikás, onde há forte presença de garimpeiros e registrou o maior avanço de exploração ilegal, de acordo com o relatório da Hutukara Associação Yanomami.

Em Aracaçá, viviam cerca de 30 indígenas e é um local de difícil acesso, que levacerca de 1h15 de voo saindo de Boa Vista até Waikás. Para chegar até a comunidade, são mais 30 minutos de helicóptero ou cinco horas de barco pelo rio Uraricoera.

Como aconteceu o desaparecimento da comunidade?

Foto: Divulgação - 05/05/2022
Casa de Yanomami queimada

Dois dias após o relato divulgado por Júnior, uma comitiva com representantes desses órgãos e também da Funai foi até Waikás e Aracaçá.

Em nota conjunta divulgada na tarde de quinta (28), quando retornaram, eles afirmaram não ter encontrado nenhum vestígio de crime de homicídio e estupro. 

No entanto, informaram que as apurações seguem, "diligências demonstraram a necessidade de aprofundamento da investigação, para melhor esclarecimento dos fatos.", diz trecho do comunicado.

Na ida à região, o grupo foi para dois locais: Waikás e Aracaçá, que ficam próximos.

Hekurari, que também estava na comitiva, relatou que, em Waikás, o helicóptero que os levava pousou em um espaço usado por garimpeiros. Lá, encontraram seis indígenas que não quiseram falar muito sobre o caso. O grupo suspeitou de ameaça por parte dos garimpeiros.

No outro dia, já em Aracaçá, as equipes não encontraram indígenas, mas se depararam com algumas casas queimadas. Além disso, não havia uma pessoa na comunidade. 

Antes da chegada da PF na região, circularam vídeos nas redes sociais que mostram um garimpeiro não identificado questionando indígenas da comunidade sobre a veracidade das denúncias divulgadas pelo Condisi-YY.

Ainda, enquanto a PF investigava a região, um representante dos garimpeiros divulgou um áudio falando que a "paciência acabou" e que "vão responder igual" acerca de denúncias contra eles.

Sobre as casas queimadas, ainda não se sabe quem foi o responsável. Há a suspeita de que possam ter sido garimpeiros. Contudo, segundo uma nota do presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami, é costume, "após a morte de um ente querido", a comunidade onde ele vivia ser queimada e todos irem para outro local.

Investigação

Foto: Condisi-YY/Divulgação
Agentes da PF e servidores estiveram na Terra Yanomami

No dia 28 de abril, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), cobrou a investigação e o esclarecimento das circunstâncias da denúncia sobre a morte da menina yanomani. Além dela, o  presidente o STF, Luiz Fux, classificou o caso como "gravíssimo".

Ademais, a Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federa l aprovou a realização de uma diligência externa em Roraima na última segunda-feira (02), para acompanhar as medidas de combate ao avanço do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. A previsão é que a visita ocorra no próximo dia 12.

Nesta quinta-feira (05),  a Câmara também aprovou a criação de uma comissão externa de deputados para averiguar a situação de crianças, adolescentes e mulheres da comunidade Aracaçá. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), será responsável por formalizar a indicação dos membros.

Procurados pelo iG, a Funai e Júnior Hekurari Yanomami não se pronunciaram sobre novas informações sobre o caso.


** Leticia Martins é estudante de jornalismo na Faculdade Cásper Líbero. É estagiária de Último Segundo, com foco em Hard News. Tem experiência em assessoria de imprensa, é fascinada em política e causas sociais. Certificada em missões urbanas, trabalha como voluntária em ONG´s que auxiliam refugiados no Brasil.