O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) , candidato à presidência da República, defendeu nesta quarta-feira as Forças Armadas , quando questionado se acredita que elas podem embarcar numa tentativa de ruptura democrática de Jair Bolsonaro (PL), e as classificou como "mais responsáveis" que o presidente. A declaração foi feita durante sabatina ao site UOL .
Lula disse não ter tido problemas com os militares durante os seus governos, entre 2003 e 2010, e se colocou a favor de nomear um civil para o Ministério da Defesa — tradição iniciada na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e quebrada com Michel Temer (MDB). Para ele, "as bobagens que o Bolsonaro fala não têm apoio do Alto Comando".
"Os militares são mais responsáveis que o Bolsonaro. Eu convivi com os militares e posso dizer que não tenho queixa do comportamento das Forças Armadas. Eles nunca me criaram um único problema, me ajudaram no que era possível ajudar", declarou.
Bolsonaro, se "começar a brincar com a democracia", vai pagar um "preço muito caro", diz Lula. Em seguida, defendeu a revogação dos decretos que impuseram sigilo de 100 anos sobre informações sensíveis ao governo, ao presidente e a seus filhos.
Perguntado sobre o que acha da conduta do ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio — que tem endossado a ofensiva de Bolsonaro sobre o processo eleitoral —, o petista tentou tergiversar do assunto e, pressionado, disse que o ministro não deveria estar preocupado com urna eletrônica.
"Urna é uma questão da sociedade civil, do Congresso Nacional, dos partidos e da Justiça Eleitoral. Não é possível que, com a quantidade de responsabilidade que nós temos que ter, com o tráfico de armas e drogas na nossa fronteira, a gente tenha um ministro da Defesa preocupado com urna eletrônica. Está errado", disse o ex-presidente.
Ele criticou a apropriação dos símbolos nacionais e da camisa da seleção brasileira de futebol por bolsonaristas. As cores verde e amarelo, diz ele, deveriam ser do povo, e não de determinado grupo político.
Vitória no primeiro turno
Lula disse querer vencer a eleição no primeiro turno para "encurtar os gastos da campanha" e ter mais tempo para organizar o eventual governo. O primeiro dia de votação será em 2 de outubro, e o segundo, caso nenhum candidato tenha mais de 50% dos votos, está marcado para o dia 28. Questionado se prefere liquidar a corrida presidencial o quanto antes por temer alguma iniciativa de ruptura de Bolsonaro, o ex-presidente sinalizou que se preocupa com os "milicianos" que apoiam o adversário.
"(Vencer no primeiro turno) Encurta o gasto da campanha, ganha um mês para planejar o governo. E no caso desse miliciano que está aí, você nunca sabe o que eles vão fazer", afirmou.
O ex-presidente também foi cobrado se pretende participar de debates eleitorais . Segundo ele, sua campanha propôs aos veículos de imprensa que fossem feitos três debates para um "pool" de jornalistas de diferentes empresas, "para podermos viajar o Brasil e não ficar refém de uma infinidade de debates". Ele afirmou que vai em debate com qualquer pessoa, mas que pode não ter a oportunidade de debater com Bolsonaro se o presidente só quiser debate no segundo turno:
"Ele (Bolsonaro) está pensando “só vou em debate em segundo turno”. Se puder, lembra ele que pode não ter segundo turno. A eleição pode se resolver no primeiro turno."
Reeleição em 2026
Lula negou que queira tentar se reeleger em 2026, caso seja eleito neste ano. Mas defendeu a possibilidade de um segundo mandato seguido, aprovado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
"Em 4 anos você não tem muito tempo de fazer muita coisa. Se você quiser fazer um projeto de infraestrutura, entre pensar, planejar e aprovar o projeto, terminou o seu mandato. Então eu acho justo ter direito (à reeleição)."
Um eventual quarto mandato encontraria dificuldades até mesmo pela idade avançada de Lula. Hoje com 76 anos, se vencer a corrida presidencial, ele assumiria o Palácio do Planalto com 77 anos. Considerando a hipótese de se reeleger em 2026, poderia deixar a Presidência com 85 anos.
O presidente mais idoso da história do Brasil é Michel Temer, que assumiu aos 77 anos, em 2016. Tancredo Neves seria o segundo com mais idade, caso tomasse posse, enquanto Fernando Collor foi o mais novo na Presidência. Aos 68 anos, Getúlio Vargas disse, após ser eleito, que "estava velho".
Entre no canal do Último Segundo no Telegram e veja as principais notícias do dia no Brasil e no Mundo. Siga também o perfil geral do Portal iG.