Após má repercussão dos ataques ao TSE, Bolsonaro foca na gasolina

Comitê realizou encontro para medir reflexos das declarações do presidente ao sistema eleitoral em evento com embaixadores

Bolsonaro durante reunião com embaixadores
Foto: Reprodução - 19/07/2022
Bolsonaro durante reunião com embaixadores

Um dia após o presidente Jair Bolsonaro reunir embaixadores para levantar suspeitas sobre o sistema eleitoral sem apresentar provas , o núcleo político que trabalha pela reeleição do atual titular do Palácio do Planalto tratar o assunto como "página virada", nas palavras de um integrante do grupo.

A ordem agora é aproveitar o anúncio de redução do preço da gasolina para virar a pauta negativa e embalar a convenção do PL que acontece no próximo domingo, no Rio.

Bolsonaro se reuniu com cerca de 70 embaixadores e outros representantes diplomáticos no Palácio Alvorada ontem à tarde e reiterou os ataques às urnas eletrônicas e aos magistrados dos tribunais superiores. A nova investida gerou reações duras por parte dos presidentes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin, do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e presidenciáveis.

A péssima repercussão do evento foi discutida hoje em reunião do comitê de campanha. Segundo pessoas presentes à conversa desta terça, a ordem é evitar declarações sobre o caso, sobretudo críticas ao presidente, para tentar baixar a temperatura do assunto. Aliados do presidente têm tentado convencê-lo de que o assunto não atrai votos à reeleição, sem sucesso.

Participaram da reunião o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), coordenador da campanha; o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil) e Fabio Faria (Comunicações), além do ex-ministro da Defesa, Walter Braga Netto. A conversa teve a participação também da equipe da comunicação da campanha: o coordenador Fabio Wajngarten, o marqueteiro do PL, Duda Lima, e o publicitário Sergio Lima.

O encontro de Bolsonaro com diplomatas, como mostrou O GLOBO, foi considerado "desastroso" por integrantes do núcleo duro do titular do Palácio do Palácio do Planalto. Integrantes da campanha concordaram que não adianta mais confrontar o presidente sobre os ataques às urnas eletrônicas, mas tentar neutralizar os efeitos do discurso dele com os principais temas campanha.

A ideia é que Bolsonaro, ao cumprir a agenda de candidato, se concentre em bater na tecla do "pacote de bondades" que o governo foi autorizado a oferecer com a promulgação na semana passada da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Eleitoral.

A proposta dribla a lei eleitoral e regras fiscais para permitir a distribuição de benesses a quatro meses do pleito. Ela permitiu o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600 e do Vale-Gás para 120, além de criar benefícios para caminhoneiros e taxistas.

Outra estratégia definida durante a reunião passa por Bolsonaro reforçar o anúncio de redução do preço médio de venda de gasolina para as distribuidoras, feito pela Petrobras. Passará de R$ 4,06 para R$ 3,86 por litro, uma redução de R$ 0,20 por litro ou de 4,9%.

Horas antes de a anunciar a alteração que vai impactar nas bombas no curto prazo, o presidente afirmou que a empresa ia "achar seu rumo" e que ia "começar a dar boa notícia".

"Os caminhoneiros sofreram com aumento no combustível, foi no mundo todo. Acho que a Petrobras vai achar seu rumo agora, (com um) novo presidente. Vai começar a dar boa notícia para a gente", disse Bolsonaro a apoiadores, no Palácio da Alvorada.

Efeito Moraes

Já os membros do núcleo jurídico da campanha reconhecem o que classificaram como "exageros" no discurso de Bolsonaro. Na avaliação deles, porém, embora a reunião com embaixadores já estivesse agendada desde a semana passada, a decisão do  ministro do TSE Alexandre de Moraes que obrigou bolsonaristas do presidente a retirarem do ar publicações que continham informações falsas sobre o pré-candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inflou ainda mais os ânimos de Bolsonaro.

O despacho de Moraes ocorreu no domingo e foi divulgado na segunda-feira, horas antes da reunião com embaixadores.

Para os aliados, a decisão não poderia ter sido tomada porque Moraes não é o responsável por analisar as ações envolvendo propaganda antecipada. O ministro, que é vice-presidente do TSE e atua interinamente como presidente, tomou a decisão no plantão do tribunal, porque os juízes responsáveis estão de férias.

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