A PCPR (Polícia Civil do Paraná) concluiu que não houve motivação política no assassinato do tesoureiro petista Marcelo Arruda , que comemorava seu aniversário em Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, no fim da noite de sábado (9). Em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (15), a delegada que assumiu o caso, Camila Cecconello, anunciou que Jorge Guaranho foi indiciado por homicídio duplamente qualificado, por motivo torpe e causar perigo comum.
Nas redes sociais, políticos de esquerda e de direita, como a deputada federal Joice Hasselman, do PSDB (Partido Social da Democracia Brasileira), criticaram a conclusão do inquérito.
Segundo o advogado Tauat Augusto Resende, especializado em Sociologia Jurídica, a conclusão do inquérito policial, de fato, não condiz com a narrativa do crime. Para ele, a sequência dos fatos que culminaram na morte de Arruda não deixam dúvida. "O crime se trata, sim, de um homicídio motivado por divergência política".
De acordo com as investigações, Guaranho estava em um churrasco, ingerindo bebidas alcoólicas, quando tomou conhecimento da festa de Arruda. Uma testemunha presente no churrasco tinha acesso às câmeras de segurança do clube onde estava o petista, e as imagens foram vistas pelo autor dos disparos.
Guaranho, então, perguntou onde estava acontecendo a festa e se dirigiu até lá com a mulher e a filha. Testemunhas relataram que ele chegou ouvindo uma música relacionada ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Na sequência, Arruda saiu da festa e ambos iniciaram uma discussão política.
O petista teria pegado um punhado de terra e jogado contra o carro, o que deixou Guaranho irritado e o levou a sacar uma arma. Sua esposa começou a chorar e ele foi embora, mas retornou vinte minutos depois. Aos gritos de "Aqui é Bolsonaro!", ele atirou duas vezes contra Arruda, que revidou e o baleou em legítima defesa.
"Toda a narrativa dos fatos demonstra que houve motivação política, porque é a política o estopim dessa briga. O nexo causal, que, juridicamente, é o que importa para o direito penal, é que a conduta nasce de uma divergência política. Se fosse um aniversário com qualquer outro tema que senão o PT, ou o ex-presidente Lula, essa briga não teria acontecido", afirma Resende.
Durante a investigação, a polícia ouviu mais de dez testemunhas, mas deu o maior peso para o depoimento da esposa de Guaranho para a conclusão do inquérito. A mulher alega, entre outras coisas, que o acontecimento "não tem nada a ver com política" e que foi uma "fatalidade" provocada por um "momento de bobeira". Diz, ainda, que apesar de apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), o marido nunca participou de nenhuma carreata ou passeata.
"Ele gostava de acompanhar política nas redes sociais, mas não era fanático a ponto de fazer qualquer loucura", afirmou.
O advogado explica que, passada a fase inquisitorial, o caso ficará a cargo do MP (Ministério Público), que poderá acatar a conclusão da polícia ou seguir adiante com as investigações. O parecer da polícia tem um impacto jurídico, uma vez que pode refletir no entendimento do MP e resultar em uma pena menor para o acusado. Mas, para ele, não se trata somente disso. Há de se levar em conta também o aspecto político e simbólico que isso representa.
"Cheguei a ouvir de algumas pessoas que a delegada, ao dizer que não houve motivação política, estaria dando aval para que outras pessoas cometam crimes semelhantes. Não acho que este seja o caso, até porque ela entendeu que se trata de um homicídio qualificado por motivo torpe. Mas, é preciso ter muita cautela, sobretudo devido à proporção que esse crime tomou. Estamos em ano eleitoral e, como se sabe, os ânimos estão bastante exaltados nos últimos tempos. O assassinato de Marcelo é a prova disso", disse.
Veja a seguir líderes políticos que repercutiram a conclusão da polícia sobre o caso:
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