Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação, foi preso nesta quarta-feira (22)
Agência O Globo
Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação, foi preso nesta quarta-feira (22)

A prisão do ex-ministro da educação Milton Ribeiro, na última quarta-feira, 22 , pode macular a imagem anticorrupção que o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta emplacar sobre o seu governo. Essa é avaliação dos especialistas consultados pelo iG sobre os reflexos que os fatos recentes podem ter na campanha que visa a reeleição.

"O pedido de prisão do Milton tem um impacto enorme na narrativa de Bolsonaro, sobretudo nos núcleos de apoiadores, de que ele tem um governo que combateu a corrupção. Esse fato derruba, ou pelo menos macula, a narrativa e pode ter impacto direto na opinião pública quanto a performance do governo. Obviamente, para os eleitores convertidos, os fatos não têm potencial grande de mudança de voto, mas pode ter impacto entre os indecisos, que têm se colocado em posição de indefinição em relação aos candidatos [à presidência]", avalia Cláudio André, cientista político e professor da Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB).

Para ele, as pesquisas dos próximos dias serão um bom termômetro para entender como que os eleitores que ainda estão indecisos veem a situação. A opinião é compartilhada por Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper.

"Até então, a gente tinha denúncias, mas elas eram pouco palpáveis, de difícil entendimento, ou se referiam a casos ligados ao presidente, a parentes, mas que não diziam respeito diretamente a administração. Agora nós temos um problema grave, contundente, de fácil assimilação. É corrupção, de fato. Desvio de dinheiro dentro do governo Bolsonaro em si", avalia.

"Esse fato do patrimônio ético do governo, na narrativa de que seria ético, diferente, sobretudo as administrações petistas, as quais o Bolsonaro se opõe diretamente, cai por terra, e eu acho que ele tem uma dificuldade maior de levar isso às eleições, dizendo que isso seria um diferencial diante dos outros candidatos".

Pelos primeiros sinais dados pelo presidente, Consentino acredita que a estratégia vai se basear no descolamento imediato da imagem de Bolsonaro à de Milton Ribeiro, mesmo tendo dito que colocaria "a cara no fogo" pelo ex-ministro.

"Para o governo é uma situação extremamente delicada. Vão ter que de alguma forma esgrimir a narrativa, como já tem feito, como o presidente já fez, dizendo que é algo que ele desconhecia, que não tinha controle, que ele não consegue controlar a máquina como um todo e que não tem a ver com ele. É uma narrativa complicada, sobretudo pelo apoio enfático que ele deu no passado, acho que fica mais difícil levar adiante."

Ele afirma que a postura cautelosa de grande parte dos parlamentares na data da prisão se justifica pelo desconhecimento sobe quais rumos uma eventual investigação pode acabar, como aconteceu na época da Operação Lava Jato.

"Estamos em ano eleitoral, então todo cuidado é pouco, sair de alguma forma dando declarações sem esperar a poeira abaixar, compreender o cenário, favorecendo o seu adversário, de repente, é sempre mais importante manter a cautela e ver como as peças se movimentam no tabuleiro. Mas tem outras coisas, um outro fator importante para se destacar, é que investigações de corrupção como essas, sabemos como começam, mas não sabemos como terminam", diz.

"Pode ser que esses adversários estejam cautelosos porque não sabem se o escândalo que vai ser apurado acaba respingando sobre eles. Investigando a questão do MEC, de repente tem um contrato suspeito de outras administrações, de governos passados. A ideia é tomar pé e ver até onde vai essa investigação, para entender em quem respinga e qual as posições no tabuleiro eleitoral com relação a isso."

'Cortina de fumaça'

Ainda analisando as estratégias do presidente diante do revés contra um ex-aliado, Consentino acredita que os brasileiros podem se preparar para eventuais 'cortinas de fumaça' lançadas em uma tentativa de desviar o foco da discussão.

"O presidente é imprevisível, mas nesses quatro anos já é possível perceber que quando algum problema atinge o governo de forma muito próxima, a primeira coisa que ele faz é criar uma 'cortina de fumaça' para se desvencilhar do escândalo. Pode ser que a gente veja algum novo capítulo de uma pauta de costumes, alguma coisa tirada do colete para chamar atenção e tirar o foco das investigações e do que pode incomodar."

** Filha da periferia que nasceu para contar histórias. Denise Bonfim é jornalista e apaixonada por futebol. No iG, escreve sobre saúde, política e cotidiano.

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