O escândalo de corrupção no Ministério da Educação (MEC) que envolve o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e levou à sua prisão na última quarta-feira teve início com suspeitas relacionadas à atuação de pastores dentro da pasta.
Desde a posse de Ribeiro, em junho de 2020, os religiosos Gilmar Santos e Arilton Moura levaram dezenas de prefeitos para reuniões e, segundo acusações, cobravam valores entre R$ 15 mil a R$ 40 mil e até mesmo a compra de Bíblias para facilitar o repasse de verbas públicas para esses municípios.
O Ministério Público Federal (MPF) apontou que houve indícios de vazamento da operação da Polícia Federal contra o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e "possível interferência ilícita por parte do presidente da República Jair Bolsonaro nas investigações".
A partir disso, o MPF solicitou o envio do caso ao Supremo Tribunal Federal (STF). O indício de vazamento foi encontrado nas interceptações telefônicas do ex-ministro e apontado pela Polícia Federal. A informação foi antecipada pelo site "Metrópoles" e confirmada pelo GLOBO.
QUEM É QUEM
Milton Ribeiro - Pastor na Igreja Presbiteriana, teólogo e advogado com doutorado em educação, foi o quarto ministro da Educação do governo Bolsonaro. Ficou no cargo de junho de 2020 a março de 2022, período em que recebeu dezenas de prefeitos levados ao ministério pelos pastores lobistas.
Gilmar Santos - Protagonista no lobby dentro do MEC, se apresenta como uma das principais lideranças da Assembleia de Deus do país. Diz que há 40 anos prega o evangelho e divulga suas aulas de teologia. É fundador da Igreja Assembleia de Deus Ministério Cristo para Todos e presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil Cristo Para Todos.
Arilton Moura - Braço direito de Gilmar Santos nas agendas do MEC, é apontado por prefeitos como o principal nome na cobrança de vantagens indevidas. Ele também é assessor de assuntos políticos da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil.
Luciano Musse - Ex-gerente de projetos da Secretaria Executiva do MEC é apontado como interlocutor dos pastores dentro do MEC. Foi exonerado assim que Victor Godoy assumiu no lugar de Ribeiro.
Helder Bartolomeu - O ex-assessor da Secretaria de Planejamento Urbano da prefeitura de Goiânia também era ligado aos pastores e chegou a participar de evento sobre liberação de recursos do MEC a pedido de Arilton.
O escândalo
O escândalo atingiu um dos ministérios mais importantes da Esplanada, com um orçamento de R$ 159 bilhões apenas neste ano. Mas também chegou ao Palácio do Planalto: em uma conversa gravada, o ministro da Educação afirma que a prioridade dada a atender os pedidos de Gilmar e Arilton seria um pedido especial do presidente Jair Bolsonaro.
Em uma transmissão ao vivo pelas redes sociais na época em que o escândalo foi divulgado, Bolsonaro chegou a defender Ribeiro: “Eu boto a minha cara no fogo pelo Milton”.
Quatro dias depois da declaração, no entanto, Milton deixou o governo em meio a pressão da bancada evangélica, que temia prejuízos eleitorais com o episódio, e da abertura de investigações pela Polícia Federal e pelo Ministério Público sobre o caso.
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