Os pastores evangélicos Gilmar Santos e Arilton Moura estão no centro da crise envolvendo o Ministério da Educação (MEC) e foram alvo de mandados de prisão e busca e apreensão da Polícia Federal na manhã desta quarta-feira (22) . A operação também prendeu o ex-chefe da pasta, Milton Ribeiro, por suspeitas de crimes na liberação de recursos do ministério para prefeituras.
Moura é braço direito de Santos e assessor de assuntos políticos da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, presidida por Gilmar Santos — que também é líder do Ministério Cristo para Todos, um ramo da Assembleia de Deus com sede em Goiânia (GO).
Os pastores se aproximaram do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) antes de Ribeiro assumir a chefia da Educação. O deputado João Campos (Republicanos-GO), pastor da Assembleia de Deus Ministério Vila Nova, teria feito essa abertura para eles ao Planalto.
Em 2019, ambos foram recebidos por Bolsonaro duas vezes e, em uma delas, apareceram ao lado do general Luiz Eduardo Ramos, então ministro da Secretaria de Governo.
Arilton Moura já ocupou diferentes cargos públicos. Em 2018, foi secretário extraordinário para Integração de Ações Comunitárias no governo Simão Jatene, no Pará. Além disso, Moura também foi presidente estadual do Podemos (antigo PHS).
Redes sociais
Nas redes sociais, Gilmar Santos acumula mais de 159 mil seguidores e publica fotos e vídeos com frequência em seu perfil do Instagram , geralmente fazendo transmissões de pregações na igreja.
Na última publicação feita no perfil, Santos aparece em um vídeo lendo um trecho da Bíblia.
Arilton, por outro lado, tem o perfil fechado nas redes e um perfil com poucos seguidores.
Segundo dados do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) divulgados em abril deste ano, o pastor esteve 35 vezes no Palácio do Planalto desde o início do governo Bolsonaro, enquanto Gilmar Santos esteve outras 10 vezes no mesmo período.
Arilton esteve pela primeira vez no Planalto ainda no primeiro mês de governo, em 16 de janeiro de 2019, com destino ao GSI, cujo titular é o ministro Augusto Heleno. Gilmar, por sua vez, foi à Presidência pela primeira em 21 de fevereiro de 2019, para visitar a Casa Civil, na época comandada por Onyx Lorenzoni.
Escândalo no MEC
A atuação de dois pastores dentro do MEC nos últimos dois anos expôs um suposto esquema de tráfico de influência dentro da pasta. Desde a posse de Milton Ribeiro, em junho de 2020 , os religiosos Gilmar Santos e Arilton Moura levaram dezenas de prefeitos para reuniões e, segundo acusações, cobravam propina para facilitar o repasse de verbas para esses municípios.
O escândalo atingiu um dos ministérios mais importantes da Esplanada, com um orçamento de R$ 159 bilhões neste ano. Mas também chegou ao Palácio do Planalto: em um áudio vazado, o ex-ministro da Educação afirmou que a prioridade dada a Gilmar e Arilton seria um pedido especial do presidente Jair Bolsonaro.
Em uma transmissão ao vivo pelas redes sociais na época em que o escândalo foi divulgado, o mandatário chegou a defender Ribeiro: "Eu boto a minha cara no fogo pelo Milton" .
Quatro dias depois da declaração, no entanto, Milton deixou o governo em meio a pressão da bancada evangélica .
Hoje, após a prisão de Ribeiro, Bolsonaro recuou e afirmou que "a PF está agindo" . Durante entrevista à rádio Itatiaia , o presidente ainda aproveitou a oportunidade para dizer que a prisão prova que ele [Bolsonaro] não interfere na Polícia Federal. "Vai botar a culpa em mim? (...) Se fez algo que responda pelos seus atos", disse na ocasião.
"Em cada ministério, nós temos compliance , então é corrupção zero no nosso governo. A questão é que ele estaria de conversa meio informal de pessoas de confiança dele", acrescentou Bolsonaro.
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